TRINTA E OITO

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Merlin grunhe entre os dentes e chuta as pedras com ira. Talvez seu fogo não seja capaz de abrir caminho sem que isso nos mate.

Minha escuridão, por outro lado, é.

Suspiro, sabendo que posso me arrepender dos meus atos quando os mesmo chegarem ao fim. Ainda assim, estou cega demais pelo ódio e inconformação para ser parada por mim mesma agora.

— Merlin — ofego —, afaste-se.

Fecho os olhos. Inspiro fundo. Consigo ouvir o barulho da chuva que cai violentamente no lado de fora. Toco os destroços. Imploro por controle, enquanto sinto que quanto mais perto a escuridão chega de sair da minha consciência para o físico, mais eu anseio por poder incondicional.

Sinto a escuridão envolvendo cada pedaço de rocha naquele conjunto; cada uma delas e sua extensão até a saída e sua espessura e tamanho.

Eu faço a escuridão se expandir entre cada espaço; sinto o terremoto que estou causando se fundir com as explosões que atingem esta montanha. A escuridão me induz a me descontrolar e eu as forço a se submeterem aos meus comandos; minha cabeça dói.

Quero conseguir conduzir o estrondo das peças para frente sem elas nos atinjam, mas elas o fazem sem piedade. Merlin me segura pelo pulso quando uma delas está prestes a nos esmagar vivas e nos atravessa para o lado de fora. Nós caímos no chão imediatamente. Feridas, sem fôlego, enfurecidas. A chuva pinga nos frutos da explosão em nossa pele e ardem como uma queimadura.

Mas os cortes são dos destroços, e não da escuridão.

Vemos evolução, Escolhida.

Calem-se.

Merlin se levanta, seu uniforme possuí cortes que sangram descontroladamente; seu rosto está arranhado da mesma forma. Ela me oferece ajuda, mas para no processo quando olha em volta. Meu rosto perde a cor quando faço o mesmo.

Pedaços das montanhas à nossa volta caem como a chuva. O aroma de fumaça deixado pelas explosões invade minhas narinas. Outras explosões ocorrem ao longe: dentro d'água, em terra firme. Pessoas gritam e o som das bombas é alto e me causa tremores pela espinha.

Eu odeio Mali.

Eu odeio Syfer.

Eu odeio todos eles.

Eles vão pagar.

Nos apressamos até onde Merlin deixou seu dragão, todavia aquela área já foi detonada. O dragão se foi. Não temos saída.

Isso é culpa dela.

Ela contribuiu para nossa ruína.

Maldita.

Quero gritar até perder a voz. Quero derrubar uma das montanhas sozinha e enterrá-la com Joah Hawlett.

Estamos exaustas e completamente destruídas.

Uma sombra cobre a chuva de nossos corpos. Uma sombra larga, pairando no ar. Meu coração para. Nós olhamos para cima.

Um dirigível.

Eu nunca vi algo assim por aqui.

Um dirigível colossal, feito com a superfície externa de metal lembrando um grande barco voador e assustador que segura uma bomba em formato de foguete na base.

E a bomba cai.

Sobre nós.

Vamos morrer.

Meu corpo congela.

Sinto que vamos explodir e que a morte nunca esteve tão próxima e inevitável como aqui; agora. Não consigo deixar de culpar Mali e como eu deveria tê-la deixado para a morte iminente em Powal.

Encantadora Sombria (em revisão)Onde histórias criam vida. Descubra agora