Já havia se passado um mês inteiro. Charlotte contou no pequeno calendário que tinha no quarto. 31 dias desde que fugiu de seu convento, andou pela cidade durante a noite e se encontrou com uma banda de... Heavy Metal. Não só isso. Ela foi ao show, se divertiu enquanto ouvia as músicas e também conheceu uma mulher simpática, que usava roupas bonitas.
31 dias de pura saudades.
31 dias fingindo estar tudo conforme as regras.
31 dias sem ser descoberta.
Às vezes, durante a madrugada, Charlotte acordava e precisava olhar debaixo da cama, dentro de sua antiga mala de viagem, onde estava a jaqueta de couro branca que ganhou de Jade. Havia limpado a jaqueta alguns dias depois que recebeu. Pegou um pano úmido escondido e a deixou limpa como nunca havia visto. Lustrou cada um dos spikes e todo o zíper dela. Mas nunca ousou colocar aquela jaqueta, com medo de gostar até de mais da sensação novamente.
Desde que Paul havia recebido alta, Thompson parou de chamar Charlotte para sair, talvez por Alene ter conseguido fazer a superiora levá-la para os hospitais ao invés de Charlotte agora. E ela preferia assim.
Ficar no conforto do convento, não era tão confortável assim, mas claramente melhor do que ficar ao lado de Thompson por mais de uma hora seguida.
Bem, talvez, por conta de sua última fuga, Charlotte tenha achado mais brechas para conseguir sair de missas, não ir a jantares e algumas vezes conseguiu dormir mais do que deveria. Sentia-se mais livre do que nunca, mesmo que às vezes a culpa a pegasse de jeito.
— Bom, hoje fomos ao parque. Thompson disse que rezar ao ar livre faria bem — Alene contou animada — e foi realmente lindo, como se eu me conectasse com o nosso Senhor ainda mais do que aqui. Espero que ela me leve outras vezes — sorriu
— Que bom que está gostando de ser a pupila dela, Alene — sorriu meiga — bem, a senhorita Carmen é ótima, ajudo ela na maior parte do tempo — disse, mesmo que ficasse apenas meia hora na capela com a mulher.
Alene se sentava com a postura totalmente reta na cadeira do quarto de Charlotte, enquanto ela fazia o mesmo em sua cama.
Suas conversas haviam mudado. Alene havia realmente mudado desde que começou a por tudo de si para ganhar confiança das superioras e principalmente dos padres. Ela estava se esforçando, talvez mais do que deveria. Mais do que era realmente capaz. Mas isso era normal naquele mundo e Charlotte já havia se acostumado com isso.
— Você está pensativa, faz um bom tempo — Alene a olhou com curiosidade. Uma curiosidade nada boa — sabe... Eu estranhei que você não estava na missa das quatro hoje, Charlotte — repreendeu
— Uh? Mas eu estava lá, Alene — disse da forma mais convincente que conseguia.
Ela havia ficado dormindo durante as duas horas de missa.
— Eu fiquei ao fundo, dessa vez. Sei que sempre ficamos lado a lado nos primeiros bancos, mas eu acordei com um pouco de dor de cabeça e ficar ao fundo era mais confortável. Havia menos velas e a voz do Padre estava mais baixa. De qualquer forma, não me desconcentrei em palavra alguma.
— Sério? — ela realmente não estava convencida — Prove...
— Isso é sério, Alene? — fez uma expressão de decepção para a amiga — ouvimos os versículos de Coríntios, hoje. Não é? — sorriu meiga
— Sim...
Afinal, todas as semanas eram as mesmas repetições. Não havia como errar.
— Hora do almoço — Charlotte se levantou ao ouvir o sino e andou até a porta, se virando ao ver Alene ainda sentada, muito pensativa — vamos?
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NIGHTRAIN, Baji Keisuke
Fiksi PenggemarCharlotte Gray-Cohen estuda para se tornar uma das freiras da Catedral de Birmingham desde os 15 anos, a mando de seus pais. Desde lá, segue para conseguir algo que nunca quis nem ao menos pensar em fazer pelo resto da vida, sempre observando as pes...