Capitulo 11🔥

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Benjamin Taylor

Eu estava perdendo o juízo? Era tarde demais para voltar atrás quando vi Angélica entrar. —Posso entrar? — Sua voz ecoou e, ao olhá-la, um sorriso iluminou seu rosto. Céus, como eu gostava de vê-la. Em câmera lenta, parecia que seus cabelos cacheados curtos flutuavam ao vento. Ela se sentou na primeira fila, e eu, levantando-me, dei meia-volta na mesa para ficar de frente para ela.

— Achava que desobedeceria o Herrera!

— Eu tive que vir. Esqueceu que todos os professores têm alguma marcação comigo? Sabia da fama de Angélica: as inúmeras detenções e as péssimas notas daquele último ano. Na verdade, eu não tinha um relacionamento próximo com os outros professores da escola; queria evitar que meu disfarce fosse descoberto. — Angélica! — chamei-a pelo primeiro nome sem pensar, e ela se levantou apressada, ficando frente a mim.

— Eu precisava registrar que o cara que eu detesto me chamou pelo primeiro nome! É um milagre! — disse ela, divertida.

— Angélica, menos. Por favor, sente-se.

— Tudo bem! — Ela se sentou, e eu continuei. — Agora, diga-me por que mudou de ideia sobre a detenção.

— Você já está tendo problemas demais, Angélica. Com essa detenção, você pode acabar suspensa.

— Beleza, professor! E qual será meu castigo?

— Na verdade, quero a sua ajuda.

— Minha ajuda?

— Sim, gostaria que você me mandasse a matéria que fez para a rádio da escola sobre aquela menina que...

Mas ela se levantou e se aproximou, segurando minhas mãos.

— Anelise? Claro, eu me lembro. Você chegou justo no dia do aniversário da morte dela. Mas, no fundo do meu coração, acredito que ela ainda está viva.

— Por que você acha isso?

— Porque todo mundo acredita que ela morreu, mas eu ainda tenho esperança. Minha avó é sensitiva; ela disse que Anelise está bem perto da gente.

— Seja o que for, eu gostaria de entender por que os alunos continuam fazendo um espetáculo na escola em relação ao armário dela.

— Professor, isso é uma cidade pequena. Aqui todo mundo se conhece, e a Anelise era muito querida por aqueles que a viam nos corredores.

— Você pode me enviar até sexta-feira?

— Farei o possível, mas posso te fazer uma pergunta? — Ao olhar para nossas mãos ainda entrelaçadas, percebi que ela me encarava. — Quem era aquela mulher loira que vi mais cedo?

— Angélica, agora você pode se retirar.

— Você não vai me responder?

— Já que você não vai sair, eu saio. Eu precisava fugir daquela situação, me distanciar daquele sentimento.

...

Mais tarde

Estava saindo do colégio quando vi uma aglomeração na rua. Aproximando-me, fiquei em choque ao ver Angélica caída. — Mas o que aconteceu? — Abaixei-me para ver como ela estava.

— Ela viu que a Gabriela, do quinto ano, ia ser atropelada. Correu para salvar a menina, mas foi atingida. O motorista fugiu sem prestar socorro.

— Levem-na para a enfermaria! Alguém, por favor, chame a outra criança! Se algum de vocês puder pegar meu paletó para cobri-la... Meu coração ardia de medo de perder mais alguém, e eu não suportaria me sentir culpado pela Angélica. Ao pegá-la no colo, notei que ela estava usando uma mini saia. — Se alguém se atrever a tirar fotos ou filmar, vai ter que lidar comigo! Alguém me ajude a cobri-la. Olhei para seu rosto desmaiado, quase sem vida. A carreguei até a enfermaria e esperei do lado de fora. Peguei meu celular e enviei uma mensagem para Inês: "Desculpe, não poderei almoçar com você. Aconteceu um acidente com uma de minhas alunas."

Olhava o relógio fixo na parede, e o beijo de Angélica veio à minha mente.

