39- Me deixe esperar por você

181 17 35
                                    

 O burburinho das vozes misturadas ao bater de taça e talheres era o prenúncio do que acontecia ao cair da noite. Pela janela do banheiro conseguia ver diversos rostos conhecidos perambulando com arranjos de flores, pratarias e um número exagerado de tecidos e candelabros, decorando a entrada da mansão assim como o interior.

Supus.

Todos aqueles rostos preocupados, eufóricos e até mesmo distraídos, estavam andando por aqueles corredores alheios à situação em que Jungkook e eu estávamos. Por várias vezes pensei em gritar, pedir socorro. Mas meu corpo era incapaz de sequer gritar, minhas lágrimas escorriam lentamente sobre minha bochecha apenas por pensar no que Gong Yoo ou Hyunjin fariam comigo caso me ouvissem.

Gong Yoo, sequer estava entre aquelas pessoas. Até onde entendi, espiando na ponta do pé pela minúscula janela, todo o serviço ficou para Mariane. Ela o fez muito bem, diga-se de passagem.

Pelo menos as flores eram de muitíssimo bom gosto.

Mais uma vez, me tirando dos devaneios, Hyunjin adentrou o quarto. Havia saído alguns minutos atrás e enfim voltou, como uma sombra que vagava apenas para o tormento alheio. Desde que a movimentação na casa havia começado, Hyunjin ficou decidido a não me deixar em paz. Havia ficado todo o dia enfurnado naquele quarto me vigiando de perto.

Seu mau humor estava ainda pior naquele dia, era algo extremamente notavel em suas feições.

– Você tem que comer, garota – Ele disse jogando um pote rosa sobre a cama. – Não deixe sobras.

Os cabelos rosados de Hyunjin haviam ficado mais vibrantes. Me perguntei há quanto tempo ele havia retocado, e se havia deixado de reparar nele a tanto tempo que nem percebi a mudança.

Não que eu me importasse verdadeiramente, mas analisá-lo era algo que eu fazia com frequência já que não tinha mais nada para fazer. Mensurar o quanto o odiava também era um de meus passatempos favoritos.

Eu desci da banheira cuidadosamente para não escorregar, sentindo os olhos ameaçadores de Hyunjin sobre mim. Me julgando a todo momento como se eu fosse seu rato de laboratório.

Enxuguei as lágrimas rapidamente.

– Anda logo. Não está com fome? O gato comeu sua língua? – resmungou ele. – Olha garota, não tô com paciência pra suas birras não. Tá me entendendo? Come essa porcaria logo que eu tenho mais o que fazer.

Naquele dia Hyunjin usava uma regata e calças jeans largas e cheias de correntes, os brincos prata nas orelhas eram o único acessório que o rosado resolveu colocar. Havia notado que ele sempre andava de all star, os mesmos que passei encarando por algumas horas no dia em que foi torturada. A gota de sangue seco, escuro demais, que decorava a ponta de teu tênis esquerdo, era minha. Daquele mesmo aterrorizante dia.

A lembrança me fez revirar o estômago e jurei que vomitaria se não tivesse acostumada com o embrulho diário.

– Anda, logo – disse Hyunjin pegando meu braço e me levando ate a cama para que eu comesse.

Não o respondi sequer uma vez. Não me daria ao trabalho. Havia aprendido que com louco não se discute, a menos que esteja disposta a ser mais louca que ele.

E eu não estava com disposição naquele dia.

Era uma daquelas manhas em que só queria me esconder embaixo das cobertas e chorar e chorar. Até o rosto ficar inchado e eu mal conseguir abrir os olhos. Daqueles dias em que dormiria entre os soluços para que talvez no dia seguinte eu conseguisse um pouco mais de coragem para seguir naquela merda de lugar.

Eu só queria desaparecer. Não ser Jieun. Gritar até meus pulmões murcharem.

Eu abri o pote, eram dois pedaços de pizza. Eu encarei os pedaços por um segundo.

Whisky CerejaOnde histórias criam vida. Descubra agora