Acordei com a lembra daquele último beijo e agora estou tomada pelo aperto no peito. Nunca estaremos prontas para o amor, mas eu me vi perdida quando tive que abrir mão dele e permitir que Caroline Biazin vivesse o que eu já tinha vivido e sinceramente, durante esses 2 anos eu durmo e acordo pensando nela. Será que ela está dessa maneira na Europa? Arg. Não posso pensar nisso. Ultimamente o arrependimento tem me consumindo, não é fácil esquecer essa garota. Eu não sei como lidar, ando me afundando em hobbies para não me sufocar no álcool. Meu coração chora por Caroline todas as noites quando sinto seu beijo, o mesmo que senti há 2 anos atrás.
Sábado, tem sido meu dia favorito da semana. Ando tentando aprender a surfar, então acho justo ficar na casa dos meus pais enquanto isso. Depois de um banho desci para o café da manhã, minha mãe já tinha posto a mesa e meu pai estava lendo seu jornal enquanto minha mãe servia café nas xícaras.
— Bom dia. — falei recebendo um beijo de minha mãe.
— Bom dia, Querida. Como está? — ela andava me perguntando muito isso, com aquele ar de "eu sei" que toda mãe tem.
— Um dia de cada vez, não é? — sorri para ela e ela me devolveu um aceno de cabeça.
— Bom dia, Day. — disse meu pai largando o jornal e bebendo uma dose cheia de café.
— O que o senhor vai fazer hoje? — perguntei me servindo dos ovos mexidos que minha mãe fez.
A casa de praia dos meus pais é chique em um limite absurdo, é tudo que eu gosto. Tem janelas grandes que mostram toda a praia e o sol invade o ambiente durante todo o dia. O amarelo fogo aconchega o ambiente e me abraça todas as manhãs.
— Eu tenho uma reunião, consegui contato com um artista promissor. Por que? — perguntou enquanto comia panquecas.
— Vamos surfar? Não sei se Bruno consegue vir hoje para me acompanhar. — eu e meu pai nos resolvemos na viagem para Itália, que foi quando mais me vi quebrada por seguir contra os instintos do meu coração. Acredito que isso foi um sinal de trégua.
— Eu posso passar aqui depois da reunião, mas não é certeza. — fazia anos que meu pai não tirava férias de verdade, ele sempre fica em ligação ou no celular resolvendo e respondendo sua equipe.
Depois do café eu fui atrás de um biquíni no meio das roupas que eu trouxe, achei um preto que ainda não havia usado, coloquei um boné e um short jeans, mas nem abotoei para ficar mais confortável para entrar no mar. Aproveitei para ligar algumas vezes para Bruno, mas ele não me atendia então decidi mandar uma mensagem.
"Você consegue vir hoje?"
perguntei convicta que ele não fosse responder."Estou no mercado, a caminho daí."
nunca entendi a dificuldade de Bruno em atender o celular, mas responder de prontidão mensagens de texto.Desci para a sala e me joguei no sofá para matar o tempo, fiquei olhando para o mar, não estava nada agitado o que é perto para quem tem medo. Sempre tive muito medo de me afogar mesmo que eu saiba nadar, mas sei em uma piscina...
Enquanto eu folheava uma revista deixei meus pensamentos voltar a tão familiar casa de Caroline. Minha última noite na Inglaterra foi ao lado dela, assistimos a um filme e ela apagou em meus braços, aproveitei para memorizar o cheiro do shampoo que ela usava — não é atoa que eu o uso agora — e para sentir a textura de sua pele. Na manhã seguinte eu fui embora bem cedo, em uma quarta-feira, dando um beijo de despedida em sua testa. Não aconteceu nada além disso, depois do nosso encontro nos tratamos mais como amigas do que qualquer coisa, demos alguns beijos porém foram doloridos demais e decidimos deixá-los. Quem dera voltar atrás.— Senhorita... — uma mão tocou meu ombro, era Rita, a governanta da casa — Senhor Bruno chegou. — disse quando meus olhos a encontrou.
