As paredes em um tom violeta desbotado não se revelavam tão atraentes após um longo período de encaradas. A confusão pairava sobre minhas últimas ações, e um zumbido fraco preenchia meus ouvidos, um som que não sabia ao certo de onde vinha, mas que já havia me enlouquecido. As lembranças da noite anterior persistiam de forma clara e sombria, tão reais que minha mente se perdia entre a linha tênue da realidade e da imaginação, como se não tivesse as vivido, mas sim inventado um surto repentino.
Não, aquilo era verdade.
Cada palavra de Gong Yoo ecoava em minha mente, causando uma náusea sufocante. E mal percebi quando soltei o garfo dentro da tigela de frutas. Minha mão, agora enfaixada, protestava com dor, dependendo do movimento que fazia, apenas mais um lembrete das desventuras que vivenciava naquela porcaria de mansão. Entretanto, sabia que mais um machucado não faria muita diferença.
Afinal, o que era um peido, não é?
A sala de jantar, um dos poucos lugares aos quais eu tinha acesso, se estendia diante de mim. O mesmo lugar que era obrigada a encontrar aquele homem repugnante todas as noites para o jantar.
Relembrei cansativamente nosso encontro de ontem, revivendo as memórias em minha mente mais uma vez. Na maioria das vezes Gong Yoo não falava nada, mantendo um silêncio sombrio durante nossas refeições. Mas naquela noite em específico, estava tagarelando sobre coisas que não estava nem aí. A monotonia da conversa se estendia durante minutos infinitos, como um filme em looping que eu não aguentava mais assistir.
— Você come bem — disse Gong Yoo na noite passada, sentado à minha frente. — Faz tempo que não tenho uma companhia para jantar.
— E quando tem, costuma torturá-las? — contra-ataquei.
— Aquilo não foi uma tortura, foi um incentivo — respondeu ele, com calma e cinismo. Como se nada tivesse acontecido, como se não fosse um assassino. — A voltagem estava baixa o bastante para te manter viva.
Engoli em seco, tentando não pensar no quão cínico aquele homem poderia ser, gastando minha energia para não chorar diante dele. Fitei meu prato, evitando reviver os choques e as horas em que fiquei à mercê do que quisessem fazer comigo em minha mente. Evitei pensar na minha família, em Jungkook, em todos, porque sabia que as lágrimas seriam incontroláveis se eu o fizesse.
Era inacreditável a forma como ele minimizava os acontecimentos daquele dia.
— Sabe, Jieun, me surpreendi com o quanto aguentou — disse ele, bebericando sua taça de vinho. — Muitos no seu lugar já teriam cedido. Me pergunto qual a motivação que a faz manter segredo.
O peso de seus olhos escuros como a morte estava sobre mim. Opacos e sem vida, mas estranhamente semelhantes aos de Jungkook. O formato, a cor, tão parecidos e tão diferentes. Apertei com força os talheres de plástico em minhas mãos, como se toda minha raiva pudesse ser dissipada aos poucos.
Os vendo, só conseguia pensar no quão ridículo era o fato de ter que comer com talheres e pratos descartáveis. Nem mesmo podia ter a decência de comer com talheres de verdade. Mas também me questionava se jungkook estava sendo alimentado, se comia e bebia todos os dias. Pois, se Gong Yoo tinha me deixado sem comer, poderia ter feito o mesmo com o garoto.
— Onde está Jungkook? — perguntei, fazendo-o revirar os olhos dramaticamente mais uma vez.
Ele bufou, como se minha pergunta fosse uma inconveniência.
— Qual seu sobrenome? — desconversou ele novamente. — Eu conheço um homem que tem os olhos iguais aos seus.
Sempre a mesma coisa, sempre fugindo das minhas perguntas.
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Whisky Cereja
Fanfic(Em andamento) Jeon Jungkook foi criado desde pequeno para ser herdeiro da maior empresa farmacêutica de Nova York. O engraçado é que o encontrei liderando uma gangue de marginais no subúrbio um tempo depois de abandonar tudo. Como aconteceu? Bem...