— Angélica! — murmurei seu primeiro nome ao perceber que ela se virava. A vi com a maquiagem borrada enquanto a água caía sobre nós.

— E agora, você vai defender aquela vadia?

— Angélica, você está alterada. O que a Inês fez para você?

— Então você conhece o nome da mulher que foi preconceituosa? Ela simplesmente me tratou mal quando quis experimentar alguns colares expostos. Pelo que sei, as mulheres desse evento podem experimentar e escolher. Ela disse que "pessoas como eu" não podiam experimentar, que eu era "negrinha e não tinha dinheiro." Quando a vi com você, fiquei com raiva e ódio. Você merece alguém melhor que ela.

— Quem você acha que eu mereço? — A observei sorrir, dando dois passos e sussurrando em meu ouvido.

— Não se envolva com aquela mulher. A chuva caía sobre nós, e nossos olhares se cruzaram. Meus olhos desceram por seus lábios, e a puxei para mais perto. Ela me surpreendeu ao me beijar sob a água. As mãos dela envolveram minha nuca, e, por um momento, eu me esqueci de quem eu era.

— Droga, que feitiço você lançou, Herrera? — perguntei, temendo perdê-la. A porta da enfermaria se abriu e era a enfermeira.

— Professor, pode entrar? — As duas cortinas que dividiam a maca mostraram a menina, que só tinha alguns arranhões. Fiquei aliviado ao ver que ela estava bem. A enfermeira me disse para aguardar, enquanto eu me preocupava com Angélica.

— Ela ainda não acordou? — perguntei.

— Temos que aguardar. Já comuniquei à direção para encontrar os responsáveis.

— Ótimo.

— Poderia ficar um pouco com ela?

— Claro. Sentei-me ao lado de Angélica e coloquei minha mão sobre a dela. Ali, percebi o quão generoso era seu coração, que havia salvado aquela criança de uma tragédia maior. Acariciei sua testa, desejando estar em seu lugar. Me inclinei um pouco e sussurrei em seu ouvido: — Estou orgulhoso de você, Angélica. Mas volte para mim. — disse a mim mesmo.

Os pais de Gabriela chegaram assim que souberam que Angélica a salvara e se mostraram gratos. Ao entrar na enfermaria, fiquei aliviado ao ver que Angélica havia acordado.

— O que aconteceu? — perguntou ela, confusa.

— Você foi atropelada, querida. — intervi.

— Quem é ele? — questionou, olhando para mim.

— É o professor Benjamin, querida. Você sabe onde está? — Eu e a enfermeira nos entreolhamos, assustados, mas logo Angélica começou a rir.

— Vocês deviam ter visto a cara de vocês! Achavam que eu tinha perdido a memória?

— Menina, isso não se faz!

— Desculpa, poderia me deixar um pouco com o professor?

— Sim, preciso ir almoçar. Como seus pais não estão na cidade, a mãe da Camila está vindo te buscar.

— Valeu! — Angélica sorriu e se levantou da maca. — Acho que ela já foi.

— Angélica, nunca mais faça uma... — Antes que eu conseguisse terminar, ela me beijou. Fui me entregando a aquele beijo que, por mais que quisesse escapar, Angélica parecia ter um poder hipnótico sobre mim. Ela se soltou, surpresa, mas eu queria aquele beijo. Sem pensar, puxei seu braço e, dessa vez, fui eu quem a beijei com paixão. Suas mãos foram para meus ombros e eu a puxei mais para perto. Nos separamos abruptamente quando a maçaneta girou, e uma mulher elegante entrou.

— Querida, como você está? — perguntou. Saí apressado, sem cumprimentá-la, e corri para o banheiro mais próximo, jogando água no rosto.

Ao olhar meu reflexo no espelho, percebi que o beijo daquela menina estava se tornando uma obsessão, como uma droga que não saía das minhas veias. — Você está me deixando louco, Herrera. Por que você tem que ter um gosto tão bom?

AngélicaOnde histórias criam vida. Descubra agora