A glória da rainha

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Um jovem colhe morangos em uma cesta. Está nublado e o vento sopra leve, deixando a temperatura fria o suficiente para começar a incomodar a pele. Significa que não é tempo para furtos rápidos. O que o jovem faz, mesmo assim, é colher os que sobraram depois da queima. Era época de colheita há algum tempo atrás e destruíram as plantações. Após coletar suas frutinhas vermelhas ou pelo menos seus restos mortais, some dali, correndo do morangal pela colina amarelada. O jovem pensa em ironia: não plantam flores vermelhas, mas amam morangos.  

Enfim a ventania indica chuva. O que significa que é um ótimo momebto para  retornar à sua cabana. Apressa os passos, correndo mais veloz pela grama outonal, soltando alguns grunhidos, concentrado em voltar antes que seja atingido por um raio. Talvez porque olhasse para os lados e para baixo ao invés de para frente, esbarra em uma pessoa, a jogando alguns passos para frente. Dá para trás devido ao susto inicial de uma figura tão peculiar mas, racional outra vez, se desculpa e observa que era uma mulher. Ela usa vestido escuro que só deixa a mostra seu colo pálido. O rosto, coberto com um cachecol violeta e era uma mulher de estatura média com pés descalços. 

-Não se desculpe.- diz com sua voz suave. - vai para casa? Por isso corria, não?

Ele faz que sim. Há muito contraste entre os dois. O homem gesticula um pouco mais que ela, que por sua vez, tem postura imóvel. Braços repousados sobre suas pernas e queixo reto.

-Você está perdida?- foi a única coisa que o homem pôde perguntar, timidamente.

-Oh, sou sim. Perdida. - responde com voz macia.

Um impulso zune em seu ouvido. O homem olha para o chapéu com rendas. E vestido que cobre tudo. Apenas os pés estavam à mostra e eles eram pálidos como a esclera dos olhos. 

-Está ficando tarde não é? Como uma mulher como você parou sem sapatos no meio do campo.

-Eu me distraí olhando o país. Ele é de fato a terra da primavera.

O homem solta um ronco de riso.

-É assim que os bellas chamam aqui?

-É assim que todos chamam. - diz em tom amistoso.

Ela anda. O homem a observa para se afastar mas algo lhe ocorre: o impulso da curiosidade. Corre até ela pedindo que esperasse ao passo que a mulher para solene e sólida, olhando para trás. Bella ou não, é seu dever levá-la para casa.

-Esse país tá uma zona, uma lady como você não deveria ficar sozinha. Eu a acompanho até a metrópole.

Ela sorri.

-Eu adoraria. 

Eles saem andando. 

-Meu nome é Pen, qual o seu?

-Matilde. 

Saem do campo em direção a cidade. Ele a olha com curiosidade. Essa mulher parece distante, focando apenas em uma mariposa pousando em seu dedo enluvado. Eram de pira renda então dava para ver as mãos brancas como a neve. Ele se concentra apenas nela. Andam pelo bosque até onde o sol abandona.  

-Você não acha um pouco inseguro andar por essas bandas?- diz Pen.

-Mas por que está me seguindo? - rebate.

-Não vou deixar uma dama andar por aí desamparada.

-Que gentil. 

A floresta fica mais escura possível. Esse homem tem receio. 

-A passagem por aqui te poupa tempo, mas não deve passar por aqui só. 

O cheiro de úmido parece agradá-la. Pode ver seu nariz cheirando e sua boca sorrindo levemente.  O homem até sorri. Bella ou não, parece uma mulher doce. Talvez solteira? Uma moça assim deveria ter um marido para protegê-la! Fato é que, uma mulher tão bonita como ela é alvo fácil de assassinos e homens que caçam mulheres para bordel. Então, a deixará sã e salva sucintamente.

A Charada Do Omicron: A Colecionadora De ConchasOnde histórias criam vida. Descubra agora