04. um deus entre nós

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— Charlotte — a voz conhecida a chamou antes que pudesse entrar no quarto, ela não quis se virar mas sabia o desrespeito que seria caso continuasse andando reto

— Irmã Hughes — cumprimentou, se virando com a expressão não tão boa assim — posso ajudar? — a mulher olhou para Charlotte por alguns segundos, suspirando em seguida e olhando para baixo

— Venha. — sussurrou e começou a andar para fora do corredor. Charlotte não teve escolha a não ser segui-lá.

— Sabe, eu preciso ir ao quarto e...

— Tá tudo bem, Charlotte, não se preocupe — ela sorriu, como sempre fez quando ainda morava ali

As duas andaram até chegar ao quarto de Bella, que estava estranhamente arrumado e vazio. Charlotte se confundiu um pouco com isso, mas apenas não quis dar tanta atenção a isso enquanto estava lá. Observou Bella sorrindo da mesma forma gentil de sempre enquanto caminhava até sua cama e sentava-se ali.

— Eu não discordo de nada que você disse semana passada, quero que saiba disso — foi direta — quando soube o que Thompson estava mandando você fazer, eu sabia desde o começo que você não se deixaria levar pelas maldades dela. Eu a respeito em muitos quesitos, mas esse é uma das excessões 

— Bella...

— Mas você precisa... Você precisa aprender, como eu tive que aprender — suspirou — a vida aqui não vai ser fácil, desde que você queira manter sua mente sã como está — olhou para Charlotte — não quero que você se corrompa. Eu achei que essa seria a melhor forma para que você conseguisse continuar conosco, mas não é. Não mude sua forma de pensar, nunca — sussurrou

— Bella, por que isso agora? — se aproximou relutante

— Aqui, as paredes tem ouvido. Todas elas. Se você não quer... Ser castigada, não discuta daquela forma novamente, não tão alto — se levantou — me prometa isso.

— ... Eu... Tá, eu prometo, mas...

— Eu vou embora, definitivamente — sorriu — Londres foi onde me encontrei — apontou para uma mala pronta ao lado da cama — foi uma decisão dificil, mas... Bem, de certa forma você até me ajudou com todo aquele discurso. — riu baixinho

— Sério? — nem mesmo sabia se estava perguntando aquilo como um "sério que você vai embora?" ou "sério que eu ajudei?. Mas Bella assentiu, e poderia ser para ambas as perguntas. — Bella eu... Vou sentir sua falta — os olhos marejaram — o convento londrino é tão superior assim? — perguntou trêmula, recebendo um olhar surpreso de Bella, que relutou em responder

— ... Sim, é sim. Eu adorei lá — sorriu enquanto se levantava e abraçava a garota — você foi forte, ficou aqui por tanto tempo mesmo sendo obrigada... Eu sempre me senti mal desde que você chegou, sempre quis te ver feliz.

Bella foi embora no dia seguinte, às quatro horas da manhã. Charlotte não pode se despedir, visto que acordaria apenas às cinco. Mas era sempre assim, qualquer mulher que desistisse ou, aparentemente, estivesse se locomovendo para outra cidade, não deveria se despedir de ninguém além de vosso senhor. Era uma regra estúpida, Charlotte achava, mas talvez fizesse sentido em alguns anos.

No café da manhã não ouviu ninguém dizer nada sobre ela, o que era de se esperar. Ela ficou dois anos fazendo trabalho voluntário em Londres, e quando voltou, voltou apenas para que pudesse pegar o restante de suas coisas. Algumas irmãs já poderiam ter esquecido de sua existência.

NIGHTRAIN, Baji KeisukeOnde histórias criam vida. Descubra agora