VINTE E SEIS

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Em algum momento a fadiga vence a luta contra meus pensamentos enfurecidos. Ainda está amanhecendo quando Luna me remexe para que eu desperte. Nós não temos nada mais além de uma máscara poderosa e arrependimentos para levar à Oriwest.

Ara está morta e a culpa é minha.

A escuridão ainda não se manifestou novamente.

O clima é estranho conforme nos preparamos para sair. É quase como se algo mais — além da ausência de Ara e o peso do artefato — estivesse errado. Todos entram no veículo em estado de luto; a chuva cai sobre nós com violência transparecendo minha culpa. Norvell — ou Atlas — não disse nada desde madrugada.

Marshaw fica do outro lado de Syfer; longe de Lisha, próximo à Hillside, a Elite regida pelo pai de Lowan. Estamos em Ridenvile, a Elite industrial e artesanal de Syfer que faz fronteira com Middenford — nossa passagem de entrada e saída pelas minas.

Me pergunto como será a reação de Peter quando descobrir sobre Ara.

Pelo fim da manhã já estamos fora do veículo. Nox pega seu molho de chaves, mas para antes de inserir a chave correspondente. Seu olhar se afia e ele se vira em direção a nosso grupo.

— Tudo certo? — Lay interroga.

— Está destrancada — responde com rapidez no mais baixo possível.

Talvez Nox tenha esquecido a porta destrancada, repito mentalmente, tentando manipular minha ansiedade de que algo tenha saído fora do planejado e nós fomos pegos.

E todos cairemos como Ara.

E a culpa é minha.

Meu coração erra mais uma batida quando o rebelde vira a maçaneta e abre a porta lentamente; em sua outra mão, uma adaga de porte médio — excessivamente afiada — se encontra, sendo segurada com firmeza.

Mas silêncio nos recebe no lado de dentro enquanto violentos e volumosos pingos de chuva atingem o solo no lado de fora. Nós entramos em fila dentro do cubículo escuro e estranho no qual estivemos um dia atrás; o ambiente parece o mesmo. Quando a porta se fecha, Emma olha para os lados como se estivesse a procura de palavras.

— Nós não voltaremos tão cedo, mas manteremos contato — diz a mesma dirigindo-se a Nox.

— Se você não cumprir com sua parte não vamos mais nos sacrificar por vocês — Nox a lembra. Não acho que qualquer outra pessoa presente além dos dois entenda do que se trata. Emma assente com desconforto em resposta. Ela se vira para o grupo como um todo.

— Vamos logo, não deve demorar para que a Governanta receba a informação de que o artefato foi roubado. — Ela para como se impedisse a si mesma de acrescentar algo, olha para baixo e engole em seco. Não duvido que esteja pensando em Ara.

Brutus se apressa, passando discretamente por trás de nós e checando a entrada da passagem. Ele sussurra algo no ouvido de Nox logo em seguida, que franze o cenho e cerra os punhos com força. Nós somos guiados ao subsolo com um gesto do companheiro de Nox. As escadas de metal são frias e rangem conforme descemos. Meu corpo está tão instável que temo que não aguente seu próprio peso e minhas pernas e braços cedam ao peso do artefato e a ausência preocupante e desconfortável da escuridão. Nox fica na entrada enquanto seguimos seu amigo.

A atmosfera gélida e impassível da passagem irregular nos acompanha até mais da metade do caminho, antes de um barulho desagradável similar ao "Beeb Beeb" que alarmes fazem.

Mas não existem alarmes em Myliand.

— O... o quê? — indaga Lay olhando para os lados conforme metade do grupo para fazendo o mesmo.

Encantadora Sombria (em revisão)Onde histórias criam vida. Descubra agora