02. discórdia

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— De novo? — exclamou surpresa ao saírem da Catedral, recebendo um olhar nada bom — Perdão — abaixou a cabeça — mas, Irmã, e as outras? — a senhora apenas se virou e pediu para que se aproximasse

— Escute, Cohen, você é provavelmente o desastre desse lugar. O motivo de eu ter escolhido você para ir todos os dias, e repito, todos os dias para ver aquele... Orar pela cidade, é para seu próprio bem dentro do convento. Quem sabe não aprende comigo o que não aprendeu durante os três anos naquelas salas de aula? — apontou para baixo, no 'porão onde estudava quando chegou ao convento.

— C-Certo — engoliu o seco — m-mas, a irmã White realmente queria ir também, ela me disse... — tentou, de alguma forma, fazer com que Alene recebesse seu posto. Todos os dias?

— Não importa, me siga.

Durante todo o caminho, Charlotte tentava pensar em formas de dar desculpas para não precisar ir mais uma vez até o local, mas foi inútil. Era impossível fugir, e, caso escolhesse correr, poderia ser castigada da mesma forma que já foi quando se negava a compreender motivações da igreja para tais coisas no passado - e atualmente.

"Você se acha muito esperta, e isso será um péssimo problema futuramente. Teremos que lhe ensinar de alguma forma, mesmo que por meio da dor", diziam isso enquanto a faziam limpar um corredor imenso com uma escovinha de mão e um balde de água. Ou quando ficou quatro horas ajoelhada no chão de pedrinhas. Não queria passar por isso novamente, então aprendeu a se calar.

Ao chegar, Paul estava dormindo. Thompson não fez nada para o acordar, apenas se posicionou e começou a rezar. Charlotte, antes de qualquer coisa, analisou a situação do homem. Ele estava da mesma forma, pálido e com olheiras grosseiras, estava mal. Ela queria poder ajudar de alguma forma. Fechou os olhos depois de alguns segundos, mas não pensou em nada enquanto ficou ali.

— Vocês aqui, de novo? — ouviu a voz do homem que acabava de acordar, sentiu que Thompson abriu os olhos por milisegundos, provavelmente de susto, e Charlotte continuou o observando — Não cansam não? — suspirou — Eu preciso mijar agora — começou a levantar da cama e sair do quarto, antes disso, ela sentiu ele a observando novamente, confuso.

Ele não demorou mais que quinze minutos para voltar para a cama. Apesar de conseguir se mover facilmente, parecia fraco de alguma forma. Charlotte se perguntou a quanto tempo estava convivendo com a doença.

— Sai daqui, sua puta — se direcionou apenas para Thompson — não tem nada melhor pra fazer? Dar pro padre ou sei lá? — fez uma piada, que ao ver Charlotte arregalando os olhos na mesma hora pela conotação sexual, ele riu ainda mais de sua reação, mas Thompson não mexia um músculo.

— Demônio — ela murmurou, deixando apenas que Charlotte conseguisse escutar, o que a fez virar o rosto sem demonstrar reação alguma, percebendo que a oração acabou — voltaremos amanhã — avisou, se virando a passando por Charlotte, que soltou o crucifixo da mão e deixou-o pendurado no pescoço — ande — mandou, e Charlotte obedeceu, correndo atrás da superiora.

Ao passarem pela recepção, Charlotte notou o quão cheia ela estava. Não de quem trabalha por lá, mas homens bem diferentes do habitual. Olhou apenas de canto, vendo que a maioria usava roupas comumente vistas quando passava em frente a um local da cidade que era proibida até de olhar. Apesar de tudo, nenhum ria ou gritava, como ouvia ao passar por perto do local.

Foram embora sem problemas dessa vez. Sem cair no chão ou ser assediada na rua. Ao chegar ao convento, Charlotte foi liberada e foi direto para uma capela se ajoelhar e rezar, para que não tivesse de ouvir sermões sobre duvidarem de sua lealdade no lugar.

Já estava no local fazia uma hora, mesmo sentada com a cabeça baixa e as mãos juntas, Charlotte não pensava em orar mais. Queria apenas ficar ali, sozinha por mais algum tempo. Era como se estivesse fugindo de uma tortura dentro da própria. Tinha que dar um jeito de afastar esses pensamentos logo.

NIGHTRAIN, Baji KeisukeOnde histórias criam vida. Descubra agora