— Obrigada. — dei um sorriso para enganar o meu olhar triste.
Me levantei e fui em direção a Bruno, já eram nove horas da manhã, nada pontual. Ele estava com uma camisa de botão verde musgo, short branco e um boné.
— Isso é roupa para surfe? — perguntei o abraçando.
— E a sua é? — perguntou me dando um beijinho no topo da cabeça.
— Está melhor que a sua e olha... não vou usar aqueles macacão que usam, já tentei e você se lembra. — ele gargalhou.
— Ficou horrível! — riu ainda mais por lembrar.
Tentei rir junto, mas estava sentindo o peso do arrependimento de não ter a deixado mais, não ter a amado mais e por não ter ficado.
— Essa carinha tem nome. — disse Bruno chamando minha atenção pra si — Bia...Zin — completou.
— Gostaria de saber aonde ela está, eu simplesmente iria... — e o que mudaria? Afinal de contas, eu a abandonei sem mais nem menos. Ela deve ter ficado pior que eu por não ter me visto pela última vez, nem mesmo rolou um beijo casto.
— Uma hora você vai ter que entender que o arrependimento não te leva a lugar algum. As vezes ir até ela piora tudo, aliás... ela já deve ter seguido em frente. — disse Bruno pegando as pranchas e indo em direção à praia.
— Você tem razão... — suspirei sentindo o sol quente queimar minha pele.
Eu tentaria ter um sábado diferente, não quero estar triste para sempre com uma decisão que já foi tomada há anos. O sol estava ao meu favor, deixando a água mais quente, meu cabelo estava completamente molhado das vezes que cai na água por falta de desequilíbrio, por sorte a praia estava completamente vazia. Bruno já surfa há uns bons anos, então me sentei na areia para observar e entender o que me impedia de ter equilíbrio.
— Filha? — escutei a voz de meu pai.
Olhei para o lado e o vi, com roupas ainda sociais, ele não veio para me ajudar a subir na prancha. Eu acenei para que ele entendesse que eu ouvi, mas assim que prestei melhor a atenção havia alguém com ele. Mais madura, com o cabelos maior e o corpo mais definido. Usando um óculos preto e roupas apropriadas, era Caroline Biazin.
— Filha, quero que conheça a artista que me referi hoje cedo... Carol Biazin. — eu não consegui tirar os olhos dele, sentia seus olhos em mim esperando que eu a olhasse — Day? O que foi? — perguntou envergonhado pela minha falta de educação.
— Desculpe. É um prazer, Carol. — falei tirando os olhos dele o mais devagar que consegui.
Ela sorriu, aquele sorriso maravilhoso. Senti meu corpo ficar fraco e meu estômago se revirar. Ela está tão diferente! Se tornou uma mulher, perdeu seu rosto juvenil e está exalando poder.
— Venha, vou te mostrar minha casa... — ouvi meu pai dizer, mas antes eu o puxei pelo braço.
— Pai, o que está fazendo? — perguntei tentando manter a minha voz, pois sentia um nó na garganta.
— Ela é muito talentosa, estou tentando fechar negócio com ela. Achei que convenceria melhor sem aquilo do escritório e bla bla bla... — eu gostaria de fazer muitas perguntas que só ele poderia me responder agora, mas ele me cortou — Tenho que ir. — falou se retirando.
Durante todo esse tempo não fiz questão de procurar pelo seu nome em qualquer aba de pesquisa, em qualquer rede social. Era óbvio que ela se sairia bem, mas nunca estivesse tão surpresa pelas circunstâncias.
Fiquei ali perplexa, os olhando entrar na casa. Caroline olhou lá de cima para mim, eu dei um passo para frente e ela simplesmente se virou e sumiu pelos cômodos.
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The Lake House (Dayrol)
Mystery / ThrillerLondres: tempos atuais. Fui enviada da Califórnia para cá na tentativa estúpida de resolver mais um caso. O que eu não acho ruim, viajar tem sido meu alicerce para fugir de alguns problemas pessoais, mas não há nada de bom em casos assim. Uma garo...