Amélia
Não consegui dormir, prefiro acreditar que foi o fuso horário e não o fato de reencontrar Lucas, meu pai e Laura.
Não aguentava mais ficar na cama, então usei o tempo para arrumar minhas coisas que estavam espalhadas pelas diversas malas.
Meu quarto continuava o mesmo desde que sai. Imaculado, como se até os tapetes não tivessem saído 1 centímetro do lugar que os deixei. O piso de madeira escura, as janelas enormes que iluminavam todo quarto, os móveis de madeira, cômodas, guarda roupa, mesas, poltronas.A cama enorme no centro do quarto, com a colcha branca, o dossel da mesma cor que eu tanto amava, além de gostar da delicadeza que transmitia, era muito útil em relação aos insetos em certas épocas do ano. Meu antigo guarda roupa ainda continha algumas peças que deixei. Minha camisa do Bon Jovi, alguns álbuns de fotos de infância. Que por sinal sou grata aos anos que se passaram.
Tirando os sons de panelas que vinha da cozinha, tudo era silencio. Percebi uma movimentação de carros por volta das 7:30.
Tomei meu banho, a água gelada lavando o shampoo dos meus cabelos, é incrível como o sol já está tão quente a essa hora. Eu acabei aprendendo a gostar do clima mais frio, mas eu sempre fui guiada pelo sol, meu humor é outro... o verão, vitamina D, calor.
Enrolo a toalha no corpo e vou em direção ao guarda roupa pensando no que vestir, quando alguém começa a bater na minha porta.
-Amélia, você está aí? -Júlia pergunta do outro lado.
-A porta tá aberta - digo alto e ouço a maçaneta girar.
Mas ao invés de Júlia entrar eu simplesmente fico paralisada ao ver a mulher parada diante de mim, sem acreditar mesmo que era ela. A pele negra bronzeada, os cabelos castanhos cacheados, ainda mais longos do que na época.
-Cecilia? - digo com os olhos arregalados.
Ela corre em minha direção aos gritos e eu faço o mesmo, começamos a rir quando nossos corpos de chocam nos fazendo arfar, mas isso não importa, a saudade que eu senti dela quando fui embora, era a dor que mais me torturava. O fato de pensar em não ver o meu pai não me abalava tanto quanto não a ter mais por perto.
Cecilia era minha melhor amiga na infância, nós quatro crescemos juntas, ela mora na fazenda ao lado. Seu pai era um conhecido do meu, Ceci passava semanas dormindo aqui e eu lá nas nossas férias.
Quando me mudei, no começo tentamos conversar todos os dias e dava certo, mas depois que entrei na faculdade, os estágios, os planos, a empresa me ocuparam demais, e a ela também e acabamos perdendo o contato, mas agora é como se nada tivesse mudado. Nossa relação sempre foi leve, eu sempre consegui ser eu mesma com ela, e por mais que a distância nos separe, sempre que nos reencontramos é como se nunca estivéssemos separadas.
-Meu deus, você tá incrível. Eu senti tantas saudades. - Digo ainda a abraçando.
-Quando Elio me avisou que vocês já tinham chegado eu vim o mais rápido que pude, eu não iria aguentar esperar até o casamento no sábado. -Ela diz revirando os olhos enquanto nós três sentamos na cama.
-Como se nós fossemos deixar, você é mais da família que alguns parentes de sangue - Júlia diz rindo. -E por falar em parentes... Amélia você precisa se trocar, já estamos de biquini, os nossos primos e alguns amigos do Lucas chegaram, estão todos na mesa do café da manhã. -As duas se encaram com um sorrisinho nos lábios. -E a Ceci deu a brilhante ideia de rolar um joguinho de futebol perto da piscina.
Cecilia bate palmas entusiasmada.
-Mas antes... -seu tom de voz é mais baixo- você precisa me contar sobre o gato gringo que você trouxe.

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Amélia
RomanceAmélia Jones é dona de sua própria independência. Orgulhosa e determinada, ela comanda a Jones Consulting Digital, sua própria empresa de Marketing. Amélia carrega algumas feridas em seu coração, o que a fez se tornar uma pessoa solitária e incapaz...