A Charada Do Omicron: A Colecionadora De Conchas

Aquilo não era o desaste

Lance anda atras de Derick pelas ruas inferiores da cidade. É humilhante: pensar que nunca mais andaria por elas e agora que está andando é como escolta de alguém como esse garoto. Derick está sem roupas militares. Seu cabelo laranja conta com alguns fios desgrenhados que voam rebeldes e usa uma blusa de lã azul cobalto com gola V, com a ponta das mangas douradas e usava calça preta e sandalhas de mesma cor.  Tinha dois anéis de ouro em seu mindinho direito.  Lance continua usando sua calça bufante marrom e uma blusa de manga cumprida bege.

-Me diz, Lance. Como se comemora o ano Novo nessa cidade?

-Enterramos corações de madeira debaixo de uma árvore e cantamos a canção de Inverno.

-Você comemora com alguém?

-Com a minha madrinha, na época eu não era escravo. Ela era muito supesticiosa então enterrávamos bastante pecinhas de coração.- diz com pesar na voz.

- Eu... Não tenho alguém pra comemorar, além da Evangeline. Nós temos o costume de nos preparar bem no início de Novembro por isso pergunto. A Festa das Tortas. Sabe? A própria Imperatriz ama demais esse festival. Depois que Loni e Naru fugiram, ela evita aparecer nas comemorações, ou se isola pra comer. Não há coisa mais triste do que só ter torta de companhia no Dia da Torta.- ele o encara - você não tinha mãe ou pai?

-Minha mãe morreu no meu parto e o meu pai me deixou com a minha madrinha quando eu era criança e nunca mais deu as caras.

-Meus pais foram mortos na guerra. Mas não quero me estender sobre isso.- diz fingindo apatia.

-Perdão.

-Tanto faz.

Eles descem as escadarias largas.

Pode-se dizer que talvez, apenas talvez, ele preferisse ter fugido com a menina dos olhos vermelhos ao invés de se sujeitar à esse garoto. Talvez, fosse melhor ter parado nas minas de Jade. Nem uma criança é tão cheia de caprichos quanto ele. Após ter sido dado ao terceiro sucessor dos Bella,  descobriu que não seria apenas uma fachada a sua nova servidão. Lance passou os últimos dias cuidando das muitas roupas de Derick, preparando seus banhos perfumados e cheios de frescurinhas (por que raios um recruta precisaria de tudo aquilo?! É um Bella mas ainda um militar.) interceptando mensagens, sendo seu espião para variar, não só investigando as coisas importantes que se passavam no Palacio das Nuvens como investigando Lady Bárbara. Desde checar se começara a desconfiar de sua dama de companhia - diga-se de passagem, que pobre mulher! Servir com tanta lealdade e ganhar desconfiança!- até se cedia aos galanteios de outros rapazes. Mesmo que o safado saísse com outras mulheres, sejam nobres que vieram na comitiva, sejam as militares ou até as servas e escravas e volta e meia saíam homens de seus aposentos, muitos eram escravos, principalmente carmesianos com alguma moedinha ou bijuteria. Enfim: um jovem mimado e um exímio fanfarrão com vasto apetite sexual. Uma dualidade: ou o teme muito ou muito revira olhos perto de Derick.

-O que faremos agora?

-Como assim?- Derick indaga, o fazendo voltar à realidade - É meu dia de folga nós vamos beber e ficar com algumas mulheres. 

-Nós?

-Claro! Você trabalhou muito bem. Talvez seja um assassino melhor que o meu primo.

Lance sente a dor psicológica e isso piora com a risada do garoto Bella. 

-Por que? Não quer?

Ele pensa bem: o que está feito está feito e ele não deve o matar. Estão sozinhos descendo as escadarias cor de areia rumo ao pub, que se recupera assustadoramente rápido.

-Aceito.

-Ótimo. Pois além de bebermos você vai me mostrar os túneis que falou.

-Sim, mestre. - diz tentando esboçar submissão e falhando miseravelmente. Alem de o tom sair seco ele revira os olhos.