7.

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A ressaca nunca foi tão pesada.                     

Bianca não dormiu a noite, há noites estava tendo pesadelos, pesadelos que conhecia bem. Ela olhava para o teto, compenetrada na sujeira que ali se instalava. Tudo passava em sua mente como um filme, um filme de muito mal gosto. Ela não conseguira parar de pensar no que aconteceu na manhã anterior. Beijou não só sua professora, mas a diretora de sua faculdade. Sentia raiva por se ver tão frágil e vulnerável, estava exposta, sozinha.
                   

E aquele momento, naquele banheiro gelado, como? Como foi tão intenso, ficaram ali por minutos que pareciam uma verdadeira eternidade. Bianca decorou cada parte do rosto de Rafaella, cada sarda, cada tom do verde de seus olhos, ela estava impregnada por sua presença, extasiada e não entendia.
                     

Como podia? Acabou de conhecer Rafaella, faziam alguns poucos meses e foi provada que a convivência entre as duas não conseguia ser nada amigável, Rafaella era prepotente, arrogante, grossa, sentia prazer em humilhar as pessoas diante das outras e isso embrulhava o estômago de Bianca e por alguma maldita razão, ela não conseguia parar de pensar nisso.
                     

Ela olhou para o lado e viu Mariana dormindo, a amiga não falou com ela o dia inteiro, não respondeu suas mensagens e chegou tarde no dormitório.
                     

Pensar nisso deixou Bianca magoada, seus pesadelos ecoavam na sua cabeça e não sentia nem mesmo que tinha sua amiga por perto pra passar por esse momento. Ficar naquele quarto pareceu sufocante para Bianca, ela se levantou e colocou um sobretudo e tênis, pegou sua bolsa de mão e decidiu dar uma volta.
                   

A noite estava bonita, a primavera ainda estava sendo generosa com os cidadãos Californianos, Bianca podia ver claramente as estrelas pregadas no céu, uma brisa gelada bateu em seu rosto aquecido e a fez se arrepiar. Ela abriu sua bolsa de mão e pegou um cigarro de maconha bem bolado e pela metade. Se sentou em uma guia próxima ao seu dormitório e acendeu.
                     

Os pesadelos... Devia ligar pra sua mãe? Essa era uma questão bem delicada em sua família e ela fazia de tudo pra não se pegar pensando nisso, mas diante de todos os acontecimentos, a forma como Rafaella fazia sentir, o estresse que andava sentido, não conseguia controlar.
                     

A vida de Bianca embora desregrada sempre fora muito bem controlada pela morena, era bem simples, tinha tudo e a todos ao seu lado, conforme sua necessidade e de repente estava sendo traída por si mesma, pelo seu corpo e suas vontades, pelo seu coração e não sabia reagir, não sabia lutar contra isso. Sentiu uma presença se aproximando, virou pra trás de pressa com medo.

                     

- Noite agradável, não? - Perguntou seu professor, Tadeu.
                   

Seu coração ainda acelerado a fez gaguejar em nervosismo.                     

- Si...Sim.
                    

- Desculpe, eu não quis assustar você. - Desculpou-se com sinceridade.
                    

Tadeu usava pijamas e uma pantufa adorável do Pernalonga. Tinha um sorriso doce no rosto, tentando acalmar a jovem.
                     

- Eu não sabia que professores dormiam aqui. - Disse Bianca tentando esconder seu cigarro.
                    

- Todos nós temos dormitórios, dormem os que querem. - Disse ele percebendo o que Bianca tentava fazer, se aproximou enquanto falava e pegou o cigarro de sua mão escondida dando um trago.
                     

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