Capítulo 03 - Despedidas ✔

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✴ Pov Ardena ✴


Domingo infelizmente chegou.

Senti que esse dia estava preste a me tirar tudo. Minha família, meu namorado e minha vida.

Tudo aconteceu rápido demais, no início da semana tinha tudo e em seu final, absolutamente nada. Era lamentável — sim, naqueles últimos dias a única que coisa que havia feito era lamentar. Lamentar pelo que vive, pelo que não vivi e pelo que gostaria de viver. Eu sentia a falta deles. Até das broncas da dona Mayda, das piadas do senhor Peter. Das brigas bobas, das brigas sérias, das regras, de tudo. Eu queria a minha vida de volta, eu queria voltar no tempo e ter os impedido de entrar naquela casa, de ter perdido o voo daquela manhã. Eu desejei tanto voltar atrás.

Nos últimos dias evitei ao máximo pensar neles, pois me trazia um vazio desesperador que parecia crescer a cada momento. Eu me lembrei que no dia seguinte seria a missa de 7° dia na Igreja onde eles havia se casado. É surreal pensar que eles se uniram em vida e morte, e que ali, naquela pequena igreja, eles começaram juntos e terminaram juntos. E eu nem estaria lá para me despedir, assim como não estive no velório, nem no enterro. 

Não conseguiria suportar me despedir, era difícil o bastante lidar com o fato de que eles se foram e não era preciso confirmar, mesmo porque os caixões estavam vazios, então foi apenas um ato simbólico, achei desnecessária a minha presença.

— Querida, as malas estão prontas? — a voz de minha avó irrompeu meus pensamentos.

—  QUASE! — gritei para que ela ouvisse mesmo estando na cozinha.

— Então desça logo, eles chegaram! — meu coração gelou com o choque de realidade. 

Eu realmente iria embora, não era um pesadelo. O suor das mãos eram reais em vista do medo que o desconhecido causava. Era real.

Calma, não entre em panico, Ardena! — Tentei me tranquilizar. — Vai dar tudo certo, você vai ver. Você está bem!

"Você está bem?!". Essa foi a maior mentira que eu disse a mim mesma, porque eu não conseguia aceitar naquele momento que a última coisa que eu estava era bem, eu estava em declínio, sendo arrastada para um abismo de escuridão, preste a cair, prestes a desaparecer.

O armário ainda continha peças, e encontrei uma blusa de Brian pendurada, uma onda de tristeza me invadiu, como um choque de eletricidade, mas mesmo contrariando a minha razão, eu a peguei e a coloquei em minha mala como uma dolorosa recordação.

Continuei a recolher as coisas, guardando na mochila, nas bolsas e bolsos, e ao abrir a gaveta de minha escrivaninha, meu olhar se fixou no conteúdo de seu interior, nos papéis, lá estavam elas, as cartas que Brian me escreveu quando se ausentava em viagens e passeios distantes. Pensei em jogá-las no lixo, ou queimá-las, mas não conseguiria, eu nunca poderia apagá-lo, então decidi deixá-las ali.

E me veio a ideia de lhe escrever uma carta, como uma despedida descende de alguém que está prestes a partir para o outro lado do mundo.

Sentei em minha cadeira, peguei o papel e a caneta e então comecei a escrever...

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Boston, 23 de dezembro de 2028

Querido Brian,

Sinto em dizer que terei de partir, ainda é novo, a ferida ainda está aberta e exposta. Venho por meio desta informar minha partida para Dundeya, na Inglaterra, um reino pequeno pelo qual nunca ouvi falar. Estou com medo. Sabe, aquele medo sombrio que escondemos atrás da porta?  Medo de nunca amar ninguém de novo, de não encontrar novas piadas para rir, novos ombros parar chorar, novas histórias para contar ou para quem contar, é aquele medo que todo mundo tem, o medo da solidão. 

Lua Imortal - Dezessete Encarnações 《1° Livro》Onde histórias criam vida. Descubra agora