Capitulo 2

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 Às vezes me pego pensando sobre o doloroso processo de cortar os laços com o passado, a força que é preciso para levar uma pessoa a quebrar essas correntes, sair daquele ciclo vicioso e torturante, conseguir olhar para frente e decidir pelo seu próprio futuro. Mesmo que você carregue com si algumas marcas do passado, ele não vai ditar o seu futuro, e foi assim que eu e minha mãe conseguimos escapar do doloroso destino que estava traçado sobre todas nós.

 Meu nome é Amélia Taylor Jones, tenho 24 anos. Sou filha de pais separados.

 Para minha felicidade.

 Minha mãe Ava Taylor conheceu meu pai Elio Jones, quando tinha apenas 16 anos, em uma viagem para o Brasil. E como ela diz, foi amor à primeira vista.

 Eles se casaram e tiveram 3 filhas.
Laura, Julia e eu.

 As minhas recordações de infância, que aliás, eu não as chamaria de recordações e sim pesadelos, todas envolvem o meu pai. Minha mãe passou todos os anos sendo submissa do seu "dever" de cuidar da casa, abandonando seus estudos e a sua família. Já a família do meu pai vem de uma longa linhagem de trabalhadores do campo, fazendeiros e agropecuaristas, ele cresceu em uma cidade do interior, e foi criado com uma cultura machista entranhada em seu corpo e mente.

 Mas foi apenas alguns meses depois que eu nasci, que as coisas passaram de ruim para horríveis. O Elio, ou em outras palavras... meu pai, desenvolveu um vício por álcool que o consumiu por completo, no começo ele ainda acreditava ter controle sobre o próprio corpo, mas logo já viu que era inútil aquela conversa, e então ele simplesmente desistiu, o que mostrou a minha mãe e a todas nós como as nossas pequenas lembranças boas poderiam ser arruinadas.

 Mesmo pequena, as vezes paro na sala do meu apartamento e imagens devoram a minha mente, como se fosse hoje. Presenciei tantas cenas dos meus pais brigando que não consigo contar, palavras cheias de ódio proferidas a nós.

"vocês nunca conseguiram nada sem mim", "não falta nada a vocês, graças a mim", "vocês acham que são melhores do que eu?"

 Sim.

 Eu tenho a absoluta certeza de que somos, por isso nossa mãe sempre teve o nosso apoio.

 Quando completei 16 anos ela decidiu voltar a morar com meus avós aqui em Los Angeles, eu terminei meus estudos e me formei em Marketing.
Tive a oportunidade de trabalhar na empresa de um dos meus professores, o qual sempre me disse: "o céu é o limite Amélia, talvez possamos ir um pouco mais além..."

 Júlia diz que como uma boa capricorniana, eu não poderia desejar menos, planos grandiosos... futuro grandioso. E eu me agarrei a isso com toda força. Sou muito determinada, mas confesso que adoro um desafio para movimentar a minha rotina, e sempre que sou testada esse espírito competidor aflora a pior parte de mim, fazendo com que nada fique no meu caminho, e assim que me tornei dona da Jones Consulting Digital.

 Uma empresa da qual eu me orgulho, a minha dedicação é minha recompensa diária de que eu consegui me desvincular de todas as coisas que já ouvi, algumas que me machucaram profundamente, principalmente quando você as ouve de pessoas tão próximas, mas com o tempo eu percebi que sou dona do meu próprio destino.

 Minha mãe sempre dizia para observarmos tudo que ela passava dentro da nossa casa, e por mais que doesse, nos fazia questionar se era isso que nós iriamos querer para nossa vida.

 Do jeito dela, ela sempre tentou nos mostrar outro caminho, ela tinha medo da influência do álcool afetar nossas relações, tendo em vista que meu avô teve problemas com alcoolismo e minha mãe acabou sendo atraída pelo mesmo destino da minha avó.

AméliaOnde histórias criam vida. Descubra agora