• Cada cabeça uma sentença •

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Arte: de

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Arte: de.saturno

"Os outros são realmente terríveis. A única sociedade possível, é a de nós mesmos"
Oscar Wilde

0.3

Daniel A.

Eu abri minhas pálpebras, reconhecendo o teto com sancas de gesso e as camadas de tecido macio abaixo de mim. Me sentei com um pouco de dificuldade na cama, piscando com a claridade exacerbada do quarto, advinda da janela entre-aberta. Eu sentia uma pontada constante no fronte do meu crânio e a luz, só a intensificava. Todos os meus músculos latejavam, principalmente os do rosto, me relembrando do impasse que tive na noite anterior.

— Filhos da puta. — murmurei com aversão a cada bandido que residia lá. Eu comecei a compreender porque meu pai defendia a polícia do RJ com tanto afinco e até a concordar consigo em alguns aspectos. Antes que me movesse para fora da cama, o som da porta se deslocando me atingiu e um corpo desnudo com uma toalha enrolada na cintura surgiu. Eu abri um sorriso malicioso, avaliando cada gomo ressaltado do abdômen de Cadu, enquanto gotículas de água escorriam por sua pele.

— Bom dia, Dan. — ele disparou, caminhando na direção de seu closet rapidamente. Fiquei sedento, recebendo apenas migalhas da visão de suas omoplatas definidas e de sua tatuagem de caveira, que fechava suas costas. — Você pode me explicar por que você apareceu completamente fora de si, e quase bateu o carro no meu portão? — Merda. Eu não sabia explicar nem como deixei aquele labirinto de vielas do Jacarézinho. Por que meu estado inconsciente não me levou para minha própria casa? Eu estava com muita ressaca e dor de cabeça para conseguir formular um argumento decente. — E ainda, todo sujo de tinta. — diante meu silêncio, Cadu saiu do closet vestindo um short da Nike e deslizando suas íris castanhas por mim. Uma expressão séria adornava seu rosto. Eu engoli em seco, sabendo exatamente o que aquele olhar significava: decepção. — Você vomitou no meu banheiro inteiro e eu tive que te dar banho e te colocar para dormir como uma babá.

— É que... — eu abri um sorriso falso e ele afundou o joelho na base da cama e arqueou seu torso para frente, diminuindo totalmente a distância entre nós. O sopro de sua respiração com a face tão próxima a minha, me deixou sem escapatória, a não ser lhe dizer algo. — Eu... Eu fui beber com uns amigos da faculdade.

— Não nos mesclamos com esse tipo em específico. — me relembrou sem mudar sua fisionomia. O que ele possuía de beleza, ele possuía de elitista. E eu nem podia discordar, pois fomos educados para ser exatamente assim. — Eles só usufruem de sua ingenuidade através do apelo financeiro, desejando um subsídio constante.

— Eles não me usam, eu é que insisto em auxiliá-los no que estiver a meu alcance. Se você os conhece... — me calei no instante que Cadu jogou o edredom para o lado vazio da cama, e cravou suas mãos nas minhas panturrilhas. Ele estalou a língua e a deslizou pelos lábios inferiores.

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