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Arte: de

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Arte: de.saturno

"O maior erro que você pode cometer é o de ficar o tempo todo com medo de cometer algum."
Elbert Hubbard

1.5
Daniel A.

Minha mãe costuma dizer que os erros fazem parte do nosso amadurecimento. Errar duas vezes é um deslize, mas errar três, é definitivamente burrice.

Cresci igual a maioria das crianças, com meus pais me indicando qual trajeto deveria seguir. O que é certo, o que é errado, o que é ético e o que não é. Aos nove anos, fiz aulas de música e aprendi a tocar violino. Aos dez, comecei na natação. Aos onze, conseguia me comunicar perfeitamente em inglês. Aos treze, selecionava o melhor vinho para harmonizar com o jantar. Aos quinze, já havia conhecido mais de dez países. Fui o filho perfeito que eles esperavam que fosse, sem probabilidade de falhas. Até conhecer Cadu. O fato dele representar esse papel exemplar e carregado de maturidade diante meu pai, me deu brecha para fazer o que realmente gostava.

Da minha adolescência em diante, troquei o violino e a piscina por pincéis e livros de fantasia. Sempre visitava alguma biblioteca ou exposição nova no Rio. A fascinação pelas obras mais polêmicas e exibicionistas, me encorajou a criar as minhas. Meus rascunhos ocupavam todas as páginas de meu sketchbook. Então, no meu primeiro ano de faculdade tive contato com as tintas em spray e os desenhos em larga escala, durante uma oficina de murais. Me apaixonei imediatamente pelas inúmeras possibilidades que um muro em branco poderia me proporcionar.

A minha arte é a forma de expressar o que sinto, os anseios presos em minha mente se multiplicam demais para ocupar um espaço tão sufocante. Preciso criar novos cenários, novas pessoas, novos estímulos visuais para obter os sensoriais. Desenho corpos que se unem a outros e que se não estivessem numa folha de papel, vagariam sozinhos por minha imaginação. Eles não são apenas imagens. São receptáculos, com sua própria alma, sinergia e ânsia por viver. Coloridos por tons terrosos e com personalidades baseadas nas minhas, têm uma inquietude interminável, fome pelo perigo, buscam prazer indefinido, retendo caos em meio ao aflito. Procuram sofrer para obter prazer. São masoquistas, escravos da dor, reféns da maldade, amantes do ardor. E não têm freios para segurar a própria insanidade.

No entanto, quem escolhi para compartilhar parte desse universo, nunca me compreendeu. Cadu cresceu num ambiente rodeado de música, cultura e educação. E mesmo assim, me criticou por cada muro que pintei e por cada poesia que escrevi. Ele não via sentido em "criar" arte sem ser reconhecido ou remunerado. Ele era idêntico a meu pai, não considerava o quão talentoso eu era ou o quanto amava o que fazia. O que lhe importava era a audiência e o dinheiro. Muitos artistas se sustentaram em empregos medíocres, para obter reconhecimento só depois da morte.

Entendo que toda forma de arte acaba sendo comercial: os quadros na parede de um museu, as músicas que ouvimos no Spotify¹, os livros que lemos, os filmes que vemos. Todo entretenimento consumido é pago, semelhante aos itens tangíveis que suprem nossas necessidades. Podemos viver num mundo capitalista, porém há intangíveis que ninguém consegue comprar. A arte continua sendo a maior alegria que nós temos. Capturando a atenção dos telespectadores para eles verem, ouvirem e tocarem. Seja qual for nossa mensagem. Os fazemos pensar e principalmente, sentir... Arte serve para nos libertar das amarras da realidade.

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