CAPÍTULO BÔNUS

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Milênios atrás...

— Você não deveria ter salvado aquelas crianças minha filha. – o som do aço do chicote estalou em minhas costas, abrindo mais uma ferida. – Elas mereciam morrer.

Mais uma vez, o ardor já não estava tão presente quanto no começo, fraco. Já anestesiada da dor de antes.

— Elas não iriam morrer queimadas por um capricho seu meu pai. – chamar esse homem desprezível por meu pai doeu mais que as cerdas do chicotes em minhas costas.

— Calada. – gritou, mesmo em meio a dor eu dei um sorrisinho debochado.

— Você tem que aprender a aguentar a verdade Belialloyn. – falei com a voz rouca, um milagre ainda a ter mesmo depois de ter gritado horrores.

Houve um momento de silêncio, sem mais chicote.

— Está se achando esperta? – questionou sombrio. – Vai continuar assim se eu chicotear Axel igual estou fazendo com você?

— Se você encostar nele- – mas então sou interrompida por uma voz que conheço deste que vim a esse mundo.

AYRAAAA. – Niall gritou, estava longe mas ainda ouvi seu grito repleto de angústia, desespero. Sei que ele estava sentindo exatamente o mesmo que eu pela nossa ligação. – ME SOLTE AGORA OU EU VOU TE DESMEMBRE FILHO DA PUTA.

— Acho que não vou querer mais Axel. – uma onda de desespero se instalou em mim. – Deixem ele entrar.

— Não, não, não, VAI EMBORA NIALL. – grito, clamo e me nego. Niall não poderia passar por isso de novo. – Por favor, eu faço qualquer coisa, deixa meu irmão ir. Não faz nem mesmo sete dias em que você o açoitou. – peço angustiada assim que vejo Niall caminhando até mim, o rosto febril, ele não tinha se recuperado ainda. – Vá embora daqui idiota, você não está bem ainda. – falei com as lágrimas já escorrendo pelo rosto, se misturando e limpando minimamente o sangue.

— Libere ela. – O idiota me ignora, falando com Belialloyn. – Fique comigo em seu lugar.

Eu fiquei ali impotente enquanto o nosso projetor o agarrava, o acorrentava, e dava chicotadas como antes fazia em mim em suas costas já feridas de antes. Eu fiquei ali gritando em misericórdia me oferecendo para fazer qualquer coisa para livrar meu irmão daquela angústia novamente, ele não merecia fazer isso quando eu que salvei aquelas crianças, quando eu que merecia tudo isso.

Com minhas mãos acorrentadas atrás do meu corpo observei ele com a cabeça erguida, com os olhos dos meus, com lágrimas escorrendo pelo rosto mas se negando a dar qualquer grito de dor.

Três dias depois eles me liberaram das correntes, eu fiz o mesmo com o meu irmão. Mesmo com as costas protestando pelo esforço eu me dispus a carregar seu corpo inconsciente nas costas sujas de sangue e pus até a ala em que normalmente nós e nossos irmãos ficávamos.

Quando eu cheguei em frente a porta havia guardas impedindo a saída deles, aposto que eles estavam drogados se não estaria com gritos de protesto e tremores ecoando por aqui.

Era assim que nosso pai nos controlava, drogas. Elas incapacitavam os poderes deles, em mim e Niall não provoca nada além de confusão para nos levar a inconsciência já que não tínhamos poderes.

Quando cheguei mais perto os homens que estavam apostos simplesmente saíram, carregando o peso de Niall e praticando rastejando até a porta eu a abro. Tento a visão dos não irmãos igual a nós, de bruços no chão com suas costas amostras.

Com feridas profundas, manchadas de sangue. Augusto estava com os osos praticamente amostra, e sei que isso provavelmente aconteceu por que ele pegou a "punição" do outros dois para si.

Mais lágrimas escorrem pelo meu rosto, passo a mão sujando ainda mais quando faço o ato.

Eu coloco Niall deitado de costas no divã que estava ali, fazendo o mesmo com os outros três que não estavam consciêncientes.

Eu suspiro quando me arrasto até um pequeno armário que tinha ali, pegando as coisas necessárias para cuidar deles.

É eu faço isso, sem reclamar por que cabe a mim ajudar meus irmãos a se curararem quando foi tudo minha culpa.

Lembro que em uma noite enquanto ardia em febre pela infecção que deu em minhas costas, com Niall inconsciente ao meu lado, Phillip dormindo já um pouco melhor e Augusto e Axel não tão melhores que Niall. Eu ouvi sussurros como se alguém tivesse conversando comigo.

E um dia eu achei quem falou comigo através disso, mas já estava morta me dando seus poderes.

Lembro de sua voz doce. A mesma que me salvou de me entregar para a morte naquela noite, ela foi a mesma que conversou comigo depois que eu morri em um campo de batalha milênios mais tarde.

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