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Camila

Eu poderia caminhar até Londres, provavelmente.

Se estivesse usando sapatos.

E se não houvesse tanta neve...

Quando Lauren disse para que eu fosse embora, quando ela me culpou pelo ponto morto, eu quis discutir. Mas os pais dela estavam correndo até nós, e estavam em pânico, e eu não soube dizer o que estava acontecendo. Será que o buraco havia engolido toda a casa deles? Toda a propriedade?

Eu me virei para correr de volta para a floresta – mas ela estava em chamas. Por minha causa. Por causa da minha magia. E eu não podia fazer nada para extinguir o incêndio, pois agora não me restava qualquer magia.

– Vá! – Lauren disse outra vez. Então eu fui. Corri.

Cheguei até a estrada. Meus pés estavam ficando dormentes pelo frio, mas continuei correndo. Pela longa estrada. Até a rodovia. Para longe dela.

Ainda estou correndo.

Minha magia retorna para mim toda de uma vez e me arremessa tremendo ao chão. Ainda não tenho uma varinha. Nem um celular...

Eu poderia pegar uma carona – mas será que alguém me apanharia? Será que alguém passaria por essa estrada em Hampshire, no meio do nada, no meio da noite? Na véspera de Natal? (Papai Noel não é real; a Fada dos Dentes é.)

Estou de joelhos na neve no acostamento da estrada. Eu posso fazer isso, penso. Já fiz isso antes. Só tenho que querer. Só tenho que precisar.

Penso em escapar, em alcançar Dinah, penso em minha magia me preenchendo e disparando pelos meus ombros. E então eu sinto-as rasgando o pijama de Lauren...

Asas amplas e ósseas.

Não há penas desta vez; devo ter pensado no dragão. Estas asas são vermelhas e coriáceas, com grandes ferrões nas dobradiças. Abrem-se assim que eu penso nelas, e me retiram da neve.

Não penso em como voar; apenas penso em onde devo ir – Para o alto e avante! –, e acontece. Está mais frio aqui em cima, então penso em estar quente, e minha pele começa a brilhar de calor.

A casa de Lauren está abaixo de mim, à distância. O incêndio que causei ainda arde; assisto à fumaça subindo da floresta e tento me aproximar – mas não sou capaz. Sou feita de magia, e não existe mais magia lá.

Eu flutuo no céu.

Penso em extinguir o incêndio. As nuvens estão cheias de uma chuva congelante – então penso em empurrá-las na direção da floresta, e elas vão.

E daí penso em Lauren me dizendo para partir, então parto.

E daí eu paro de pensar.

Dinah

Minha irmã caçula, Daysa, foi quem atendeu a porta. Ela estava esperando acordada pelo Papai Noel – e fazendo um excelente trabalho; conseguiu aguentar até às quatro da manhã. Acho que ultrapassou mamãe e papai.

Daysa ouviu as batidas e achou que fosse o Papai Noel em pessoa. Nós não tínhamos uma lareira; ela deve ter pensado que ele precisava entrar pela porta da frente.

Ao abrir a porta, Camila caiu dentro de casa, e ela gritou.

Não a culpo. Ela parecia Satã encarnado. Imensas asas vermelhas e pretas. Uma cauda vermelha com uma ponta preta no final. Ela lançou algum tipo de feitiço em si própria que a fazia brilhar em laranja e amarelo, e estava coberta de neve e destroços, usando pedaços de uma blusa e uma calça de pijama mais imunda e elegante.

Ascensão e queda de Camila CabelloOnde histórias criam vida. Descubra agora