Não me reconheço perto de você!

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Eu ainda me sentia chapado no álcool, a sensação que eu tinha, era de uma escola de samba tocando na minha cabeça. O embrulho no estômago indicava que eu havia enchido a cara sem dó na noite anterior.

Ainda cambaleando levantei da cama, tentando buscar na memória algum vestígio do que aconteceu na noite passada, como um gatilho os acontecimentos voltam a minha mente. A festa na casa de Gabriel, a vodka, Heloísa e Gabriel aos beijos, eu ficando extremante louco e porra...sinto uma pontada enorme na cabeça e fecho os olhos.

Me xingo de todos os nomes possíveis e caminho em direção ao banheiro, ligando a água gelada e deixando que ela escorra por todo meu corpo. O arrepio de início da lugar a uma sensação boa quando sinto meus músculos relaxarem e minha cabeça melhorar um pouco. Meus pensamentos vão diretamente pra Helô, ela com certeza estaria me odiando e com razão, mas vê - la aos beijos com Menino eu me senti como se estivesse perdendo algo, que na verdade nem era meu.

Desliguei o chuveiro quase uma hora depois e sai enrolado na toalha, o tempo estava quente e a julgar pelo sol escaldante eu estava quase na hora do treino. Constatei no meu celular, vendo que faltava pouco pra 1 da tarde. Vasculhei minhas roupas e optei por uma bermuda de cor clara, uma blusa branca e meus tênis. Arrumei minha bolsa de treino e tomei um analgésico pra aliviar ainda mais aquela dor de cabeça. Maldita ressaca. Peguei meus óculos escuros e desci, na cozinha peguei apenas uma garrafa de água gelada e uma maçã e parti pro CT.

Cheguei ao local em pouco tempo, já que por incrível que pareça o trânsito estava bom. Estacionei na minha vaga e caminhei em silêncio até o vestiário, ainda estava vazio, já que eu tinha chegado adiantado, aproveitei pra colocar meu uniforme de treino e mexer em meu celular, eu precisava falar com Heloísa. Mandei inúmeras mensagens e guardei o aparelho, ela não ia responder agora então decidi esperar mais um pouco. Levanto meu olhar quando ouço vozes entrando no vestiário, sinto meus músculos travarem ao ver Gabriel, acompanhado de Scarpa e Danilo, eles riem animado e quando me veem param o assunto. Os dois últimos falam comigo, já Gabriel passa em silêncio e acho até melhor assim, minha cabeça estava cheia de mais pra arrumar outra briga.

(...)

Heloísa não respondeu nenhuma das minhas mensagens e todas as ligações que eu fiz, caíram direto na caixa postal. Sempre. Eu estava jogado no sofá da minha sala, com o celular na mão feito um idiota, tentando a qualquer custo falar com ela. Tive a sorte dela não ter me bloqueado, já que eu tinha passado minhas últimas horas ligando na esperança que ela me atendesse, o que claro, não aconteceu. Aparentemente, ela não falaria mesmo comigo, nem se eu soubesse a cura de todas as doenças do mundo.

Eu não aguentava mais ficar ali, então decidi ir até seu apartamento, ela podia não me receber ou até mesmo me proibir pra sempre de ir até seu prédio, mas era melhor do que ficar com aquela angústia que eu estava sentindo. Peguei a chave do carro e tranquei tudo, partindo em direção a minha última tentativa.

....

Eu estava parado em frente à porta do apartamento de Heloísa, depois de ter sido liberado pelo porteiro que era meu fã e falado que a mesma estava me esperando. Pensei por diversas vezes em ir embora dali, mas eu sei que me arrependeria disso depois. Suspirei fundo e dei três batidas na porta, esperando que ela abrisse logo. Senti o ar faltar em meus pulmões quando ouvi a porta sendo destrancada e a figura confusa de Heloísa aparecer, me encarando como se estivesse vendo um fantasma.

— O que você tá fazendo aqui? — Sua voz irritada e sua postura séria me fizeram recuar, mas não desistir.

— Preciso conversar com você. — Falei colocando as mãos no bolso da bermuda jeans que eu usava.

— Não tenho nada pra falar com você Raphael. — Ela disse fechando a porta, mas eu impedi, sentindo seu olhar de raiva pra mim.

— Por Deus Heloísa, você pode pelo menos tentar me escutar?

Ela soltou um longo suspiro antes de me dar passagem e fechar a porta.

— Fala o que você tem pra falar de uma vez, porque eu tô cansada de tentar te entender.

Passei a mão pelos cabelos e bufei baixinho, eu ainda estava muito cansado e de ressaca, mas precisava estar ali, ou iria surtar.

— Nem eu me entendo quando o assunto é você Heloísa, é uma confusão do caralho.

A sinceridade e o remorso em minhas palavras, fez meu coração bater acelerado demais.

— Eu te liguei igual maníaco o dia inteiro e acredite, fiz isso menos do que gostaria. Eu nunca precisei implorar por atenção de ninguém, eu sempre tive controle dos meus sentimentos, das minhas ações, nunca fui um cara de brigas e nem de beber, mas porra...— Fechei os olhos com força e em seguida abri. — Você me deixa louco, louco demais. Eu me sinto um caso perdido e olha que eu nunca me considerei um.

Heloísa me encarava seriamente, por um momento eu queria saber o que se passava em sua cabeça, mas eu precisava terminar de falar, ou iria sufocar com tudo que estava entalado a dias.

— Eu fiz sem pensar, aquela merda de briga, eu não assim. — Suspirei. — Mas quando eu vi você e o Gabriel eu fiquei puto, muito puto...

— Eu e o Gabriel somos amigos. — Ela falou. — Aquele beijo foi só...merda Raphael. — Ela esbravejou. — Foi só um beijo e você não tinha o direito de estragar as coisas assim, eu sabia que esse lance amizade não daria certo.

— O Gabriel é um idiota Heloísa. — Disse.

— Da pra você não complicar mais as coisas? — Ela perguntou nervosa.

— Desculpa, você pode gostar dele o tanto que quiser, mas não posso controlar o que eu acho, e eu acho ele um idiota.

— O idiota é você. — Ela vociferou.

Passei a mão pelo rosto, em sinal de agonia.

— Porra, porque você é tão impossível assim? Eu só quero consertas as coisas e colocar elas no lugar de novo.

Vi quando Heloísa deixou os ombros caírem, baixando um pouco a guarda, seus olhos que eu ainda não sabia decifrar a cor estavam brilhando e ela parecia mais calma.

— Você me perdoa? — Pedi me aproximando.

— Sim. — Ela falou.

Soltei uma lufada de ar e a puxei para um abraço, meus músculos se tencionaram ao seu sentir meu corpo com o dela e por um minuto achei que ela fosse se afastar. Mas Heloísa passou seus braços ao redor de mim e encostou sua bochecha em meu peito, podendo ouvir meu coração, que a essa altura batia calmo ao sentir ela ali comigo.

— Não me reconheço perto de você. — Falei juntando ainda mais nossos corpos. A respiração de Helô era calma e seu cheiro era tão gostoso que eu podia ficar assim por horas.

— Também não me reconheço perto de você Raphael. — Sua voz doce e calma me fez sorrir como um bobo, enquanto eu depositava um beijo suave em seus cabelos.

— Você me perdoa mesmo? — Perguntei novamente.

— Sim Raphael, está tudo bem. — Ela afirmou grudada em mim. E pela primeira eu senti que realmente estava.

Our Love - Raphael VeigaOnde histórias criam vida. Descubra agora