32.

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Camila

Quando chego à porta para a Capela Branca, todas as vidraças explodem. Soa como se o mundo estivesse acabando e fosse feito de vidro.

Espero não ter chegado tarde demais...

Para impedir o que precisa ser impedido.

Para ajudar quem precisa ser ajudado.

Corro para dentro da Capela, atrás do púlpito. Então penso no Mago e encontro um caminho até uma sala nos fundos, com uma porta pendendo aberta do teto. Eu agito minhas asas – ainda tenho asas – e pego a borda da abertura, puxando-me para cima.

É uma sala redonda, agora arruinada, e o Mago está ajoelhado no meio dela, os olhos fechados e os ombros trêmulos. Há alguém caído no chão abaixo dele – e, por um instante, penso que pode ser Lauren. Mas Lauren foi atrás dos lorpas; eu sei que foi.

Seja lá quem for no chão, significa que começou.

Limpo a garganta e pouso a mão sobre meu quadril. A espada surge sem o encantamento. É como se todo o mundo estivesse apenas reagindo a mim. Não tenho sequer que pensar.

Não tenho sequer que pensar.

O Mago está com as mãos no peito da pessoa. Há uma névoa de magia profunda ao redor deles. Ele está cantando, e eu levo um minuto para reconhecer a música...

Vem fácil, vai fácil. Entre altos e baixos.

Dou um passo adiante em silêncio; não quero interrompê-lo no meio de um feitiço. Especialmente se ele está tentando reviver alguém.

Siga em frente, siga em frente. – canta o Mago.

Mais um passo silencioso, e então vejo que é Ally sob ele. Solto um grito, não consigo evitar.

A cabeça do Mago se volta para mim, seus lábios ainda murmurando a letra da canção.

– Camila! – diz ele, tão espantado, que retira suas mãos.

– Não pare. – digo, caindo de joelhos. – Ajude-a.

– Camila. – o Mago torna a dizer.

Sangue escorre do peito de Ally.

– Ajude-a! – digo. – Ela está morrendo!

– Não posso. – diz o Mago. – Mas, Camila. Você está aqui. Ainda posso ajudar você.

Ele tenta me alcançar, as mãos embebidas no sangue de Ally. E eu sei que preciso contar a ele agora. Fico de pé, desajeitada, afastando-me.

O Mago apanha sua espada – ela também está sangrenta – e se levanta comigo. Sua cabeça tem um corte acima da orelha, sangrando sobre o pescoço e o ombro.

– Está ferido, senhor. Eu posso ajudar.

Ele balança a cabeça, olhando para um ponto além de mim. Acho que está chocado com minhas asas, mas não sei se consigo recolhê-las neste momento.

– Estou ótimo, Camila. – ele diz.

É tarde demais, já pensei em fazê-lo se sentir melhor: o corte acima de sua orelha se cura de dentro para fora.

A mão dele afaga sua cabeça. Seus olhos se arregalam.

Camila.

Meu queixo começa a tremer e eu aperto o punho da espada até o tremor passar. Tento pensar em deixar Ally melhor – acho que estive pensando nisso o tempo todo –, mas ela apenas fica deitada ali, sangrando.

Ascensão e queda de Camila CabelloOnde histórias criam vida. Descubra agora