CAPÍTULO 41

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Mônica desceu do jipe sentindo o olhar avaliador de Creek sobre ela. Era sempre assim, não importava o tempo, ainda desconfiavam dela, ainda mais as fêmeas.
"Você não quer entrar?" Creek fez que não.
"Eu te trouxe na expectativa de ver Candid, mas ele não está aí. Na verdade, pelo barulho, acho que todos que puderam fugir, fugiram."
"Pensei que vocês fêmeas adoravam filhotes." Mônica a provocou.
"Filhotes sim, máquinas de arrancar orelhas não. Boa sorte. Ah, esqueci, você é de segunda geração, você tem toda a sorte que pode precisar." Creek saiu dirigindo.
Mônica respirou fundo. Creek e as outras ficaram magoadas quando souberam que Mônica tinha mentido uma segunda vez, embora ela não tenha realmente mentido, ela apenas omitiu ser de segunda geração. Toda a sua vida, ela supôs que fosse uma Nova Espécie de primeira geração implantada tardiamente. Então, veio o choque, ela tinha sido feita numa proveta e inseminada numa barriga de aluguel, ela tinha pai!
Então, lá se foi Mônica para Homeland, procurar seu pai, disfarçada, afinal, ela deveria ser parecida com ele.
E o tempo foi passando e nada de encontrar seu pai, Mônica acabou tendo que tirar seu disfarce e contar que tinha mentido, que não era humana, como eles pensavam, e admitir que seu pai provavelmente não tinha sobrevivido aos maus tratos e não estava nem em Homeland, nem na Reserva.
Mas ela não iria desistir, então acertou uma temporada na Reserva a dois anos atrás, para enfim esgotar todas as possibilidades de seu pai estar vivo e sossegar seu coração.
E seu coração mais uma vez foi pisado, dessa vez por Thorment. Não que ela tenha se apaixonado perdidamente, mas Thorment, assim como Vengeance era exatamente o tipo de homem, ou macho, que a atraía. Grande, forte, rústico, silencioso, mas inteligente, austero, mas com um mínimo de humor.
Bom, não deu certo. Honest mais uma vez, se meteu no meio, ele inclusive a chantageou a se aproximar de Thorment, usando o que sabia sobre as mentiras dela.
Honest! Se havia alguém que Mônica não tinha a mínima vontade de ver era ele. Mônica ainda se lembrava de quando ele a beijou. Um beijo muito leve, mas como tudo o que ele fazia, cheio de deboche.
Ela suspirou e passou pela porta. Os gritos dos bebês (seus sobrinhos!), Doíam em seus ouvidos.
Ela passou da recepção, que também era o escritório, entrou num comprido corredor e saiu numa varanda, ou área de convivência. Lá um Nova Espécie muito grande e moreno segurava um dos bebês longe de seu rosto, o bebê gritava e tentava morder a mão do Nova Espécie. A direita, numa pequena cozinha, um filhote de idade desconhecida, talvez uns quatro anos mexia alguma coisa numa leiteira, devia ser leite. Dentro da administração, num quarto cuja janela dava para a varanda, alguém também tentava calar outro dos bebês.
O faro de Mônica não era muito bom, ela tinha sido submetida a medicação de supressão, mas um dos trigêmeos estava ali, ela conseguia sentir pelo cheiro. Ela só podia esperar que não fosse...
"Doutora Mônica?" Era. Mônica não se virou logo, fitar o olhar debochado dele sempre a enfurecia.
"Mamã..." Uma vozinha disse, ela se virou.
Honest vinha segurando um dos bebês, um grande arranhão em seu braço sangrava.
"O que aconteceu?" Ela perguntou, já olhando em volta, procurando onde ele podia se sentar para que ela o examinasse.
"Oi. Você é a nossa tia?" O filhote maior perguntou. Deveria ser Josh. Ele se aproximou.
"Não, Josh, termine de fazer esse mingau bendito, quer que eu seja retalhado pelas garras de seu irmão?" Honest disse. Mônica achou ele um pouco grosso, mas o bebê esperneava, então, talvez estivesse certo.
"Mamã..." O bebezinho disse e gritou.
O outro Nova Espécie, o moreno, se aproximou com o outro bebê, que também gritava. Esse a olhou e disse de forma mais clara:
"Mamãe!" Eles estavam a chamando de mamãe. Mônica tinha ouvido dizer que Rebbeca e ela eram parecidas, mas ela não achou que fossem tanto.
