Prólogo

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Allerick

Observo meu reflexo. Olho para a janela. O Grande Relógio está caindo aos pedaços. Suspiro e corro as mãos pelo rosto, tentando afastar o sono. Afasto os cabelos que caem levemente sobre meus olhos.

Meus irmãos me esperavam no fim da Segunda Torre, onde partiríamos para uma caminhada até a Floresta das Bestas.

Darcio batia seus pés no chão, impaciente ao lado de Ameer, quase adormecendo. Pela sua serenidade, sei que ele tirou alguma vida, ou possivelmente estava no Limbo apreciando seus troféus. Talvez os dois.

— Como estão, irmãos? — Pergunto com um sorriso no rosto.

— Ótimo, você chegou — bufa Darcio, se apoiando nos ombros caídos de Ryuu, seu aprendiz, e o conduz para a porta. O aprendiz apenas me reverencia, e acho graça.

E é claro que Ameer passou todo o tempo à minha espera provocando Ryuu. Olho de relance para Ameer, levantando uma sobrancelha.

— Ele não quer apostar comigo — reclama, ainda que soe completamente desinteressado.

— Talvez porque ele não queira morrer — respondo.

— Ora! Mas se o felizardo não possui nenhuma peculiaridade, ele deveria, no mínimo, saber apostar.

— Deixe Ryuu em paz, Darcio sabe o que está fazendo. Onde estão Luna e Elvi? — Pergunto mudando de assunto enquanto seguimos Darcio e seu aprendiz encontrado na esquina.

Darcio solta uma risada grave e rebate:

— Elvi está no laboratório, irmão.

— Ele não liga para meu outro irmão de chama. Ele quer saber da Conselheira — corta Ameer, praticamente gritando no meu ouvido.

Bufo, fingindo tédio, ainda que deixando um sorriso no canto dos lábios escapar. Meu irmão revira os olhos.

— Ela não vem. Está no templo com os Sacerdotes — completa arrastado. Ofereço-lhe uma risadinha irônica, serrando os olhos de brincadeira.

Quem está aí?

O quê? — Me alarmo, um arrepio corre pela minha espinha e perco minha postura relaxada. Olho para os lados procurando a fonte da voz, mas ninguém nos rodeia. Penso se o Void está tendo problemas... talvez eu deva voltar para manuseá-lo novemente. Ameer franze o cenho.

— Por que parou? — Pergunta Darcio, virando-se para nós.

— Tem algo de errado. Eu ouvi uma voz...

Besteira! — Esclama o príncipe do Limbo. — Ouço isso toda hora. É ressaca, o nome — gesticula, com um dedo nas têmporas exemplificando.

— Cale a boca — O Guardião cospe, dando um tapa na nuca de Ameer, que o fita com um olhar cortante. — Se piorar, volte para a Torre. Ainda assim, temos coisas à resolver na floresta.

Assinto apreensivo, escolhendo seguir o caminho ao lado de meus irmãos. Imagino qual besta seremos desafiados à neutralizar desta vez.

Mesmo depois, a voz não voltou a se comunicar.

Encantadora Sombria (em revisão)Onde histórias criam vida. Descubra agora