DEZESSEIS

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Ele usa uma roupa simples, e seu cabelo castanho está levemente bagunçado. Não faço ideia de como ele chegou aqui, mas não vou deixar este homem ferrar com todo o meu plano.

Me revelo para eles. Imediatamente, a face de Toran se esbranquece. Lowan me encara enquanto aponto minha arma firmemente para seu pai.

— Saia — ordeno, ríspidamente.

— Emma — ele suplica — por favor, peço que deixe-me cuidar desta situação.

— Toran, saia.

— VOCÊ OUVIU ELA, TORAN, SAIA DAQUI! — Lowan grita em agonia. Novamente, seu peitoral se encontra aberto, e apenas algumas poucas e antigas cicatrizes não foram completamente abertas. Me concentro na mira tentando repelir as náusas que sinto por seu corpo completamente desfigurado e em carne viva. Já é um milagre que continue vivo, e nós estamos perdendo tempo.

— Lowan, você não está em condições de opinar. Você precisa de ajuda — Toran censura. Meu companheiro mutilado levanta a cabeça para o teto, suspira. Ele aperta seus olhos para conter qualquer nova manifestação de raiva.

— Não — eu replico, sem realmente me preocupar com o tom de voz. Ninguém pode nos ouvir daqui. — Você podia ter ajudado a qualquer momento — digo entre os dentes. — Agora, eu vou ajudar de verdade. Você nunca ligou para nós, então pare de agir como se você ligasse!

— Você sabe que isso não é verdade, Emma.

Então por que você mandou me cortarem?

Seis minutos.

Toran sai da minha frente antes que eu atire em você.

— Emma...

Atiro em suas pernas, sem hesitar; esperei quase oitenta anos por isso. Lowan encara Toran agonizando no chão enquanto puxo o líquido da fonte de cura e despejo tudo sobre seu corpo. Eu poderia ter trazido uma curandeira aqui, mas demoraria muito para que tudo estivesse em seu lugar e nós não temos esse tempo. Eu atiro em uma das correntes que segura um de seus braços, agora soltos, embora as algemas continuem em seus pulsos. Atiro no outro, Lowan cai em meus braços sem controle do próprio corpo e eu o seguro. Sinto o baque que sua pele — ainda em parte, coberta por sangue e ferimentos abertos. Engulo em seco; ele não diz nada.

— Tudo bem — eu consolo, efetuando minha melhor máscara para ignorar os gritos de agonia de Toran. — Trouxe roupas para você.

Lowan está chorando.

— Obrigado — sussurra, sua voz está tão fraca que parece finalmente ter se rendido à exaustão.

— Me agradeça depois que estivermos fora desse Purgatório. Agradeça a Callia também, esse plano só existe por causa dela. — Lowan olha em meus olhos com rapidez, desacreditado. Seus olhos vermelhos carregam o peso de muita coisa, todavia ele não diz mais nada. Eu puxo uma blusa cinza surrada da mochila e tento ajudá-lo a colocar. Infelizmente, ele só poderá usar o resto das roupas depois que estivermos fora de Syfer.

Deixo que Lowan deposite todo seu peso sobre minhas costas para que possamos andar até o estábulo.

Três minutos.

Não me despeço de Toran quando saímos, mas faço questão de trancá-lo dentro do calabouço. A energia do palácio parece ter mudado desde quando desci até agora. Algo muito poderoso está nos rodeando, mas não tenho tempo para ir a fundo disso. E além disso, um calor desumano toma conta de minhas costas. Quando olho para trás, o corredor está em chamas.

Dois minutos. Lowan incendiou um corredor.

— Lowan, o que está acontecendo?! — eu pergunto enquanto nos carrego por outro corredor.

Encantadora Sombria (em revisão)Onde histórias criam vida. Descubra agora