12.

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Camila

Dinah quer almoçar lá fora, no Gramado. Está um dia quente, diz ela, e o chão está seco, e talvez a gente não tenha outra chance para um piquenique assim até a primavera.

Acho que ela quer apenas me manter longe de Lauren e Ariana – elas têm feito joguinhos uma com a outra a semana inteira. Se revezando ao olhar para o outro lado do refeitório, depois rapidamente desviando o olhar. Lauren sempre olha para mim também, para ter certeza de que eu estou olhando.

Todos ainda estão fofocando sobre onde ela andava. Os rumores mais populares são "cerimônia sombria de passagem que a deixou marcada demais para estar em público" e "Ibiza".

– Minha mãe virá para me levar à cidade essa noite – diz Dinah. Estamos sentadas, recostadas em um teixo gigante e retorcido, olhando para o Gramado em direções levemente diferentes. – Nós vamos jantar. Quer vir?

– Não, tá tudo bem, obrigada.

– Poderíamos ir àquele restaurante de lámen que você gosta. Minha mãe está bancando.

Eu balanço a cabeça.

– Sinto que preciso ficar de olho na Lauren. – digo. – Ainda não tenho ideia de onde ela esteve.

Dinah suspira, mas não discute. Ela fita o gramado marrom.

– Sinto falta dos Visitantes. Eles eram tão mágicos...

Eu rio.

– Você sabe o que eu quero dizer – expõe ela. – Tia Beryl voltou para minha mãe e eu não vi.

– O que ela disse?

– A mesma coisa que da última vez! "Pare de procurar meus livros. Não tem nada lá para gente da sua laia".

– Espere, ela voltou para te dizer para não procurar os livros dela?

– Ela era uma erudita como minha mãe e meu pai. Não acha que alguém seja inteligente o bastante para tocar na pesquisa dela.

– Não posso acreditar que sua parenta voltou só pra insultar vocês.

– Minha mãe diz que sempre soube que a Tia Beryl levaria sua marra consigo para o inferno.

– Será que os fantasmas aparecem no lugar errado?

– Eu penso neles mais como almas...

– Almas, então. Será que elas se perdem?

– Não tenho certeza – diz Dinah, virando-se para me encarar, arrancando um pedaço de seu sanduíche. – Eu sei que você pode confundi-los. Pode tentar esconder o alvo deles. Tipo, se você teme que uma alma vá voltar e contar um segredo seu, você pode tentar esconder a pessoa viva que ela fosse Visitar. Já houve até assassinatos. Se eu te matar, você não tem como receber um Visitante; ergo, não pode ouvir ou contar o meu segredo.

– Então os Visitantes podem ficar confusos...

– Sim, eles simplesmente aparecem onde acham que alguém deveria estar. Como uma pessoa de verdade faria. Madame Bellamy disse que viu o marido à espreita no fundo da sala de aula algumas vezes antes de ele de fato conseguir atravessar o Véu.

Exatamente como eu via a mãe de Lauren na janela...

Eu deveria contar a Dinah o que aconteceu. Eu sempre conto a Dinah o que acontece.

– Venha – diz ela, ficando de pé e espanando a grama morta da parte de trás das meias. – Vamos nos atrasar para a aula.

Ela estende a mão por cima dos guardanapos e das embalagens de plástico e gira o pulso. "Um lugar para cada coisa, e cada coisa no seu lugar!". Eles desaparecem.

Ascensão e queda de Camila CabelloOnde histórias criam vida. Descubra agora