Capítulo 23

6 4 1
                                        

Amélia

-Olha, eu estou tentando fazer o meu melhor. Você me conhece, sabe que as vezes complico as coisas. - Ela continuava imóvel me encarando.

-Por favor, não me julgue desse jeito, eu precisava de um tempo para pensar, caminhar... e você é a minha melhor companhia, sempre foi. – Ela tinha o poder de me acalmar sempre que ficava ao seu lado, o brilho nos olhos tão familiar. 

-...E eu juro que falei a verdade, se eu pudesse te colocaria dentro do avião e levaria você para morar comigo. – Seu olhar estava fixo ao meu, eu conseguia sentir sua desaprovação.   

-Escuta... deixar você foi a coisa mais difícil que tive que fazer, eu te amo mais do que a qualquer um, mas não sei se conseguiria te proporcionar tudo isso.    

Olhei em volta para o imenso corredor do estabulo, Pérola chacoalhou a crina perfeitamente penteada e trançada, enquanto trotava para dentro de sua baia. Seu pelo era de um tom creme, tão clara quanto uma perola. Tirei lentamente as rédeas ao redor de seu pescoço, eu não precisei laçá-la, pois apenas caminhamos enquanto o sol nascia.

Despertei no meio da noite em minha cama sentindo um peso me afundar contra o colchão.

Nate estava com as suas mãos e as pernas trançadas nas minhas, sua cabeça repousava entre meus seios, suspirando lentamente. As memorias no banheiro me invadiram, por mais que estejam embaralhadas na minha mente eu me lembro que chorei, chorei e chorei de novo nos braços dele.

Senti meu rosto corar e o calor escorrer pelo meu corpo, sua pele direto em contato com a minha estava causando queimaduras e terceiro grau. Tudo com ele é tão intenso e tão...gostoso.

Pela janela dava para notar o céu ainda escuro, o suspiro de Nate chamou minha atenção. Enquanto ainda me vestia e o observei dormindo.

Ele tinha se virado e deitado de costas, apenas com a cueca boxer branca, criando um contraste que chega a ser difícil de encarar contra seu corpo delineado e bronzeado, o rosto afundado no travesseiro macio, seu braço esquerdo estava pendurado, fazendo com que a ponta dos dedos longos tocasse o chão. Seu corpo subia e descia com uma áurea angelical, tudo nele transbordava paz e tranquilidade, coisas das quais eu não cresci acostumada a ter.

Me afastei lentamente dele, lutando contra o impulso de acordá-lo e fazer com que o seu corpo acalma-se o meu, e sai do quarto. 

Os primeiros indícios que o sol estava prestes a nascer no horizonte apareciam, o cheiro da grama molhada e o canto dos pássaros eram um calmante natural para mim, até que de longe eu vi Pérola, junto com os outros animais, pastando soltos próximos ao estábulo.

Um sentimento de tristeza e alegria me dominaram ao mesmo tempo. Ela sempre foi a ponte para me conectar a este lugar...

Fechei a sua baia, ela se aproximou colocando a cabeça sobre o muro baixo de concreto, o nariz cutucando minha mão para acariciá-la.   

-Ora, ora... caiu da cama hoje menina?

Encarei a voz que surgiu no final do corredor enquanto Miguel caminhava lentamente em minha direção, olhando para cada baia no caminho, checando as acomodações e os cavalos.   

-Pensei ter ouvido alguém...

-Perdi a noção do tempo conversando com uma velha amiga. - Ele se aproxima e beija o topo da minha cabeça.       

-Sabia que depois que você foi embora, Pérola andou por diversas vezes entre as mangueiras ao redor da fazenda. -Ele dizia enquanto encarava a égua a nossa frente, levantando a mão para acariciá-la também.

AméliaOnde histórias criam vida. Descubra agora