"Está pronto." Josh disse, correu a encher duas mamadeiras. Mônica estava parada olhando para o Nova Espécie moreno, não queria olhar para Honest. Ele estava muito diferente. Muito maior e mais forte.
Josh deu uma mamadeira para Honest, ele se sentou, com o braço esticado mantendo o bebê ainda longe.
Mônica queria ajudar, mas não sabia como.
"Como posso ajudar?" Ela disse, os bebês ainda gritavam e a chamavam de 'mamãe'.
"Ajude o tio Hush, Fred aceita mamadeira, Bernie, não." Josh disse.
O 'tio Hush' se sentou ainda mantendo o bebê longe. Mônica teve muita dó do pequenino bebê. Ele gritava e seus olhinhos estavam rasos de lágrimas.
Ela se aproximou, seu coração disparado de medo e tocou no rostinho do bebê, ele parou de chorar e voltou a dizer:
"Mamãe!" Ele segurou na mão dela, ela o pegou da mão de Hush, que sorriu. Mônica não pôde deixar de admirar o grande Nova Espécie, ele era muito bonito. Ela se sentou com o bebezinho no colo, mas quando foi pegar a mamadeira, o bebê cravou os dentinhos num de seus seios, por cima da blusa e do sutiã que Mônica vestia. A dor foi tanta que Mônica gritou, o Nova Espécie não soube o que fazer, Mônica não sabia como fazer o bebê largar seu seio. E a mordida foi tão forte, que as presinhas dele perfuraram sua pele.
"Josh! Pegue Fred." Honest comandou. Mônica sentiu lágrimas de dor descerem pelo seu rosto, ela tentava fazer o bebê soltar afastando a cabecinha dele, mas ele aumentava a força e perfurava seu seio ainda mais.
"Calma. Não o afaste. Calma, vou abrir a sua camisa." Honest disse, ela acenou. Honest rasgou sua blusa e o sutiã, Mônica segurou as partes rasgadas da blusa sobre o seio que estava livre.
"Agora, Bernie, vamos tirar a roupa da mamãe? Pra você mamar melhor, nheim?" Honest disse acariciando os cabelos loiros do bebê. Bernie, era mais esperto que Honest pensava, pois ele mesmo puxou as partes rasgadas da blusa e do sutiã dela. Mas teve de tirar os dentinhos, então, Honest o puxou.
Assim que ele tirou os dentinhos, o seio dela sangrou, Mônica segurou um pedaço do sutiã contra o seio para estancar o sangramento. O bebê gritou e segurou uma grande mecha de cabelos de Mônica.
"Bernie! Olha, leite! A mamãe vai te dar!" Honest falava com voz doce com aquele bebê que mais parecia um bichinho raivoso.
Ele estava com uma mamadeira numa mão, com a outra segurava o bebê que agora segurava duas mechas de cabelo de Mônica, uma em cada mão. Mônica segurava partes da blusa rasgada tampando os seios. O seio machucado parou de sangrar. Hush tomou o bebê de Josh e entrou com ele e Josh na administração.
"Solte a blusa, se ele sugar e ver que não há leite, vai querer a mamadeira. Eu não vou olhar." Honest disse. Não havia muito o que fazer, ela soltou os pedaços da blusa e do sutiã e Bernie rapidamente tomou um seio dela na boca, dessa vez sem morder. Mônica tapou o outro seio com a mão.
Bernie sugou com força, ele era muito forte para um bebê tão pequeno, mas como Honest disse, ele soltou o seio e Mônica lhe colocou a mamadeira na boca. Ele começou a mamar, mas com o rosto apoiado sobre o seio dela, uma mão agarrada ao cabelo, a outra segurou o outro seio. Sua mãozinha era tão pequenininha que ele lhe segurou o mamilo. Mônica sentiu muito carinho por ele nessa hora, era muito terno sentir o toque da mãozinha dele em seu seio.
"Eu vou..." Ele se levantou, mas seria muita bobeira ele sair.
