Amélia
Desci as escadas chacoalhando os cabelos molhados com as mãos, indo em direção a sala quando encontrei as meninas deitadas em alguns colchões que estavam espalhados na frente da TV.
-Meu deus, eu tive que fazer uma mega hidratação para tirar aquela pasta de farinha dos cabelos. -Começo a dizer e Laura me encara com o rosto verde.
-Pois é, tenta fazer isso com o cabelo cacheado, eu fiquei quase duas horas tentando salvar o meu cabelo na semana... do... meu... casamento.
As suas últimas palavras soaram em uma forma bem convincente de ameaça para Júlia que enfiava vários salgadinhos na boca e suspirava enquanto o Ryan Gosling construía uma casa branca com persianas azuis.
-Passa mais um pouquinho de argila, a minha está secando -Ceci pedia para Laura enquanto eu me jogava no colchão e roubava alguns salgadinhos.
-Essa casa está em um silencio... estranho.
-Isso é porque o papai colocou os meninos para ajudar com o restante do pessoal. -Júlia me encara enquanto continuo comendo. - Sabia que o conceito "cerimonia intima" da sua irmã é uma festa de casamento para 500 pessoas?
Olhei incrédula para Júlia enquanto Laura dava os ombros.
-Meu Deus... Acho que se fosse dar uma festa não conseguiria 100 convidados.
-Isso é porque você é antissocial Amélia... -Laura concluiu sorrindo.
Revirei os olhos e fui em direção a cozinha pegar um pouco de água, o barulho vindo da janela perto da pia me chamou a atenção. Coloquei minha garrafinha no filtro da torneira e abri, foi quando escutei a voz de Nate vindo do lado de fora da casa, me estiquei na ponta dos pés tentando ver pela janeira o que estava acontecendo.
Adam estava com meu pai em cima de um trator, tirando do caminho um grande tronco de arvore, Nate estava carregando algumas cadeiras e troncos pequenos de madeira para baixo de uma das tendas brancas que haviam sido montadas, levei minha mão a boca e mordi a ponta do dedo encarando seus braços, as veias saltadas desde as mãos até o pescoço, a camiseta branca fina estava grudada ao abdômen, eles estavam trabalhando no sol, Deus... aqui dentro deve estar uns 40 graus agora. De repente ele olhou em minha direção e sorriu.
Ai que droga Amélia... você foi pega babando por ele.
Sorri de volta correndo e desliguei a torneira, que a essa hora tinha quase enchido toda a pia de água.
-Garotas, será que podemos conversar?
Ouvi a voz do Miguel vindo da sala e corri em direção.
-Aconteceu alguma coisa Miguel? -Laura se levantou apressada com a voz preocupada.
-Não menina, fique tranquila. Está tudo sob controle, tirando o fato desses meninos serem bem lerdos, tudo vai ficar do jeito que você quer até sábado. Eu estou cuidando de educar eles. -Sua risada era maldosa. -É o pai de vocês, ele quer falar com as quatro no escritório dele se possível, ele disse para aguardarem lá, ele já vem.
Nós quatro nos entreolhamos e seguimos para o corredor.
Confesso que estar lá com elas me deixa um pouco mais relaxada.
Foi o tempo de tirar as máscaras de argila do rosto que papai já estava no escritório. Aquele mesmo sentimento estranho me invadiu, como se eu não reconhecesse aquele lugar como algo que fez parte da minha infância.
-Que bom que todas estão aqui. -Ele disse anunciando sua presença. -Eu queria que todas estivessem juntas, afinal tenho uma coisa para vocês.
Ele deu a volta em sua mesa e foi até o armário na parede, digitou sua senha de segurança e tirou uma caixa de veludo preta. Ele se aproximou e a colocou sobre a mesa.
-Levando em consideração o motivo que estamos todos aqui esse final de semana... - Ele pigarreou e limpou a testa molhada. -Eu tomei a liberdade de comprar um presente especial para vocês. Para cada uma de vocês.
Ele se aproximou da caixa preta de veludo e a abriu. Virou-a lentamente para a nossa frente enquanto encarávamos curiosas o que havia dentro.
-Aí papai, são lindas. -Laura colocou as mãos sobre a boca.
-Se não for pedir demais, eu gostaria que as usassem esse final de semana, espero que combinem com as suas roupas -ele sorriu sem graça- a mãe de vocês disse que iriam gostar.
Eu me aproximei lentamente da caixa. Haviam 4 fileiras finas e delicadas de prata, eram pequenas pulseiras. Cada uma continha no meio uma inicial. A minha era a primeira, a letra A com uma pequena pérola fixada no final da letra, a de Ceci tinha uma pequena esmeralda na pontinha da letra C, Julia tinha um rubi e Laura havia uma pequena pedrinha em formato irregular roxa, era uma Ametista. Cada pedra representava os nomes de nossas éguas.
-Tio Elio, muito obrigada por isso... nem sei como dizer o quanto amei -Ceci correu na direção do meu pai e o abraçou.
-Confesso que Miguel me ajudou na escolha das joias, mas isso não é sobre mim e sim sobre vocês, na semana que vem, esteja aonde cada uma estiver, sempre vão ter um pedacinho daqui com vocês.
Ele sorriu, mas sua voz era triste, nesse momento meu peito se apertou um pouco mais, daqui a poucos dias tudo isso vai passar e voltaremos as nossas vidas, Ceci vai voltar para Paris para estudar, eu e Júlia voltamos para Los Angeles e ele e Laura... ficaram aqui.
Senti as mãos tremerem quando as lagrimas desceram sem permissão pelo meu rosto. Me aproximei dele e o abracei. Seus braços me envolveram com tanta força e ao mesmo tempo tanta ternura, por um segundo não me senti uma desconhecida nos braços dele.
-Muito obrigada papai, são perfeitas.
-Ah minha filha, não sabe como isso é importante para mim.
Seu rosto de afundou no meu pescoço enquanto sentia as meninas se aproximarem até virarmos um amaranhado de abraços e sorrisos.
-Ok... ok -papai se afastou limpando o rosto com as mãos. -Agora me deixem colocar as pulseiras nas minhas meninas.
Uma por uma ele foi colocando. Na Ceci primeiro, que sorria e chacoalhava o pulso conforme ele se aproximava com as outras, depois foi na ordem como nossos apelidos de infância, colocou na número 1, na número 2 e por fim em mim, a número 3.
-A ultima coisa que eu quero é ser precipitado com você Amélia -a sua voz era baixa e suave. -Mas estarei esperando filha, quando sentir que pode me perdoar.
-Obrigada papai.
Me aproximei lentamente e beijei sua bochecha.
-Eu preciso encontrar o Lucas, ele ficou de buscar o terno hoje e estou sentindo que ele esqueceu. Alguém o viu? -Laura perguntou e Júlia respondeu.
-Vamos, eu te ajudo a procurar. Quero achar a mamãe também.
Aos poucos todas saíram e por fim foi a minha vez, ao fechar aquela porta e a encará-la, pela primeira vez em todos esses anos, ela não parecia tão assustadora.
Um capitulo curtinho e fofinho para vocês para dizer que estava sumida por uns dias, mas agora atualizarei a história com mais frequência. Espero que estejam gostando, não se esqueçam de interagir comigo.
Beijinhos

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Amélia
RomanceAmélia Jones é dona de sua própria independência. Orgulhosa e determinada, ela comanda a Jones Consulting Digital, sua própria empresa de Marketing. Amélia carrega algumas feridas em seu coração, o que a fez se tornar uma pessoa solitária e incapaz...