Amélia

Capítulo 5

Nate

-O que? –Digo me afastando da cadeira. -Está me pedindo para fingir ser seu namorado no casamento da sua irmã com seu ex?

Amélia respira fundo e diz:

-Não quero que finja ser meu namorado. Apenas que vá comigo a essa viagem, esses detalhes são apenas para que você fique ciente.

Que generosa... a calma dela me incomoda a cada segundo que passa, é como se estivéssemos conversando sobre ...planilhas. Ela descruza e cruza essas malditas pernas com toda calma do mundo... ela está tentando tirar o meu foco?

–...como um amigo, somos amigos, não é? Você trabalha aqui a anos.

Amigos?

A única coisa que eu concordo aqui é que sim, já faz dois anos que trabalhamos juntos, mas amigos? Conheci Amélia durante a faculdade, a garota CDF, que nunca ia para festas e não se interessava por esportes, eu mesmo tentei conversar com ela em algumas ocasiões, mas ele nunca aparecia, era inimiga da diversão. Depois que comecei a trabalhar na Jones Consulting Digital, apesar de ir contra a minha família e não ter me tornado um advogado medíocre e arrogante, tive a oportunidade de me aproximar um pouco mais dela, e como eu temia, ela me encantou. Toda inteligência, generosidade, a forma como ela adora um desafio, estar ao lado dela me permitiu assistir o seu progresso, e saber que ela confia em mim, é o que me mantem aqui.

Mas nem todo mundo conhece esse lado dela, para a maioria dos funcionários ela é extremamente intimidante, orgulhosa, e até comigo, existe um limite que posso ir, ela nunca me deu abertura em nenhuma de nossas conversas ou viagens de negócios. Mas Jones é incrível, ela vê oportunidades em lugares que poucas pessoas conseguem enxergar, ela não se intimida fácil. Somos uma ótima dupla, e no começo foi mais difícil do que pensei que seria, até porque além do poder e inteligência, ela é maravilhosa, consegue tirar o foco de qualquer um, o que já me rendeu várias discussões com outros caras da empresa, não que ela precise ser defendida, mas a forma como falam sobre ela, eu simplesmente não aceito, pode ser que eu seja possesivo com ela, foda-se. Ela nunca prestou atenção em mim dessa forma, além do trabalho, o que deixou meu ego um pouco machucado no começo.

Mas eu a entendo, afinal, trabalho diretamente com ela, eu sei quantos presentes, caixas de vinhos, chocolates, ingressos para shows são enviados diariamente para ela, eu devo ser apenas um no meio de centenas de homens que tentam chamar sua atenção. A minha sorte é que um de nós é profissional, porque um sinal dela e eu seria capaz de jogá-la nessa mesa, eu a foderia e não me importaria se todos do prédio nos escutassem. Mas no final, nós somos muito diferentes.

Ela é um enigma.

Eu não sei nada sobre sua vida pessoal, e agora ela está aqui na minha frente, me pedindo para viajar com sua família, em uma situação que claramente a deixa desconfortável. Não consigo parar de pensar que provavelmente ela não quer que pensem que está sozinha...
Afinal, quem sou eu para desapontá-la né?

-Desculpe Jones, mas eu não entendi direito. Por que eu? –continuo sustentando seu olhar.

-Por que não você, Nathaniel? – aqueles olhos verdes parecem vidrados, ela não pisca, não recua, como se estivesse me desafiando enquanto cruza as mãos em cima das coxas, o que acaba me chamando a atenção...- afinal, você trabalha para mim. Achei que havíamos deixado toda cordialidade de lado. Pense nisso em uma espécie de viagem de negócios...

-Ah, isso com certeza não é uma viagem de negócios, Jones – cruzo as pernas na cadeira a sua frente.

-Nós estamos negociando Nathaniel, me diga seu preço, faço questão de pagar.