✴✴✴✴✴♠✴✴✴✴✴✴ Pov Ardena ✴
A porta do carro se abriu, e à minha frente uma casa de estilo inglês se mostrou presente. Um jardim redondo a cercava com uma fonte ao meio. Várias janelas, construída em tijolos, grande e linda.
"Minha casa. Minha casa. Minha casa". — repeti em minha mente diversas vezes para tentar me acostumar.
A tristeza estava comigo naquele momento. A solidão acolheu meus ombros. Aquela morada não se parecia nada com o meu lar, aquela não era a minha casa, não importasse o tempo que passasse. A sensação de olhá-la era tão fria e morta que duvidei que me sentisse bem ali. Forcei-me a caminhar em direção a porta central, o coração apertado dentro do peito quando meus pés foram de encontro ao primeiro degrau e meus olhos de encontro a porta, que segundos depois se abriu. Meu coração se acelerou e respirei fundo tentando manter o controle. Engoli o choro que insistia em arranhar a minha garganta.
Um homem com um fraque preto, como um mordomo, caminhou em minha direção, passos sincronizados, calmos. Ele se aproximou até estar diante de mim onde me encontrava imóvel na escada. Entendeu-me a mão que estava coberta por uma luva extremamente branca. Eu a aceitei, deixando minha mão em contato direto a sua. Ele me direcionou até a entrada, e foi o que fiz. Ao cruzá-la senti que tudo estava perdido, mas uma pequena chama de esperança se acendeu em mim, o que me fez sorri.
— Senhorita? — Uma voz reconfortante soou pelos meus ouvidos. Ele era tão sereno.
— Sim?
— Como devo chamá-la? — Ele se mostrou confortável em uma conversa comigo. Finalmente alguém havia me perguntado o que eu queria.
— Ardena — sua face se borrou em espanto, mas logo se suavizou.
— Ah sim, Srta Ardena — repetiu.
— Não! Me chame apenas de Ardena.
— Não é apropriado, Milady — corrigiu-me.
— Tanto faz então — bufei insatisfeita, observando a decoração luxuosa do hall de entrada.
"Esses ingleses e suas formalidades bobas" — pensei.
— Milady — chamou-me. — Uma dama não ousa se portar dessa maneira — Mais uma vez seu tom reprovador se apresentou.
— E o senhor é o que? — perguntei incomodada. — Professor de etiqueta?
— Não, Milady. Sou o mordomo — respondeu com o peito estufado. Cheio de orgulho.
— E o que mordomos fazem? — minha voz denotava inocência.
— Cuida da casa, dos empregados, coisas desse tipo — ele explicou descontraído.
— O senhor me dará aulas de etiqueta também?
— Não, Milady. Outra pessoa é encarregada desses assuntos — respondeu com um sorriso satisfeito.
— Pois bem, então faça o seu trabalho e deixe que outros façam os deles. Se não está encarregado de me corrigir, não me corrija! — rebati com tom de superioridade.
Eu o era uma pessoa arrogante, mas eu odiava a idealização das pessoas de tentarem me mudar ou simplesmente me forçarem a se adequar a um padrão que não me pertencia.
— Claro, Milady. Peço desculpas pela minha intromissão — Ele ergueu a cabeça ao se desculpar.— Terei de me retirar, com sua licença — ele concluiu em uma simples reverência e logo após se retirando.
Observei uma silhueta se aproximar e me virei, não me surpreendi ao ver Brian diante de mim.
— Vejo que fez um amigo — zombou com um sorriso maldoso no rosto. Ele tinha um sorriso delicado, quase imperceptível. Era estranho vê-lo sorrir, quando seu rosto parecia ser moldado em seriedade e dureza. Dei-lhe um sorriso falso, mas acabei por mostrar-lhe um verdadeiro.
— Siga-me — pediu adentrando mais aos corredores da casa. Ele me levou ao que presumi ser o escritório. Um cômodo frio e pouco iluminado. — Espere aqui, e em hipótese alguma saia — alertou com uma ordem direta. E toda a desenvoltura do sorriso e descontração que havíamos presenciado no hall de entrada se desfez em indiferença quando ele me deu as costas e saiu.
— Ultimamente o que mais faço é esperar — comentei explorando o extenso ambiente.
Alguns minutos se passaram, até que se tornaram horas. O relógio em estilo colonial não parava de tocar de um lado para o outro. Abri todos os livros que se encontravam na estante, livros velhos e diplomáticos, vasculhei todas as gavetas e qualquer outra coisa que desviasse a minha atenção da espera. Por fim me aconcheguei no sofá de couro marrom, em desistência. Eu estava cansada da viagem, do turbilhão de emoções que eu havia me tornado. Fechei meus olhos e apenas me entreguei ao cansaço físico e emocional.
Nem preciso dizer que tive o pesadelo outra vez. Encarei o teto ainda ofegante, os sons do relógio ainda preenchiam o escritório, e uma sequência de lembranças surgiu em minha mente. Faria uma semana que se foram. Eles não estavam mais comigo, mas a dor continuava ali. Maçante, excessiva. Parecia que quanto mais o tempo passava pior eu me sentia.
Talvez o tempo não curasse tudo.
Minha mente foi invadida por milhares de memórias, talvez o luto fosse isso, um álbum metal das pessoas que perdeu e diariamente ele se repetia bem diante de seus olhos. Eu chorei baixinho, mas eu me permiti chorar, permiti que as lágrimas caíssem sobre o sofá. Eu deixei a minha fraqueza exposta só por um momento.
Eu precisava sentir alguma coisa.
Quando voltei a olhar o relógio, assustei-me, já se passavam das onze da noite. Meu estômago pediu clemência por comida, mas quando tentei sair descobri que a porta estava trancada.
"Pelo visto me esqueceram aqui". Eu me senti um animal engaiolado. Preso e esquecido por Deus. E novamente senti a sensação de não pertencer a lugar nenhum me soprou como um vento gelado e afiado. Eu precisava achar o meu lar, e nem de longe, era aquele ali.
Eu só precisava esperar mais quatro anos, já que no mês seguinte eu completaria 17 anos. E isso me lembrava da festa que a minha mãe estava planejando uma festa enorme em comemoração, mas agora tudo o tínhamos eram apenas sonhos que não aconteceram e que nunca irão acontecer. Seria o primeiro de muitos aniversários sem eles. Sem a minha família inteira.
Eu nunca me acostumaria com aquela ausência.
Ouvi a porta sr destrancada e aberta. A luz voltou ao ambiente. E um garoto adentrou a sala. Os olhos escuros e curiosos. Ele era bonito e jovem, mas não parecia contente ao me ver. Ele me analisou minunciosamente e por fim ele perguntou:
— O que você está fazendo aqui?
Nada melhor do que se sentir acolhida em meu novo... Lar doce lar.
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Lua Imortal - Dezessete Encarnações 《1° Livro》
FantasyEM PROCESSO DE REESCRITA. SUJEITO A ALTERAÇÕES!!!!⚠️ Uma Garota. Um Alfa. Uma Maldição. O que eles têm em comum? TUDO. Após a morte súbita dos pais, a jovem Ardena se vê obrigada a mudar-se para Dundeya, um reino pequeno e muito rígido. Acostumada c...