• Isso é o Brasil •

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Arte: de

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Arte: de.saturno (IG)

"O Brasil não é para principiantes."
Tom Jobim

0.1

Daniel A.

"Eu saio do trabalho meia-noite. Vem dormir comigo."

A mensagem do meu namorado na tela do celular, me fez abrir um sorriso automaticamente. Eu lhe respondi com um coração e bloqueei o aparelho, o apoiando no painel do carro para ligar o motor. Sai do estacionamento da UFRJ sem pressa, pois a avenida permanecia vazia, como em toda sexta-feira a noite. Alguns alunos do período noturno abandonavam a faculdade após responder a chamada, só para irem curtir o começo do fim de semana com irresponsabilidade. Eu evitava faltar porque muitos colegas me julgavam por estudar ali. Eu só consegui garantir minha vaga porque estudei demasiado, deixando de festejar nos fins de semana para ficar com minha cara enfiada nos livros. Algo que qualquer um que desejasse uma bolsa em Faculdade Pública, poderia fazer.

Quando eu não estava estudando, saia para pintar alguns painéis pela cidade. Não podia reclamar autoria sobre eles, pois minha família ficaria decepcionada se descobrisse que gosto de dar vida a muros em branco, pintando pornografia neles. Eu não era um pervertido, só gostava de me expressar através da arte que incomoda e, ao mesmo tempo fascina, ressaltando a anatomia humana durante seu ato mais profano e instintivo. O sexo fazia parte da natureza e, exalava uma beleza silenciosa ao ser apreciado em determinadas cores e contrastes. Eu não pintava nada explícito de fato, entretanto se meu pai já não conseguia processar minha pansexualidade direito, quem dirá minhas pinturas.

Ao parar o carro no primeiro semáforo, acabei avistando um rosto conhecido sentado no ponto de ônibus. Eu abaixei o vidro a minha direita e me inclinei sobre o banco de couro.

— Quer uma carona ou vai esperar sua carruagem, princesa? — gritei com os olhos pousados em Lucas. Meu colega de classe ergueu a cabeça e sorriu para mim.

— Eu sou pobre, jamais negaria uma caridade. — ele respondeu se levantando e jogando a mochila nas costas. Eu encostei o Honda Civic no meio-fio e abri a porta com a ponta dos meus dedos. Lucas se sentou no banco e colocou o cinto rapidamente. — Cadê teu motorista particular?

— Ele vai trabalhar até tarde hoje. — expliquei. Eu não era acostumado a dirigir, já que meu namorado me levava a todos os lugares. Cadu cuidava de mim como se eu não fosse capaz de acabar com qualquer um que tentasse ferrar comigo. — Então, peguei um dos carros da garagem.

— Um dos? Quantos carros tu tem? — Lucas perguntou exasperado. Eu ergui a mão do volante para lhe mostrar meus cinco dedos. — Caralho, tu não é o Luciano Hulk, mas humilha os pobres mesmo. — desatei a rir e agarrei o câmbio da marcha, trocando-a conforme pisava no acelerador.

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