CAPÍTULO 43

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Hush deu um beijo em Cassie, ela sorriu, mas ainda dormia. Ele se levantou, vestiu a calça, a blusa, usou o banheiro e saiu a procura de Simple. O pai de Cassie, de acordo com o faro de Hush, estava numa sala no andar de baixo, Simple estava no quarto que eles tinham ocupado nessa última semana.
Hush não queria ter ficado dormindo com Cassandra e se levantando cedo antes dela acordar, mas quando Hush a viu na varanda com o pai, quando os seguiu numa vez que saíram, Hush viu que eles precisavam de um tempo juntos. Simple então, subornou alguns trabalhadores, sugestionou outros e eles passaram os dias no alojamento dos funcionários, naquele enorme pedaço de terra.
Hush ia saindo quando sentiu o cheiro do pai de Cassandra atrás dele e se virou.
"Você realmente não escuta?" Albert Turner perguntou, seu rosto demonstrando o desgosto por Hush ser o que era. E aquilo doeu. Mas Hush tinha uma fêmea com uma filhotinha dentro de seu ventre. Ele tinha de ser forte agora.
Hush acenou, o olhando de frente.
"Mas me entende?" Hush acenou positivamente de novo. O pai de Cassandra o olhou de cima a baixo.
"Meu Deus! Meu pescoço até dói só de olhar para você! Quanto você mede?" Ele torceu a boca.
Hush nunca se importou com seu tamanho. Ser grande e forte era uma coisa comum na Reserva, Leo era quase do tamanho dele, Vengeance também. Silent era ainda maior. E ser forte era uma vantagem no serviço, muitos animais que chegavam tinham sofrido muito nas mãos de seus antigos donos, e às vezes Hush tinha de segurá-los. Mas como dizer isso para ele? Como mostrar que ele, Hush, era digno de Cassandra?
"O que eu perdi?" Simple entrou na casa arrumando sua calça, em sua pele Hush sentia o cheiro das duas ajudantes da cozinha. Simple realmente não tinha jeito! Hush fechou a cara para ele.
"Que isso, Hush, acha que só você pode se divertir?" Ele sinalizou.
"Que bom que chegou, Simple. Você será meu intérprete." O pai de Cassandra voltou para a sala de onde tinha saído, eles entraram atrás dele.
A sala era grande, haviam muitos livros, uma lareira grande e uma mesa grande no centro. Albert Turner se sentou atrás da mesa e indicou cadeiras para eles se sentarem. Hush se sentou e o olhou decidido. Não largaria Cassandra. Os seguranças dali eram poucos, Hush e Simple dariam conta deles.
"Calma, você parece pronto para brigar, mas basta rugir que a metade dos meus seguranças se mija toda." Ele disse e suspirou. Hush notou que os olhos dele eram da mesma cor que os de Cassandra e também os de Jewel. Hush não conseguia ter raiva dele, olhando naqueles olhos tão parecidos com os de Cassandra.
"Não estamos aqui para brigar. Diante das circunstâncias, Hush está disposto a ficar um pouco aqui, como férias, para que o senhor e Cassandra continuem a se aproximarem. É do interesse do meu amigo que quando a filhote dele nascer, o senhor seja um avô presente." Simple disse, Hush acenou. Aquele lugar era muito frio pro gosto dele, mas se era para que Cassandra e o pai ficassem bem, ele ficaria de bom grado.
"E qual o seu interesse nisso tudo?" Albert Turner perguntou para Simple.
"Ver duas pessoas que eu amo felizes? Esfregar na sua cara que eu venci o senhor? Aproveitar o quanto as francesas são liberais no sexo? A lista continua..." Ele sorriu. Hush deu uma cotovelada nele, com medo do pai de Cassie o expulsar dali.
Mas o pai de Cassie também sorriu, Hush ficou um pouco incomodado. Era como estar no mar entre dois tubarões.
"É, você venceu. Eu estou nas suas mãos agora. Cassandra terá que ir embora, esse frio não deve ser bom. E já que não há como impedir a gravidez..." Hush se levantou e rosnou. Ele mataria qualquer um que ameaçasse sua filhotinha.
"Calma! Não farei isso. Eu sei que disse que devia ter interrompido a gravidez de Milly antes que ela morresse, mas Cassandra não tinha culpa de ter sido gerada. Milly tinha plena consciência do perigo que corria. Eu não farei nada, só vou rezar para qualquer divindade que possa ajudar. Foi a isso que vocês me relegaram." Ele baixou a cabeça.
"Já dissemos que não há perigo. Cassie está muito bem e o parto de uma gravidez de fêmea é mais fácil."
