OITO

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Acordo em algum lugar escuro. Estou sentada em uma cadeira de metal fria e desconfortável e minha visão está turva. Há alguém mechendo em mais metal atrás de mim, consigo ouvir de forma abafada. Não sei por quanto tempo fecho os olhos novamente, mas quando os abro, estou vendada. Tento me mover e percebo que meus pulsos e tornonozelos estão presos por algo mas não consigo distinguir o que está acontecendo com tanta clareza e começo a me desesperar. Meu coração está acelerado enquanto movo minha cabeça freneticamente tentando fazer essa venda cair. Uma mão firme em meus ombros me faz parar de súbito, ofegante.

— Se você usar qualquer dom, você vai fazer uma montanha inteira desabar sobre nós, e vai morrer também — alguém sussurra em meu ouvido. Sinto que já ouvi essa voz antes.

Alguém arrasta algo de metal para perto.

— Você lembra do seu nome? — pergunta outra pessoa. Uma voz mais feminina.

Assinto, nervosa.

— Você sabe onde está?

Nego com a cabeça. Não faço ideia do que está acontecendo. Não faço ideia de onde estou. Só rezo para que não esteja em algum covil em Syfer.

— Há cinco meses — continua —, você invadiu a província de Oriwest acompanhada da General, Lowan Hawlett, e a Senhora da Capital de Syfer. Correto?

Nego com a cabeça mesmo sabendo que está correto. Sinto algo semelhante a arames rastejarem pelas minhas pernas e braços. Eles se enroscam e apertam forte. Prendo a respiração.

— Há cinco meses — repete — você invadiu a província de Oriwest acompanhada da General, Lowan Hawlett e a Senhora da Captial de Syfer. Correto? — termina entre os dentes.

Os arames apertam ainda mais e sinto como se minha pele pudesse ser rasgada a qualquer momento tamanha a pressão. Assinto, e a velocidade com que os arames se enroscam diminui, mas não para.

— Melhor você não mentir para mim — aconselha. — Vamos acabar com isso mais rápido, e talvez ainda sobre alguma coisa dos seus membros.

Engulo em seco.

Onde eu vim parar dessa vez?

O quê vocês roubaram?

Tento me lembrar do que era. Do que parecia ser, mas não era. Os arames apertam mais e sinto que já começam a me cortar. Engulo todos os mil gritos que eu poderia soltar agora para conseguir falar.

— Projeto Aurora — gaguejo.

— Por quê?

Um urro de dor escapa quando a pressão dos arames aumenta mais.

— Me soltem, eu não vou matar vocês. Podemos resolver isso de outra forma. Por favor. — Minha voz se eleva com agonia.

E mais.

Por. Quê — insiste.

E mais.

Tento respirar.

— A Governanta nos mandou esperando que eu dispertasse algum dom — cuspo.

— E você dispertou?

— Não ali — respondo com dificuldade.

A velocidade dos arames diminui, mas continuam perfurando minha pele e grito com a ardência. As perguntas param.

— Quando você chegou, pela primeira vez, três províncias te caçavam. Você foi para Syfer. Por escolha?

Nego com a cabeça.

— Você quer voltar para Syfer?

Nego com a cabeça.

Encantadora Sombria (em revisão)Onde histórias criam vida. Descubra agora