CAPÍTULO 39

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Isaac desligou o telefone e suspirou. Rebbeca soltou um chiado tão agudo que o fez tapar os ouvidos.
"Mas que porra! Cala a merda da boca, Beck!" Ela rosnou, seus olhos chispando ódio.
"Bernie!" Ela exigiu.
"Bernie está dormindo, Beck. Por favor, se acalme!" Ela chiou ainda mais alto.
Bernie, é claro, não estava dormindo, ele chorava convulsivamente no colo de Josh.
E Vengeance falava no pai dele! Como se fosse fácil! Isaac queria sair daquela casa de merda, ele queria, mas não era assim tão simples. Ele odiava os Novas Espécies exatamente pela simplicidade que encaravam as coisas! A vida era uma merda e nada era simples. Ponto.
Josh entrou no quarto com Bernie agarrado a sua orelha, o sangue fazendo uma trilha de pingos vermelhos no chão.
"Papai, me ajuda!" Isaac correu para tentar soltar a orelha, ou o máximo da orelha que pudesse salvar, dos dentinhos letais de Bernie, tudo isso ao som de Rebbeca chiando cada vez mais alto.
"Bernie, solta!" Não adiantava.
"Bernie, veja a mamãe vai te dar do leitinho dela, solte, Bernie!" Ele soltou, Isaac não teve jeito a não ser dá-lo para Rebbeca, ela sorriu, esticou o peito e Isaac aproximou Bernie dela.
O bebezinho feroz agarrou um tufo de cabelo em cada mão e logo mamava pendurado nos cabelos de Rebbeca. Ela sorriu agradecida, com os olhos cheios de lágrimas. Isaac, é claro, desviou o olhar. Vê-la amarrada pelas mãos e pernas era de cortar o coração.
A orelha de Josh faltava um pedaço, mas o sangramento parou.
"E o Fred?" Isaac perguntou.
"Dormindo." Josh o olhou, seus olhos fazendo a pergunta que Missy entrou no quarto e fez:
"Por que não vamos embora, papai?" Ela segurava Fred em seus braços, bracinhos gorduchos cheios de arranhões. Enquanto Bernie usava os dentinhos, Fred usava as unhas. Isaac suspirou.
"Por que morreremos se formos. Eu já expliquei pra vocês." Rebbeca o olhou e acenou.
"Você tem de colaborar, Beck." Ela fechou a cara e fez que não.
"Vão. Se arrumem bem, eu quero a minha princesinha bem linda, ouviu Missy? Josh a ajude." Eles saíram depois de Missy colocar Fred no berço. Fred ainda era menos selvagem que Bernie que só aceitava leite de peito. Rebbeca começou a balbuciar uma canção, Bernie afastou a boca de seu peito e sorriu para ela, ela sorriu de volta. Isaac sentiu um desamparo tomar conta dele, tudo agora estava nas mãos dos clones.
Os olhos de Rebbeca foram mudando, ele suspirou, Samantha não gostaria nada daquilo. Ele aproveitou os poucos minutos que tinha para limpar o sangue de Josh do chão.
"Isaac?" Ele respondeu um 'já vou', foi até a área de serviço, lavou o pano, guardou os produtos, respirou fundo e a esperou na sala.
"Os bebês não devem tomar leite de peito, eu já disse a você!" Ela terminava de vestir um vestido rosa, fechou os botões da frente, veio e esbofeteou o rosto de Isaac. Doeu e rasgou sua bochecha esquerda. Isaac continuou em pé, o sangue escorrendo por seu pescoço.
"Não havia como acalmá-la." Ele disse ainda que sabia que Samantha não ouviria a desculpa.
"As equipes estão a postos?"
"Sim. Mas você sabe que..." Ela não o deixou terminar, por mais que disfarçasse, estava muito nervosa.
"Eu sei, não são páreo para eles, eu sei, eu sei! Mas se não houvesse nenhum tipo de resistência, eles desconfiariam." Ela olhou em volta, parecendo satisfeita com o aspecto nojento da sala.
"Sabe o que fazer." Ela lhe deu as costas indo para o quarto.
Isaac foi ao banheiro, lavou o rosto e o pescoço e voltou. Pegou o comunicador e chamou Adriel.
"E então?" Ele perguntou.
"Todos se foram a um tempo já. Eles devem ter se sentido satisfeitos. Os ISA* estão a postos. Isaac, eu... Por que estamos mesmo fazendo isso?"
Isaac torceu a boca. Adriel era bom, assim como as crianças, assim como Rebbeca. Ele olhou para a gaveta a qual tinha colocado a arma. Ele poderia salvar a todos. Bom, salvaria Adriel e as crianças, pelo menos. Os clones morreriam, não que ele se importasse, não os conhecia, mas Rebbeca morreria também. E ele não seria capaz de viver com isso.
