36- Guarde meu segredo

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 A boate estava cheia, as luzes estavam agitadas e o gelo seco se misturando às cores deixava tudo com um toque de magia. Sempre amei a forma como as luzes atravessavam a névoa, mostrando perfeitamente o caminho das linhas coloridas que enfeitavam a boate. A forma como os brilhos engrandeciam cada canto daquele salão e se uniam em um só no centro do palco sempre me deixavam eufórica.

As pessoas que dançavam no centro da boate não tinham rostos familiares, se quer sabia seus nomes mesmo após recebê-los com um sorriso amigável na portaria. Sentia que a maioria dos meus amigos não estavam lá. A calorosa recepção e a certeza de que dançaria até me acabar na boate parecia tão irreal. Sequer sentia vontade de passar um blush pra sair de meu quarto.

Minhas botas estavam folgadas causando calos em meus pés, mas nada com que já não estivesse acostumada. Houveram noites em que nem os sentia de tanto que dancei por aquele salão.

Mas agora tinha algo diferente.

Meu grupo de balada estava todo reunido na ponta do bar, sentados como um bando de garotinhas que acabaram de perder uma super liquidação na Zara.

— Acho que um selinho ainda é um beijo — Rose disse se escorando novamente na bancada do bar.

Naquela noite minha amiga vestia uma saia de paetês azul e um cropped branco. Os saltos perolados de 7 cm, mostrava que assim como eu, ela sabia que não dançaria muito naquela noite. Mas nada a impediu de encontrar entre a multidão um garoto cujos olhos amendoados a comiam viva.

— Um selinho é um selinho, tem que colocar a língua pra valer como um beijo — respondeu Jimin.

— Disso você entende muito bem, não é Park — Jennie disse enquanto levava os lábios avermelhados ao seu copo de gin.

Jimin não respondeu, acreditava que sequer a tinha ouvido. Sua atenção era sempre redobrada em lugares abertos e com muitas pessoas. A cada segundo ele olhava para os lados, verificava o telefone ou sussurrava algo para Yoongi. Sintia que Jimin havia sido engolido por um mar de preocupações assim que soube da morte de Hoseok. Não o culpava, pois agora estava sob sua responsabilidade a proteção de sua gangue.

A morte de Hoseok mexeu com toda a estrutura que um dia teve Jimin. Hoseok sempre foi seu pilar central e agora que não estava presente tinha a sensação de ver Jimin bambear com frequência. Era doloroso olhar pra ele e não lembrar de Hoseok. Agora que deveria assumir uma postura mais rigorosa se quisesse proteger o que restou da gangue, sentia que ele estava mais frágil que um graveto.

— O que foi? — debochou Jennie. — Onde está o seu senso de humor, Jiminzinho?

— No mesmo lugar onde você deixou sua vergonha na cara, se é que um dia teve uma.

Jimin respondeu fazendo uma careta azeda. Todos rimos, mesmo que no fundo soubéssemos o quão destruído Jimin parecia estar. Jennie seguia o provocando, talvez fosse uma forma de amenizar os ares. Mas a maioria de nós acreditava que ela não tinha a capacidade de se compadecer da dor alheia. Ver Jimin sofrer era sua forma de diversão.

— Já falei que não gosto de você? — instigou a garota.

— Ainda bem. Não sou cabaré pra agradar quenga — revidou o ruivo levando a boca sua garrafa de água.

Jennie mostrou a língua para o garoto. Yoongi ao seu lado abriu um sorriso ladino. Parecia tão cansado quanto qualquer um de nós. As olheiras fundas mostravam o tempo que passou sem dormir. Meu quarto ao lado do seu ouvia em silêncio o murmurar do jovem que virava noite estudando o tal de whisky cereja e o via falhar miseravelmente a cada tentativa.

— Mas, por exemplo, você vai chegar enfiando a língua na garganta da pessoa? — seguiu Rose ainda ansiosa. — Sem mais nem menos?

–-Sim, ué — respondi dando de ombros. — Você quer chamar ele pra um date antes? Já te adianto que é muita mão.

Whisky CerejaOnde histórias criam vida. Descubra agora