05- O seu paraíso

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-Tio Jin. Eu vou ir naquela cafeteria que comentei com você no outro dia. – disse colocando minha bolsa transversal e pegando um casaco. - Depois vou ver se encontro alguma livraria por perto.

-Já não tem livros demais?

 Jin estava sentado em sua escrivaninha localizada no escritório improvisado da sala de estar. A cabeça apoiada na mão demonstrava o quanto ele parecia estra cansado naquele dia. Havia trabalhado a tarde inteira e depois que chegou do trabalho deveria terminar alguns relatórios.

-Livros nunca são demais.

 Jin assentiu com um sorriso que transparecia mais cansaço do que outra coisa.

-Talvez eu vá trabalhar hoje à noite. – Suspirou ele. - Provas novas surgiram sobre o caso que estava cobrindo. Então...

- Estou levando a chave, então não se preocupe. - disse indo até ele e lhe dando um beijo na cabeça. – Não se esforce tanto. Até depois.

 Lhe dei as costas engolindo em seco e torcendo para que minha atuação tivesse funcionado.

-Iu.

 Jin chamou me fazendo congelar. Engoli em seco, rezando para qualquer entidade que estivesse ouvindo para que meu tio não percebesse o que estava acontecendo.

-Sim?

-Traga um cappuccino com desenho de cachorro pra mim. - pediu ele.

-Vou trazer. – Respondi fechando a porta e enfim respirando aliviada.

                               ◇             

  Havia lido um livro uma vez que dizia exatamente assim

"Cara leitora, lembre-se a todo momento: Bad boys só são sexys e interessantes na literatura, se porventura você se deparar com um deles na vida real, fuja! Sua saúde mental vale muito mais que uma pica (por maior que ela seja)"

 Essa frase martelava na minha cabeça enquanto via pela janela os prédios da cidade passando enquanto lentamente a noite chegava. A motorista, vez ou outra, olhava pelo espelho e podia jurar que ela sacudia a cabeça decepcionada comigo, como se soubesse exatamente o que estava indo fazer.

 No radio a música "Dont Be a Fool" do Shawn Mendes tocava como um insulto a mim. Mas ele estava certo. Estava sendo uma tola por me enfiar no subúrbio de Nova York sozinha.

-Sabe menina...é só um conselho. – disse a motorista do Uber quanto estacionava em frente a um mercadinho de peixes. -Não importa o quão bonito ele é, não vale a pena.

 Eu a encarei com os olhos serrados. Talvez soubesse ler mentes ou fosse vidente, eu não sabia e suspeitava que ela nunca me diria se realmente fosse. Mas forcei o melhor sorriso que consegui e fingi não me importar.

-Vou lembrar disso. – E realmente ia. - Aqui o dinheiro. Obrigada.

 O pôr do sol era algo que eu sempre gostei de admirar e naquele dia ele estava especialmente mais lindo. Da frente do mercado de peixes era possível ter a visão inteira da ponte do Brooklyn. Por trás dela os tons de laranja, rosa e roxo iam pintando o céu o deixando um completo esplendor.

 Fazia tantos dias que não o via. Tantos a ponto de formarem longos meses.

 Havia esquecido o quão lindo era. O quanto o adorava nesse estado. E vê-lo novamente fez com que meu coração se enchesse de algo que não sentia a muito tempo. Suspirei, mas dessa vez o peso que carregava em meu peito estava um tanto menor.

 Seria ainda mais reconfortante se o fedor de peixe não estivesse tão presente no ar. Mas o ignorei, o céu arroxeado era o bastante para mim.

 O observei por mais tempo do que realmente tinha, e quando as primeiras luzes começaram a acender eu voltei a caminhar.

Whisky CerejaOnde histórias criam vida. Descubra agora