41 - A verdade não dita

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<<Jennie>>

— Vamos brincar de adivinhe o que eu estou pensando.

— Não — Jin revirou os olhos pela segunda vez.

— Deixa de ser chato, cunhadinho — revidei sentando enfim na bancada da cozinha depois de alguns minutos seguindo ele pela mesma e insistindo para conversarmos. — Você vai acertar. Dica número 1, tem a ver com você e meu irmão.

Eu não julgaria Jin por revirar os olhos, nem mesmo se fosse pela décima vez. Tinha consciência de que minha presença e irritável insistência, deixavam as pessoas incomodadas. E senso franca, eu não ligava nem um pouco.

Havia uma ironia agradável em irritar os outros, era engraçado tal qual aqueles vídeos de gato na internet. Satisfatório poderia usar para descrever a sensação. Mas dessa vez, a curiosidade era o principal motivo da minha busca por Seokjin. E também, a constante preocupação com o nosso futuro assim como de Jungkook.

— Já disse Jennie. Se quer saber alguma coisa pergunte ao Namjoon — disse o mais velho. — Agora me deixe em paz. Vá ficar com as suas amigas.

Eu sorri para ele, pegando uma mecha do cabelo e enrolando lentamente em meu indicador. Seokjin talvez pensasse que eu era mais fútil do que gostaria, e eram nesses momentos que agradecia por isso. Ou talvez agradecesse a minha mãe por todas as vezes que foi incrivelmente maldosa, insistindo para que engolisse o choro e não derramasse uma lágrima sequer.

Gostava de pensar que era pelo fato de não querer criar filhos fracos, não por ser uma narcisista filha da puta que só se importava consigo mesma e não queria ter uma criança chorando para tirar sua paz, como ela mesma costumava dizer. Quando lembro disso, agradeço por ter nos abandonado, nos largado naquele orfanato imundo.

Depois que ficamos apenas nós dois, Namjoon nunca me pediu para esconder meus sentimentos, muito pelo contrário, dizia que estava tudo bem chorar e sentir medo. Mas mesmo assim, os guardei no fundo de meu coração para não ser mais uma preocupação para ele.

E agora, agradecia que meu rosto era como um mármore escondendo todo e qualquer vestígio de desespero, medo, angústia e saudade que sentia. Jungkook estava em apuros, Namjoon era um traidor, e eu uma inútil mais uma vez tentando esconder a preocupação de todos. Pelo menos poderia dizer que eu era extremamente boa nisso.

— Minhas amigas só sabem fofocar e falar de bolsas caras e bla bla bla.

Aquilo não era mentira, mas além desses assuntos importantíssimos, havia também momentos em que falavam de seus sentimentos. E eu jamais diria que estava morrendo de preocupação por todos nós. Talvez fosse por esse motivo que nunca havia de fato me conectado com Lisa e Rose, elas sempre tentaram cavar mais fundo em mim, mas só extraíram pedras e nem eram preciosas.

Mas isso não significava que eu as amava menos. Não, só às estava poupando de mais preocupações.

— Você faz a mesma coisa — respondeu Seokjin. — Aliás, está fazendo isso agora.

— Ah que isso... Eu falo só às vezes. Além do mais, vir pedir conselhos amorosos pra você é mais empolgante.

Seokjin vestia uma camisa clara e jeans surrados. Seus cabelos castanhos estavam bem penteados, estaria apresentavelmente lindo se não fossem as olheiras verdes e roxas embaixo dos olhos. Parecia exausto, pálido. Sua preocupação com a sobrinha era evidenciado até em seu físico. E mesmo todos o vendo assim, ninguém se opôs quando ele se ofereceu para fazer o jantar.

Nesse momento ele cortava o frango na tábua de carne, as mangas erguidas e um semblante sério, mas não bravo como de costume.

David estava na sala de estar, sentado no sofá olhando "A prova de tudo" com Kai. Ele e Seokjin haviam se aproximado bastante nos últimos dias, estavam sempre juntos. Não incomodou nenhuma vez, mas seus olhos estavam sempre vermelhos e inchados, como se tivesse chorado a noite toda.

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⏰ Última atualização: Sep 27 ⏰

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