•Capítulo Vinte e Dois•

6K 714 143
                                    

Késsio

Podia ouvir a respiração de Janete ficando mais lenta a cada minuto que passava, olhei para cima e vi que ela estava se esforçando para manter os olhos abertos, suas carícias em meus cabelos também estavam me deixando com sono, mas eu não queria dormir, não naquele momento. Queria aproveitar aquele momento de paz junto da minha mulher, e do meu filho que estava em sua barriga, ainda tão pequeno. 

Subi e deitei ao seu lado, puxando-a para mim e puxei o cobertor sobre nós. Janete se aconchegou contra o meu peito e suspirou baixinho, fechando os olhos. 

— Eu ia te contar. —  Ela disse de repente. 

Olhei para baixo, em seu rosto, ela estava com os olhos fechados e a expressão relaxada. 

— Quando eu te chamei para conversarmos mais cedo, mas fomos interrompidos. —  Ela abriu os olhos e olhou para mim, e seu olhar gerou um impacto em mim, que me deixou sem ar por um momento, só consegui olhar para ela de volta. 

— Eu... —  Pela primeira vez em toda minha vida, fiquei sem palavras. Simplesmente pelo olhar daquela mulher. —  Janete...

Segurei o seu rosto e beijei seus lábios levemente, querendo apenas senti-los contra os meus. 

Janete estava esplêndida ali, com a pele avermelhada, o rosto levemente corado, e aquele olhar oceânico, perfeita. 

— Eu o teria contado quando descobri, mas passamos uma única noite juntos e eu pensei que você não acreditaria. Mas então você apareceu bem na minha porta.

— Eu não acredito muito em destino, mas agora é a única coisa em que consigo pensar.

— Eu também. —  Janete deitou a cabeça em meu peito e respirou fundo.

Pensei em como as coisas seriam dali para frente, Janete iria morar comigo, eu teria que procurar uma casa maior, e Dantas... Eu não podia deixá-lo sozinho. Dantas estava a beira da loucura, mas eu o mantinha de pé. 

Me lembrei a semana anterior, quando o peguei sentado no chão da cozinha, de madrugada, com uma faca na mão. Seus braços estavam cortados dos pulsos até a dobra, e ele tinha aquela expressão de sofrimento. Não sofrimento causado pelos cortes, mas o sofrimento vinha de dentro. Cada minuto que Dantas passava com as lembranças, era puro sofrimento. 

Todos tem medo dele, mas ninguém além de mim viu Dantas se acabando no álcool, ou se automutilando, chorando como uma criança. Já faziam dez anos, dez anos desse fodido sofrimento. Dantas estava muito perto de desistir, não existia mais nada que o mantivesse aqui, vivo. Nem sequer eu o faria mudar de ideia. Mas eu queria ficar perto, dá-lo uma razão para continuar lutando.

Por isso ele viria com a gente. 

— Janete? —  Chamei.

—  Sim? —  Respondeu sonolenta. 

—  Você irá comigo para Manhattan? 

Janete ficou quieta, estava pensando sobre o assunto, e eu deixei que ela pensasse sem falar nada.

— Você quer que eu vá com você, por mim, ou só por causa da gravidez? 

Doce Perfeição | Série "Donos da Máfia" | Livro 6Onde histórias criam vida. Descubra agora