TRINTA

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Emma

Lowan grita comigo durante o massacre, caminhando em círculos enquanto sua mãe, insana, o encara com um sorriso orgulhoso estampado no rosto. Coberto de sangue, ele grita tão alto que qualquer outro som é como um sussurro. Pontiac se arrasta no chão, sem forças para levantar e vermelho estampa seu caminho doloroso.

Meus olhos se abrem lentamente, ainda está escuro do lado de fora, mas a temperatura não apresenta sinais chuvosos, o que significa que é cedo o suficiente para que Callia esteja adormecida. Por volta das duas
da manhã, vi as curandeiras entrarem em seu quarto novamente.

— Como ela está? — Questionei, já que nenhuma outra pessoa se deu ao trabalho de me atualizar e só poderíamos entrar em seu quarto com autorização. Eu pensei em atravessar como faço na maior parte das vezes, mas temia que, naquele estado, ela não levasse na esportiva.

— Inquieta e com dor. Precisamos medicar ela para que conseguisse dormir — uma das serviçais informou, hesitante.

— Vocês doparam ela?

Elas assentiram.

— Era a única forma, senhorita — elas justificaram e me deram as costas com rapidez. Eu temo pelo estado de Callia.

Não estou mais afim de adormecer; voltar para o massacre uma vez por noite já o suficiente; e conviver com Zoe Lykaios — que certamente sobreviveu a ele e carrega cicatrizes, que provavelmente foram causadas por mim — não ajuda meu remorso a cessar, muito menos diminuir. Com isso, me levanto da cama em um único movimento e decido que é a hora perfeita para fazer meu caminho até a pessoa que prometi a Nox. A essa hora ainda tenho a vantagem de que ninguém me questionará; coisa que, depois de ontem, começará a se tornar tão rotineira quanto meu único pesadelo. Obviamente, eu comecei isso tudo, mas eu nunca pensei que chegaria em Lowan com tamanha rapidez. Logo Lowan. Mas uma coisa é certa: ele não é o culpado. E eu vou até o inferno para prová-lo inocente.

Os poucos guardas que passam por mim enquanto desço as escadas não se dão ao trabalho de me questionar. Eu pego a direita em direção ao corredor que dá para o estábulo. Em um palácio pequeno, não é muito difícil chegar onde preciso com rapidez. Ainda assim, não preciso de cavalos; o lugar que preciso chegar é muito mais simples — ou complexo — para que seja necessário.

Apesar do pesadelo, eu gosto de madrugadas. Ninguém espera nada de mim neste horário e todos estão cansados demais para que grandes discussões tomem palco. Normalmente. O barulho das cigarras é a única música nas frescas e vazias ruas da Capital onde eu tanto corri e lutei pela província oposta. Não demora muito para encontrar a torta porta de madeira e com a grande rocha escrito "A Caverna."

Próxima a porta, inspiro fundo. Envolvo a mão na maçaneta e a giro, sendo recebida pelo cheiro de gengibre e álcool característico do lugar.

Durante as madrugadas, ao contrário de Oriwest, a casa fica cheia. Ogros e híbridos exagerados e provavelmente perigosos impregnam o espaço com seu barulho enquanto enchem a cara. Este é o escapismo para muitos criminosos durante qualquer hora.

Gruitgut limpa um copo com impaciência, mas seu rosto verde musgo se torna mais neutro quando me vê.

— Você não tava morta? — Resmunga. Uma risada rouca escapa de mim.

— Vim ver sua filha — digo. — E ela? Continua viva?

Ele dá de ombros e murmura algo com mal humor para si mesmo.

Encantadora Sombria (em revisão)Onde histórias criam vida. Descubra agora