30. Tudo de volta ao normal... ou quase

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Namjoon


Um mês depois.

Seokjin e eu estamos de volta ao normal. Ele ainda está morando com Hoseok, claro, então não dividimos mais a mesma casa. Mas de resto está tudo como antes de começarmos a transar. As brincadeiras, as risadas, a conversa fácil. As caronas. Ele vem me pegar toda manhã, me traz de volta no fim da tarde, e assunto nunca falta. Como antes.

Os Kim me convidaram para passar o Natal com eles, e fiquei tentado a ir. Principalmente considerando a situação da mãe do Seokjin. Mas, no fim, acabei indo visitar minha família. Foi meu primeiro Natal lá desde que me formei. E foi importante. Um recomeço, não apenas para diminuir minha dependência de Seokjin e sua família, mas também para me reaproximar da minha família.

Acho que fiz alguns avanços. Durante as festas, fiz um esforço para me colocar de igual para igual em relação aos meus irmãos — fazer todos entenderem que, só porque decidi escolher outro caminho, não significa que não possa ser bem-sucedido. Minha mãe ainda não conseguiu aceitar por inteiro minha decisão de não me tornar advogado apesar de "todo o sacrifício" que ela fez, mas consegui um belo avanço com meu pai e meu padrasto. O suficiente para ficar ansioso pela visita que eles ficaram de me fazer em fevereiro.

Considerando tudo, minha vida está boa como não ficava fazia tempo — deixando de lado, claro, o fato nada irrelevante de que tenho sentimentos muito, muito complicados por meu melhor amigo. Sentimentos que me devoram quando estou sozinho à noite, quando a solidão e a escuridão me imploram para que confesse para ele o que sinto. Mas, quando nos vemos no dia seguinte e ele conta uma história engraçada sobre ter sujado até o teto de vitamina em uma tentativa de fazer o café da manhã para o Hoseok, lembro a mim mesmo que, se gosto mesmo dele — e gosto, mais do que tudo —, preciso permitir que seja feliz. E a felicidade dele é Hoseok.

O que me leva à notícia que estou prestes a dar...

Seokjin já está acomodado no assento do motorista, digitando no celular, quando entro no carro depois do trabalho.

— Ei, que tal um karaokê hoje à noite? — ele pergunta quando me acomodo no banco.

— Claro — respondo, afivelando o cinto de segurança. — Quem vai?

— Eu, você e Hoseok, claro...

Claro.

— E Jimin, com o namorado e a irmã. Ah, e um garoto do trabalho, Taehyung.

Enrugo a testa. 

— Pensei que a gente detestasse o Taehyung.

Seokjin levanta um dedo. 

— A gente detestava o Taehyung. Agora, a gente só acha que Taehyung precisa de amigos para entender melhor sobre socialização.

— Entendi. Bom, Taehyung está com sorte, porque eu sou um ótimo amigo.

— Com certeza — Seokjin concorda. — A não ser quando...

Ponho a mão em sua boca para fazer com que fique quieto, então deixo os folhetos que estavam na minha mão em seu colo.

Seokjin olha para baixo. 

— O que é tudo isso?

— É uma brincadeira nova de que ouvi falar — respondo. — Acho que chamam de 'leia'.

Ele me ignora, folheando tudo e logo percebendo do que se trata.

Seokjin levanta os olhos. 

— Pós em administração.

Dou de ombros. 

— Decidi que está na hora de aceitar o fato de que adoro meu trabalho, e estou a fim de um desafio. Achei que poderia ser, tipo, minha volta por cima, já que levei a faculdade muito nas coxas. Quero me destacar agora.

O rosto dele se acende enquanto falo, e meu peito se enche um pouco, claro, porque dá para perceber que está orgulhoso. Orgulhoso de mim.

— Já pensou em qual vai ser sua especialização ou vai começar com um currículo mais genérico e... — Ele se interrompe, e eu fico tenso, ciente do que está prestes a acontecer. Então ergue os olhos, e agora a expressão em seu rosto é de confusão. — Todos esses cursos são em Busan.

— Pois é — respondo, tentando parecer despreocupado. — Tem faculdades muito boas lá, e...

— E tem faculdades muito boas aqui. Em Seul.

Ele é teimoso. E lindo.

— Mas Busan fica a duas horas daqui só — rebato. — É fácil ir e vir no fim de semana.

Essa é a vantagem. Vou estar perto o suficiente para continuar, bom, perto de Seokjin. Para dar meu apoio quando for preciso. Mas também vou conseguir manter um pouco de distância. O suficiente para superar meus sentimentos por ele. Espero.

— Mas e o trabalho? — Seokjin pergunta. — Você acabou de dizer que...

— Tem uma vaga na filial de Busan. Já disseram que, se eu quiser, posso ir pra lá.

— Você já decidiu tudo? — Seokjin parece atordoado. — Há quanto tempo está planejando isso?

Ouço o que ele não diz: Sem me contar.

Entendo sua perplexidade. Houve um tempo em que contávamos tudo um para o outro. Mas não posso continuar fazendo isso. Preciso ser mais... cauteloso. É uma questão de autopreservação. E talvez seja egoísmo, mas mudar para Busan é uma forma de manter a melhor parte da nossa amizade sem que eu morra por dentro no processo.

— Bom, fico feliz por você — ele diz. — E adoro Busan! Posso ir pra lá o tempo todo. A gente pode ir ao Pike Place Market e...

Vejo as lágrimas se acumulando, então ponho a mão sobre a sua. 

— Só preciso de uma mudança de ares, Jin. Você entende, né?

Ele dá uma fungada. E aperta minha mão. 

— Entendo. Se é isso que você quer, fico feliz. De verdade.

Abro um sorriso, porque sei que suas palavras são sinceras. Porque, depois de tudo por que passamos, esse é um detalhe crucial que aprendemos sobre nós. Vamos sempre colocar a necessidade do outro em primeiro lugar. Sempre.

Quando percebemos que estamos de mãos dadas no estacionamento do trabalho, nos afastamos às pressas. Certo, nem tudo está como era. Não nos tocamos mais. Quando isso acontece, em um momento de distração, o clima fica esquisito.

Em um entendimento tácito, não conversamos sobre minha mudança para Busan durante a volta para casa, nos concentrando no recall de um short de corrida que a firma precisou fazer, porque o troço causava alergia e assaduras.

— Hoseok e eu podemos pegar você pra ir ao karaokê — ele diz. — Que tal às sete?

— Não precisa, eu encontro vocês lá — respondo.

Estou lidando muito bem com o relacionamento deles. O melhor que posso. Mas evito os dois juntos sempre que possível. Como disse, é uma questão de autopreservação.

Saio do carro e aceno para ele enquanto observo o seu carro se afastar do meu prédio.


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Meu melhor amigo | NamjinOnde histórias criam vida. Descubra agora