Callia
O impacto me faz soltar um urro de dor instantâneo. Percebo que a coisa só tem quatro dedos em cada mão, que formaram um punho fechado tentando me acertar novamente. Não consigo desviar. Ela sobe em cima de mim e está prestes a acertar outro soco.
Faço minha escuridão se acumular e sufoca a coisa. Tenho tempo para rolar para o lado e obrigar minhas pernas a aguentarem o peso do meu corpo e me manter de pé. Seus olhos me encontram e eles são de uma cor indecifrável. É quase branca, mas é muito mais que isso, e eles estampam raiva e surpresa genuína. Não é uma coisa, é uma pessoa — muito estranha. Seu destaque com o resto do Limbo é quase gritante e ela usa uma espécie de vestido azul marinho com uma listra verde, que vai até mais que a altura dos joelhos. Suas mãos possuem braceletes grossos e prateados e suas orelhas também são pontudas, mas muito mais longas que as minhas. As maçãs do seu rosto também possuem pontinhos que brilham e há um tipo de coroa flutuante e brilhante rodeando sua cabeça com uma lua, da mesma coloração flutuando na testa.
Ela não demora para agir, na verdade, a pessoa congela minhas trevas e as transforma em cristais quase imediatamente.
— Agora chega, sua... — Antes que ela pudesse terminar a frase, parto para cima dela, a jogando com força para o chão, forçando a escuridão para seus pontos vitais. Sinto que meu cotovelo se cristaliza em seus braços e alguma parte do meu tronco também, antes de atravessarmos e afundarmos no chão.
◇
O som de engrenagens barulhentas e emperradas invade meus ovidos e reverbera em meu corpo. A pessoa sumiu e estou em um lugar completamente diferente.
Olho para os lados. Minhas mãos estão sem bandagens e meus cortes estão a mostra e seja lá do que seja composto o cristal que imobiliza as partes de meu corpo, faz queimar contra minha pele. Meus agasalhos estão praticamente arruinados e estou ofegante e assustada olhando para os lados, jogada no chão de metal enferrujado e instável. Ele range e caí metros para baixo, e solto um grito de terror enquanto isso acontece. O impacto em outro andar de metal faz meus ossos tremerem e sei que acabei de quebrar algum osso. Talvez alguns.
Além das engrenagens, sons de gás saindo com intervalos de tempo e algo — grande, muito grande — se movendo me alarmam. Tento entender e observar e sentir de onde seja lá o que se move está vindo, porque sei que está. Quando viro para trás, uma grande máquina em formato de bule de chá com um grande olho vermelho de pupilas de gato me observa. Estou paralisada de medo e não consigo fazer nada antes de uma de suas pernas de metal me jogarem contra uma das engrenagens. Dessa vez minhas costelas são brutalmente atingidas, fazendo parte do material cristalizado que antes queimava essa região se estilhaçar, alguns cacos perfuraram minha pele. Minhas pernas praticamente não me aguentam porque não consigo parar de tremer de dor. Cuspo sangue no chão. A criatura-máquina se aproxima e cambaleio para cima da engrenajem, onde ela não consegue me alcançar porque é grande demais para entrar onde me enfiei.
Respiro fundo, mas até mesmo isso me causa uma dor escaldante pela espinha. Lágrimas brotam dos meus olhos e suor escorre por minhas têmporas, está calor demais aqui, as palavras não saem quando tento gritar por ajuda.
Penso em Nalina, por algum motivo. Penso se ela estaria assistindo essa loucura. Se ela está bem. Onde quer que esteja.
Espero que Lowan e Emma ainda estejam vivos.
Com um som ensurdecedor e repentino, a engrenagem em que me apoio começa a se mover. O barulho soa como muita ferrugem se chocando. Cubro os ouvidos e desequilibro no ato. Minhas mãos não reclamam mais do que qualquer outra parte do meu corpo.
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Encantadora Sombria (em revisão)
FantasyLIVRO DOIS DA TRILOGIA "PRINCESA DAS TREVAS" "Esta noite, Oriwest - ou talvez toda Myliand - presenciará a mais violenta das tempestades." Depois de vender parte de sua alma e descobrir seu verdadeiro propósito, Callia fora levada acidentalmente par...