"Eu posso acabar com tudo, é o que quer?" Ele perguntou.
"Deve haver outro jeito." Adriel disse, mas mesmo a distância, Isaac pode ouvir a pouca convicção com que ele disse.
"Me diga qual e faremos. Eu não me importo comigo, Ari, sabe disso." Isaac disse.
"Eu sei. Acho que isso é o que me incomoda tanto!"
"Siga-os, Adriel, vamos fazer o que devemos fazer, levar o dia de hoje de acordo com o que ele nos apresenta."
O aparelho ficou mudo.
"Levar o dia de... Como é mesmo?" Samantha voltou a sala, afastou uma embalagem de comida do sofá com cara de nojo e se sentou. Ela riu.
"É engraçado, como você se diz inteligente. Se fosse, não estaria em minhas mãos, estaria?"
"Vengeance me falou sobre o meu pai." Ela suspirou, ela fazia muito isso, estava sempre satisfeita, a vadia.
"Seu pai? Eu sabia que ele ia tentar a cartada dos genes. É claro que ia. Como se sente?"
"Ele dizia a verdade?" Ela o encarou.
"Como vou saber? A minha instalação foi invadida, seu pai foi levado, mas ele não tinha como sobreviver fora de uma cela, sua cabeça era muito ruim."
"E Mônica?" Isaac tinha tanta curiosidade. Ele imaginava Mônica o ajudando a cuidar dos filhotes, a cuidar de Rebbeca.
"Ela foi criada por Bishop, ela não cruzaria com você." Samantha era inteligente, mas era arrogante. Ela só via o que queria ver.
"Você não sabe." Ela riu. Ótimo. Era bom ver que no fundo, ela não o conhecia direito.
"Ok, vamos lá. Eles vão acabar com os ISA* e virão pra cá. A essa altura, eu e os clones já teremos ido embora. Ariel vai nos encontrar nessas coordenadas. Ela escreveu num papel e entregou.
"Adriel tem mesmo que ir?" Isaac pensava desesperadamente numa maneira de levar Ariel com ele, mas não conseguiu achar nenhuma.
Samantha não se dignou a responder.
"Eu passei muito tempo pensando que os clones talvez não venham sozinhos, e a única forma dos outros passarem pelos ISA* e chegarem aqui seria por sugestão. Tem certeza que eles são imunes?" Ela o encarou. Isaac não mentiria, ele não era capaz, então, disse:
"Os trigêmeos não tem poder de sugestão, o que eles tem é uma grande capacidade hipnótica. Se os ISA* podem a resistir a minha sugestão, que é orgânica, resistirão à deles. Ainda mais se for mesmo Honest que acompanhar os clones."
"Não será Honest. Você sabe disso."
Não, não seria Honest, é claro. Seria Simple, aquele filho da puta não perderia a oportunidade.
Ela olhou no relógio, suspirou e se levantou.
"Aqui está a fórmula para reverter a condição das crianças. Gabriel vai saber usar, eles vão viver. Não importa se você contar meu plano, eles nunca vão nos achar. Eu gostaria de dizer que gosto de você, ou deles, mas..."
"Não precisa." Ele pegou o pendrive, ela lhe deu as costas, Isaac segurou a vontade de dilacerar o corpo dela em mil pedacinhos e depois atirar na própria cabeça para não ver os gêmeos, Missy e Josh morrerem.
Ela voltou ao quarto, logo ele ouviu o rosnado de Rebbeca.
O comunicador apitou.
"Isaac você devia ver isso." Isaac não conseguia conter a raiva dele mesmo em seu peito, ele chutou a parede, fazendo um buraco nela.
"Voe para cima, Adriel, não deixe que te vejam. Vou lhe dar as coordenadas."
"Tem algumas mulheres com eles. E até uma humana."
"Adriel, faça o que eu te mandei fazer, saia daí."
"Certo. Eu te amo." Ele disse depois de Isaac ditar as coordenadas. Era só um ponto de encontro. Não ajudaria dar isso aos Novas Espécies.
"Estou bonita, papai?" Missy entrou na sala vestindo um vestido rosa.
"Está, querida, está linda."

ISA* É a sigla para indivíduo super aprimorado. São os soldados que foram submetidos a drogas de aperfeiçoamento, que os tornam mais fortes, rápidos e resistentes, os deixando em pé de igualdade com os Novas Espécies.
Eu achei legal inserir esse pé de página, por que quando estava escrevendo, eu mesma esqueci a sigla, tive que ler a parte em que o nome aparece de novo,kkk.❤️

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