40 - Meu amor por você

106 16 22
                                    

Já não fazia mais diferença todo aquele barulho, toda aquela merda de tentar fugir, de tentar ser mais do que apenas um inútil.

Queria acreditar que não fazia diferença nenhuma...

E era isso que eu repetia para mim mesmo enquanto meu corpo era arrastado por aqueles corredores fedorentos e húmidos, por entre aquelas paredes entranhadas de mofo que nunca viram a luz do sol.

Minhas mãos estavam presas por cordas de sisal, com fibras ásperas que se enroscavam cruelmente nas feridas abertas dos meus pulsos. A dor constante alimentava uma raiva crescente, superando qualquer sensação de angústia.

— Anda logo lince, caminha! — disse um deles. Sequer me prestei a responder.

Meus pés seguiram andando na mesma direção sem mesmo pestanejar.

E talvez tivesse sido pelos diversos socos e chutes que recebi a pouco, pelo soco que levei no queixo ter me feito cair no chão como um saco de merda, ou talvez tivesse usado todas as minhas forças, inutilmente, para quebrar aquelas porcarias de correntes dos meus pulsos. Apenas para descobrir que haviam mais 5 guardas fora de minha porta. Ou até a junção disso tudo, que me tomou toda a disposição e vontade de revidar.

Não sei se rezar adiantaria algo, mas naquele momento estava rezando para que Gong Yoo me matasse logo e toda aquela porra de merda acabasse logo.

Meu estômago doía, os músculos de meu abdômen latejavam, minha cabeça ainda estava implorando por um tylenol e aqueles filhos da puta miseráveis ainda queriam que eu andasse mais rápido. Xinguei mentalmente, cada um deles, com todas as palavras de baixo calão que aprendi na vida. Mas não disse nenhuma, porque não valia gastar ainda mais saliva com aqueles merdinhas.

— Vai se fuder.

Respondi, com a voz ainda rouca depois de pensar melhor e chegar a conclusão de que um palavrão não faria diferença.

Por fim, os dois patetas que me ladeavam até um porta dupla atravessaram.

Segui de cabeça baixa, apertando os olhos quando a luminosidade extremamente branca atingiu meus olhos, que há semanas só viam uma luz amarelada e pouco vibrante.

Foi quando enfim percebi o cheiro forte de formol, queimando minhas narinas a ponto de me fazer repuxar o nariz. Esfreguei um pouco até me acostumar com o odor.

— Senhor, não podemos ainda — a voz apressada daquele maldito cara aumentou uma oitava assim que entrei — Estamos colocando um dos nossos melhores protótipos em risco. Não o aconselho fazermos isso, senhor. Posso oferecer outros métodos que não coloquem nossa pesquisa em risco.

Aquela voz, esganiçada, baixa, que murmurava as palavras ao invés de dizê-las claramente. Era irritante ter que prestar um pouco mais de atenção para traduzir o que aquele homem dizia. Trinquei os dentes na mesma hora, evitando encarar o verme maldito que havia recriado o whisky cereja, que havia envenenado meu melhor amigo, que o torturou e tirou tudo o que ele tinha e só Deus sabia mais o que. O irmão de Michael Daniels, o homem que eu estava ansioso demais para pôr as mãos e ver a vida esvaindo de seus olhos enquanto o encarava friamente. Era ele, mal lembrava seu nome, mas sua voz, dizendo que poderia abrir Hoseok tão casualmente ainda me dava ânsia de vômito.

— Ele já mandou você calar a boca, seu nerd irritante.

A voz inconfundível de Hyunjin se sobressaiu, incendiando todas as minhas veias no puro suco do ódio. Por fim ele se colocou à minha frente, me desamarrando de má vontade.

O alívio em meus pulsos feridos foi como um peso a menos em minhas costas. Os toquei, com cuidado para não sangrar mais. Agradeci por não precisar de pontos ainda.

Whisky CerejaOnde histórias criam vida. Descubra agora