"Não. Fique. Faça outra mamadeira, só por precaução, por favor." Ele acenou, tirou a camiseta e a passou no braço arranhado, limpando o sangue do arranhão. Depois foi até o fogão e encheu outra mamadeira que retirou de uma grande panela. Como ele estava de costas, ela o admirou. Honest tinha crescido muito, estava maior e mais forte, quase do tamanho do pai dele. Seus cabelos estavam trançados bem apertado, sua trança terminava no meio das costas largas e musculosas. Ele usava uma calça de moletom meio velha surrada, apertada na bunda e nas pernas grossas. A pele dele era bronzeada e parecia quente. Mônica não tiraria o olhos dele nem se quisesse.
Bernie terminou a mamadeira, e voltou a abocanhar seu seio e sugar. Honest estendeu uma mamadeira para ela, mas o bebê parecia satisfeito.
Mônica ficou sentada, acariciando o cabelo loiro do bebê, exatamente da cor dos dela. Ele começou a ressonar.
Honest a ajudou a se levantar, eles entraram pela porta e depois de passar por algumas portas, eles entraram num quarto. Rebbeca estava deitada na cama, imóvel e o outro bebê já dormia num berço ao lado da cama. Mônica colocou o bebê no berço, ele se deitou de lado e segurou na calda do irmão. Era muito bonitinho eles deitados de lado um a frente do outro. Honest abriu uma cômoda e tirou uma camiseta de moletom de lá. Mônica então percebeu que tinha colocado o bebê no berço e não tapou os seios. Ela vestiu a camiseta.
"Como ela está?" Mônica perguntou se sentando na beirada da cama onde Rebbeca dormia.
"Não muito bem. Ela recebeu uma carga violenta de energia, seu coração parou duas vezes. O tio V. dividiu a potência da eletricidade com ela, se não, ela estaria morta. Gabriel não pode ministrar nada nela até ter o código genético dela. É por isso que está aqui." Ele disse. Sua voz cadenciada e profissional a fez duvidar se era mesmo ele.
"Eu tenho de ir onde ele está?" Ele teria de chamar um jipe para ela.
"Não. Só um pouco do seu sangue basta. Eu posso colher se você quiser. Ou você mesma se preferir." Ela acenou.
"Você pode colher." Ela anuiu, Ele sorriu.
"Tem certeza?" O sorriso malandro e debochado estava de volta, Mônica se surpreendeu com o fato de que percebeu que sentiu falta daquele sorriso.
Ele mexeu numa gaveta, tirou o kit de coleta, Mônica se sentou numa cadeira e apoiou o braço no batente da grande janela. Honest limpou seu braço com um algodão embebido em álcool e rapidamente a seringa estava cheia com seu sangue.
"Eu vou levar. Os bebês devem dormir até eu voltar ou um dos idiotas dos meus irmãos aparecerem aqui. Qualquer coisa, peça a Hush." Ele tirou outra camiseta da mesma gaveta que tirou a camiseta que deu a ela.
"Eu preciso de um quarto." Ela disse.
Ele acenou e saiu, Mônica o seguiu.
"Pode ficar com esse. Era de..." Ele respirou fundo.
"Está vazio. Eu vou trazer lençóis." Ele saiu, ela abriu as janelas. Era um quarto grande, arejado, com duas janelas. No canto, havia um guarda roupa, em frente da cama, entre as janelas, havia uma cômoda com uma Tv. Mônica abriu as gavetas e todas estavam cheias de roupas muito bem dobradas.
"Eu tenho de ir entregar o sangue, mas quando voltar, te ajudo a tirar as roupas de Adam daí. Você já comeu?"
Mônica assentiu. Honest saiu, fechando a porta.
Mônica saiu para buscar a sua mala e o viu, correndo ao longe. Ele tinha mudado e muito, tanto que seus olhos dourados não tinham o brilho sarcástico que ela tanto detestou quando ele a chantageou. Agora, ela via seriedade, responsabilidade e inteligência, muita inteligência.
"Essa é a sua mala, tia?" Ela olhou para Josh e sorriu. Filhotes sempre chamavam os adultos de 'tio' ou 'tia', mas Josh era realmente seu sobrinho e isso a assustava e maravilhava.
"Sim, pode me ajudar?" Ele sorriu, Mônica e ele passaram uma parte da tarde retirando as roupas de Adam, até que a porta foi aberta e Rosalie entrou.
Mônica não sabia o que dizer. É claro que já tinham lhe dito que ela e Adam estavam namorando.
"Foi Honest quem disse que eu podia ficar aqui, eu e Josh estávamos apenas arrumando." Mônica se justificou.
