37 - O mal da meia noite

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<<<Lisa>>>

Minha mãe costumava dizer que boas pessoas sempre se dão bem e que ninguém perde por ser bondoso. Eu sempre discordava dela, porque em minha percepção pessoas boas são sempre as trouxas da história. E a vida deu um jeito de mostrar quem estava certa. Mesmo que da pior forma possível.

A noite de lua crescente sempre me fazia lembrar dela, do castanho dos seus olhos sendo banhado pelas lágrimas e pela forma como mantinha o semblante apreensivo, mas ainda assim compassivo. Me lembrava do quão bom era seu coração por trabalhar dia e noite para que conseguisse comprar uma passagem para virmos juntas para os Estados Unidos tentar a sorte. Mas os dados só giraram para mim, a fazendo ficar e morrer sozinha.

Coincidentemente, eram nessas mesmas noites em que me via colocando em risco tudo pelo que ela lutou. Era difícil admitir aos meus amigos que tremia de medo a noite só em pensar em ser presa, em ser pega, em descobrirem minha situação ilegal no pais. Em jogar fora tudo pelo que minha mãe morreu para conseguir.

Mas éramos um time, e eu mais uma vez estava convencendo a mim mesma que deveria ficar com meus amigos, porque tinha um bom coração. Porque era uma pessoa boa. Ainda que estivesse arriscando tudo.

–  Não acho certo contrariarem o Namjoon.

Rose ditou em um sussurro.

– Eu concordo. Se ele disse que vai fazer alguma coisa, ele vai – concordou Jennie logo em seguida.

Era noite de quarta-feira, a lua crescente não iluminava nem um pouco a rua medonha à nossa frente. Estávamos encurralados em um beco, encarando há mais de duas horas um prédio velho e aparentemente abandonado que Jimin jurava de pé junto ser a nossa salvação.

–  Então porque não está fazendo? – revidou ele fitando minha amiga firmemente. – Até agora só o vi ficar emburrado naquela sala.

Ele não estava totalmente errado. Mas ainda assim havia uma certa confiança transpassada por Namjoon que me fazia acreditar que ele mudaria de ideia.

– E você está sendo de grandíssima ajuda, não é Park Jimin – revidou Jennie como uma faca.

A garota vestia uma calça jeans, sandálias de plataforma e um cropped com sapinhos estampados na frente. Apesar de estar ventando forte a ponto de fazer meus pelos arrepiarem, Jennie não parecia estar com frio.

Jimin balançou a cabeça irritadiço.

— Estou sim.

— Causar um motim não vai ajudar em nada, para sua informação.

Jennie também não estava totalmente errada, apesar de não ter recusado logo de cara quando o jovem Park sugeriu irmos buscar pistas por conta própria. Isso nos trouxe até o suposto esconderijo de Hyunjin.

O plano também não era tão bom, não sabia o motivo que fazia Jimin pensar que ele, eu, Jennie, Yoongi e Kai, conseguiriamos armar uma emboscada para pegar o ruivo e fazê-lo confessar absolutamente tudo em troca de sua salvação. Mas apesar das dúvidas, e eu tinha certeza de que nem mesmo ele acreditava no próprio plano, o seguimos sem olhar para trás.

— Se acha que não sou de grande ajuda, por que veio?

— Pra ver você falhar miseravelmente — ditou ela com um sorriso afiado. — E afinal, qual era o seu grande plano mesmo, gênio?

— Ele vai pedir pra falar com o Hyunjin e depois pegamos ele — resumiu Yoongi.

O garoto vestia uma camisa xadrez e calças cargo rasgadas nos joelhos. Os cabelos pretos se destacavam com as mechas rosadas na nuca, o dando um charme a mais. Mas seu semblante naquela noite era ainda mais preocupado que o normal.

Whisky CerejaOnde histórias criam vida. Descubra agora