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Dei um último gole no café, como se ele fosse capaz de me segurar por mais alguns minutinhos, porque não seria surpresa se eu caísse aqui mesmo de cansaço. Quando a Lis chegar, eu não queria nem idéia, pegaria minhas coisas e iria embora sem nem esperar explicação.

Sem contar que o hospital estava caótico, a família do cara que morreu hoje de madrugada, tinha acabado de sair arrasados daqui, mas mesmo assim a sensação ainda estava.

O sol da manhã faz meus olhos arderem em sincronia.

Comecei viajar na minha mente ali, quando um carro parou na minha frente, ele desce o vidro do carro me olhando por um bom período de tempo.

Hoje era segunda, e era o dia que a enfermeira chegava.

Marino: Você está horrível - eu quero rir de ódio desse comentário, mas nem força eu tinha.

Virgínia: Ah, eu estava mesmo precisando de uma dose da sua sinceridade a essa hora da manhã - fingi entusiasmo, xingando ele em seguida. - tem pessoas que chegam desejando bom dia, sabia?

Marino: Bom dia, Virgínia. Tá tudo bem com você hoje? - ele me olha querendo rir, e eu pressiono um lábio um outro, me controlando. - pelo jeito, nem o morro inteiro te desejando bom dia, adiantaria em algo.

Virgínia: Estava péssimo, mas parece que acabou de piorar e eu nem sabia que seria possível.

Marino: Quer carona? - ele pergunta, me surpreendendo por não continuar na provocação.

Virgínia: Vou pegar minhas coisas - respondo apenas isso.

Claro que eu não ia negar uma carona. Se eu tivesse em sã consciência, óbvio que negaria, principalmente depois do que aconteceu na boca, mas nesse momento essa carona caiu do céu.

Ele sai de dentro do carro, vindo atrás de mim, me perguntando sobre o carinha que chegou com um tiro alojado na cabeça.

Entro no hospital indo em uma direção e ele em outra.

Pego minhas coisas, fechando meu armário e sigo em direção a saída. Me encontro logo com a desgraçada da Simone que para franzindo a testa, me olhando.

Simone: Ah, você já vai?

Sorri, mandando ela tomar bem no meio do seu cu em meus pensamentos.

Assenti com a cabeça, para não responder inadequadamente.

Simone: Espera, eu acho que preciso de outro favor seu - ela olha para o relógio, e eu já abro minha boca para dizer que não iria fazer caralho nenhum, mas assim que ela sobe o olhar e olha para trás de mim, fica branca e sussurra o nome do marino.

O nome, não o vulgo.

Olho para trás, só dando tempo de ver ele passando do meu lado.

Marino: Bora.

Sigo ele sem dar tempo daquela maluca falar nada, Carlinhos, o enfermeiro daqui passa por mim, me dando bom dia e eu agradeço imensamente por ele ter chegado.

Virgínia: Já subiu com a Odete? - pergunto, fechando a porta do carro.

Odete era a enfermeira que ficaria com o Beto.

Marino: Já, Gabriella resolveu tudo com ela. Quando descia, ele já estava perambulando com ela pelo morro.

Virgínia: Mas já? - ele assente com a cabeça, saindo dali com o carro.

Marino: Ontem era folga de todo mundo, menos a tua?

Virgínia: Na verdade, era só do Carlinhos. Entretanto, Lis sumiu, não sei o que aconteceu - agradeço por temos ignorado a situação que aconteceu na boca, preferia mesmo esquecer aquilo tudo.

Ele me olha de relance, estranhando.

Marino: Sumiu? Ela passou a noite com aquele comédia do dn - olhei para ele, franzindo a testa. - inclusive, o responsável de toda bagunça que resultou nos caras que chegaram aí ontem feridos, foi culpa dele. Largou a contenção por foda, e deixou os cara na mão e aconteceu o que aconteceu.

Virgínia: Quê? Tem certeza que foi por foda? - porra, que ódio do caralho. Estava quase me tremendo de raiva.

Marino: Foi, eu mandei invadir o barraco onde ele tinha levado a mina - balancei a cabeça, sem acreditar. - pra não morrer, os moleques pegaram ele na porrada ainda ontem. Sorte dele que o maluco não morreu, se não, ele teria o mesmo fim.

Virgínia: Espero que isso seja uma viagem muito maluca da sua cabeça. Porque não dá para acreditar que ela me fez fazer o trabalho dela para isso. Não pudia esperar pra hoje? Que caralho, se fuder, isso porque ela negou que tinha alguma coisa com ele, me deixando maluca com essa história.

Na verdade ela negou no princípio e depois deu entender que queria algo com ele, acho que foi isso. Mas mesmo assim, não justifica.

Ele olha para mim, me julgando e eu aponto o dedo para ele negando.

Virgínia: Não, não é o que você tá pensando - bufo, cansada de tentar explicar de tão puta que eu estava.

Marino: Me parece que é exatamente o que eu estou pensando, ou vocês não sairam juntos do baile? - ele fala ou muito sarcástico ou incomodado, mas com certeza, era sarcástico.

Virgínia: Saímos - estreito os olhos pra ele.- não sei porque você sabe disso, e não sei porque estou explicando. Mas não existe nada entre a gente, e da minha parte nunca existiria! Ele ter me acompanhando foi insistência dele e também não quer dizer nada.

Marino: Então quer dizer que não rolou nada entre vocês? - ele me olha da mesma forma que fez anteriormente.

Virgínia: Não, embora ele tenha tentando - ele parece entender, e eu não sei ainda porque porra eu estava explicando isso pra ele. - só corrigindo o que você disse, um dos caras, morreu sim.

Marino: Quem? - falo o nome do paciente, fazendo ele soltar um xingamento em seguida. - tem certeza?

Virgínia: Claro, eu estava do lado quando ele faleceu - digo apoiando minha cabeça na minha mão. - grandes vacilos ontem a noite.

Maior nojo.

Impressionante, como sempre é ele quem tem que chegar com essas notícias para mim.

Marino: Ela fez isso por ciúme - ele afirma. - ela gosta dele, mas ele queria você, embora você não queira ele, isso não impede dela ter te odiado e te culpado por isso. Por isso te deixou na mão.

Virgínia: Ela não teria coragem de fazer isso comigo - respondo de imediato, fazendo ele me olhar. Toda vez que eu falo que ninguém seria capaz de fazer isso comigo, me dá quase certeza agora, que sim, essa pessoa faria. Corrijo logo meu pensamento, porque até tudo se explicar, ela claramente fez isso comigo. Mas franzo a testa olhando para ele. - mas como sabe disso?

Pergunto me referindo a como ele sabia que eu tinha saído do baile com o dn.

Marino: Porque eu vi quando a marcelly estava exibindo o pingente do seu noivo para você, depois tudo aconteceu em sequência - ele fala, parando em frente a minha casa. - em pensar que tu não acreditava que ele seria bandido.

Virgínia: Claro, eu conheci o Diego na faculdade - começo a explicar novamente, pior que eu nem devo explicações. Mas quando abria a boca, saia explicando tudo. - conheci toda a família dele, ninguém tinha cara de bandido e se eram, disfarçavam tão bem quanto ele.

Marino: Por isso que eu sou pior que ele?

Abro o sorriso ao perceber que ele sentiu bem o que eu tinha falado da última vez.

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