"Sem problema. Esse quarto não pode ficar vazio mesmo." Ela pegou uma camisa da pilha abraçou e cheirou. Josh saiu, ele era muito discreto.
"Faz só uma semana, mas parece que faz uma eternidade. E eu nem tenho um tempo determinado para esperar." Ela se sentou, pegou mais camisas e cheirou.
"Ele disse que não quer que eu o espere. Como se eu pudesse fazer outra coisa!" Ela se levantou num pulo.
"Cassie se foi, Adam se foi! O que eu vou fazer da minha vida agora?" Ela estava totalmente diferente da Rosalie que Mônica conhecia. Rosalie era reservada, bem humorada, mas distante.
"Você vai viver como a mulher forte que sempre foi. Você não está sozinha, Ros. Talvez esse seja um dos poucos lugares que quando dizem isso, querem realmente dizer isso. Tenho certeza de que Vengeance e a família dele acolheu você." Ela chorou.
"Ele veio me buscar, disse que era pra eu ir ficar com eles. Eu não quis. Não dá! Ele, Peter e Rom são parecidos demais com Adam, é como se fosse ele, sem ser." Ela soluçou.
"Sei que eu não faço sentido, mas..." Ela disse desanimada.
"Mas é claro que faz. É por isso que eu tenho uma proposta para você." Uma voz a porta as fizeram se virar. O coração de Mônica disparou, Honest já tinha voltado?
Não era Honest, ainda que era como se fosse. Era Simple. Idêntico a Honest, apenas o cabelo amarrado na nuca os diferenciava.
"Não, Simple. Sem tramóias." Rosalie enxugou o rosto com uma das camisas de Adam e ia saindo do quarto.
"Mas é claro que não estaremos aprontando, Ros. Eu aprendi minha lição. E de uma forma muito dolorosa se quer saber." Ele ficou um momento sério. Mônica viu o rosto de Honest ali. Eles eram parecidos demais para o gosto dela.
"Estou te dando uma chance de pensar em outra coisa. Em viajar, ver um lugar muito bonito e tudo às custas de Albert Turner." Ele sorriu,
travesso.
Mônica olhou curiosa para Ros. A outra deu de ombros.
"Se estiver aprontando, eu conto para o papai." Ela disse, ele aumentou o sorriso.
"Você já o chamou assim?" Eles estariam falando de Vengeance?
"Não, mas quando veio, Grace estava com ele, ele me pediu para chamá-lo assim, eu relutei. Grace disse que eu ia acabar me rendendo." Ela deu de ombros.
Hush apareceu na porta do quarto, ele olhou para as roupas e pegou uma camisa. Ele olhou para Rosalie, ela sinalizou enquanto falava:
"É claro que pode ficar." Ele sorriu. Mônica ficou triste por ele, ela conheceu Cassie e a achou muito doce.
"Bom, então, vamos planejar a nossa viagem." Simple disse e eles saíram do quarto. Mônica ficou pensando se iriam atrás de Cassie, ela torceu para que sim.
"Quer ajuda?" Ela olhava para a pilha de roupas sobre a cama e antes que levantasse o olhar se sentiu confusa, por que era Candid, o cabelo estava solto e a roupa era diferente, só usava uma bermuda e estava descalço, o peitoral muito forte tinha um brilho de suor e o cheiro dele era ótimo, mas algo dentro dela dizia que era Honest.
Ele entrou no quarto daquele jeito arrogante e a olhou com os olhos debochados.
"Acho que vou levar essas roupas para a sala de doação. Afinal suas calcinhas não podem ficar sobre a cama, não é? Você trouxe muitas na minha opinião."
A sensação de desconcerto ante o olhar dele voltou com força, Mônica o examinou. Não era Honest! Mas era o Honest que a chantageou, ela tinha certeza. O Honest que a levou ao túmulo de seu pai, Hills, no último dia em que ela esteve ali, a dois anos atrás.
Ele deu um passo a frente, ela deu um para trás. Ele deu mais um, ela também, mas foi barrada pela parede.
"Está com medo de mim?" Ele perguntou, os olhos dourados tão parecidos com os de Honest a percorreram de cima a baixo parando em seus seios soltos naquela camiseta larga. Ele ergueu os olhos e sorriu, de lado, malandro.
"Sua estadia aqui vai ser divertida, doutora."

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