"Como sabe que é uma garotinha?" Ele disse garotinha com carinho na voz, Hush gostou disso.
"Eu sei dessas coisas, até Hush que não tem um faro como o meu, sabe que é uma filhotinha, não é, amigão?" Simple perguntou, Hush abriu seu maior sorriso. Era uma fêmea, era tudo o que ele sonhou.
"E o que vai ser de Cassandra? Ela vai morar naquele lugar, no meio do mato, cheia de filhos? É isso, Hush, que você tem para oferecer a ela?" Hush olhou para Albert Turner. Ele não tinha muito a oferecer. Não sabia o que dizer. Olhou para Simple e o leãozinho sorriu. Ele não disse nada, seus olhos dourados o encorajaram a falar com o coração para o pai de Cassandra. Afinal, ele teria uma filhotinha, não iria deixar qualquer um a tomar dele. Hush respirou fundo e sinalizou:
"Eu sei que o mundo dos humanos é muito diferente do nosso, senhor Turner. Em meu mundo, basta um macho e uma fêmea se apaixonarem, decidirem viver juntos, ter filhotes e seremos os Nova Espécie mais felizes da terra. Cassie pertence ao mundo dos humanos, onde a felicidade é o fim, não o percurso e eu aceito isso. Tudo o que ela quiser fazer, ou ter, sempre será prioridade para mim, eu vou onde precisar ir e faço o que tiver de fazer, só não posso deixá-la." Simple traduziu e o humano o olhou firme.
Ele suspirou.
"Eu só descobri o quanto eu amava a mãe de Cassie quando a perdi. Ver você tão convicto de seus sentimentos me deixa até com uma certa inveja, sabe. E Cassie, bom, ela não parece mas é teimosa, puxou a mãe. Eu não posso impedir que fiquem juntos, acho que nunca pude." Hush acenou.
"O senhor é bem vindo a viver conosco, se quiser. Em nossa casa, ou em outra, se preferir. E eu e Cassandra não pensávamos em ter um filhote, eu juro isso para o senhor, e vamos tentar algum meio de impedir que outro filhote venha, pelo menos por agora. Eu também tenho medo, senhor Turner, todo macho Nova Espécie tem esse medo de sua companheira morrer no parto. Mas até hoje, a sorte tem sorrido para nós." Hush concluiu. Albert Turner suspirou.
"Você sabia que tudo isso ia acontecer?" Ele perguntou para Simple. Hush o olhou, ele também queria saber.
"Não tudo, é claro. Eu não podia saber que Samantha exigiria que Adam e Noah fossem embora, ou que o senhor iria levar tantos seguranças. Mas era a única forma de te fazer acionar a doutora Samantha." O pai de Cassie concordou.
"Ela é uma puta. Não havia nada a barganhar com ela quando vocês foram atrás de mim." Ele disse.
"E como ela aceitou? O senhor sabia que ela iria exigir ficar com os gêmeos?" Albert balançou a cabeça dizendo que não.
"Pessoas como ela tem muita sujeira por trás. Eu dei alguns telefonemas, transferi uma grana grossa para ela e tentei salvar Cassandra. Mas já era tarde."
Hush decidiu que ia mostrar a esse humano que ele faria Cassandra a fêmea mais feliz do mundo.
E falando nela, Hush a sentiu e se virou, ela entrou na sala e se sentou no colo dele. Hush escondeu o rosto no pescoço dela, inspirou e se sentiu em casa.
"Estou com fome, muita fome, meu amor, que tal irmos para a cozinha?" Ela perguntou, Hush sorriu.
"Você cozinha, Simple?" Ela perguntou.
"Não se eu puder evitar, mas dependendo do que vou ganhar, eu posso pensar." Ela riu, Hush riu também.
"Em que está pensando? Por que eu faria qualquer coisa por um bife de carne de alce." Cassandra disse.
"Ah, tem de ser de alce? Eu queria muito ser padrinho de sua filhotinha!" Ele disse, o rosto tão triste que todos riram, até o pai de Cassandra.
"Sim. Ai, meu Deus! Um bife de carne de alce! Minha boca até enche de água!" Cassandra disse com um olhar sonhador.
"Dá pra esperar até voltarmos?" Simple perguntou.
"Se voltarmos, por que eu arriscaria comer algo feito por você, se eu poderia comer algo feito por Candid?"
Hush riu e a beijou, Cassandra o abraçou forte.
"Bom, resolvam isso na cozinha, o estômago dela está roncando tão alto que eu posso ouvir." O pai dela disse, Hush se levantou com ela no colo e foram comer.

HUSHOnde histórias criam vida. Descubra agora