04- O que sei sobre você

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-É um sabor de whisky. - Respondi.

Até mesmo eu conseguia sentir a mentira escorrer daquelas palavras.

-Acha mesmo?

  Devido a falta de luz não sabia qual era a expressão de Yoongi, mas supus que não fosse das melhores. Por mais que eu o observasse a dias, jamais deu sinal algum de saber sobre o que se tratava whisky cereja. Mas agora, apesar do breu, eu podia ver o quanto estava preocupado.

-O que você acha? - revidei.

  Levou alguns minutos até que Yoongi respondesse. Me perguntei o que ele faria se eu lhe confidenciasse minhas suspeitas. Me mataria? Me jogaria aos cães? Eu não tinha essa resposta e isso fazia o nó em minha garganta me sufocar.

  Queria colocá-lo contra a parede e usar meus métodos nada amigáveis de tirar informações para saber o que queria. Apesar da ideia ser tentadora, esse método talvez não fosse o mais indicado para dialogar com Yoongi.

Não o odiava a ponto de realmente querer machuca-lo.

Mas se fosse preciso...

-Eu acho que são as únicas palavras que meu melhor amigo conseguia falar antes de morrer.

  Aquilo me atingiu como um caminhão desgovernado atinge uma placa na estrada. Me deixando atordoado.

  Minha mente me levou para alguns dias atras. Lembrei do sangue, das luzes nos tijolos a vista, do cordão sendo colocado em minha palma. O homem morrendo no beco dissera aquelas mesmas palavras antes de morrer. E agora isso.

  Serrei as sobrancelhas e torci para que Yoongi não visse minha expressão de total surpresa e angustia. Torci para que ele não sentisse o quanto minhas mãos estavam geladas e suando. Ou o quando balançava a perna para dissipar a ansiedade.

-Pelo seu silêncio, suponho que já tenha ouvido isso de uma forma parecida. - Yoongi ditou um tempo depois.

  Ele sentou-se na cama, ao meu lado e enrolou-se no cobertor. Nem mesmo havia percebido o quanto estava frio na cela até vê-lo coberto. Puxei as pernas para cima da cama e abracei meus joelhos na tentativa de me aquecer.

-Ouvi de um homem que foi baleado. – Respondi. E me arrependi no mesmo instante. – Morreu, caído aos meus pés.

  Poderia ser total imprudência revelar a Yoongi essa história. Porque fora exatamente o que Gong Yoo havia me perguntado naquele mesmo dia, não lhe disse a verdade e tinha total convicção de que ele não havia acreditado que disse.

Mas se queria informações, teria que dá-las também.

  Aquilo não amenizava o desconforto no meu estomago nem a dor na lateral da cabeça. Sempre apareciam para deixar os momentos tensos ainda mais desconfortáveis. Um constante estorvo em minha miserável vida. E por mais que me doesse fazer aquilo, era preciso.

-Aconteceu na manhã do dia em que fui pego. - Completei.

  O corpo de Yoongi era como uma sombra ao meu lado, escuro e coberto por um tecido fino. Os cabelos jogados para trás um tanto bagunçados, apesar de ter certeza de que ele não havia dormido nada. O moreno encarava as próprias mãos, como se procurasse a resposta nelas. E mais uma vez, pude ver a borboleta em seu braço, me cumprimentando como uma velha amiga.

Iu...

  Era sempre ela a primeira coisa que surgia em minha mente quando meus olhos miravam aquela imagem. Sentia um gosto amargo que lentamente consumia todos os meus sentidos.

-Eu tinha um amigo...Jaden- sussurrou Yoongi tão baixo que me esforcei para ouvi-lo. -Ele era a pessoa mais adorável que eu conheci. Amável e carismático.

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