Capítulo 1

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Sexta-feira, 18 de junho ao meio-dia


Terminei de recarregar todos os saleiros, coloquei flores frescas em todos os vasos sobre as mesas na sala de jantar principal, ajudei a cortar as frutas para o bar, anotei os pedidos de duas mesas, e agora queria dois minutos no quarto dos fundos sem os meus malditos saltos enquanto eu esperava para servir minhas mesas. Eu nunca usava saltos, mas eles eram uma parte obrigatória do uniforme. Como eu não tinha torcido o tornozelo ainda estava além de mim.

"Bianca! Aí está você!" Marcela estalou quando entrou pela porta e me viu. "A Flay não veio e eu preciso de alguém para cobrir a sala privativa".

"E você quer que essa pessoa seja eu?" Eu disse, soando um pouco chocada demais para o seu gosto.

Ela estreitou seus olhos castanho-claros para mim. Marcela não precisava dizer nada, ela invocava o medo dentro de mim com apenas um olhar.

Eu balancei minha cabeça e tentei parecer mais confiante. "Quero dizer, absolutamente. O que quer que você precise, Marcela".

Ser garçonete não era a minha profissão escolhida. Era mais como minha profissão necessária, necessária se eu quisesse dinheiro para viver em algum lugar e, ocasionalmente, comer. Eu era professora por formação, mas devido aos cortes recentes e ao fato de que eu estava no fundo da cadeia hierárquica, fui demitida no final do ano letivo. A desaceleração da economia global era o que tornava difícil encontrar um emprego em qualquer lugar. Para minha sorte, meu companheiro de quarto, Miguel, falou com sua irmã, Marcela, para me dar um emprego no restaurante que ela administrava.

Eu nunca tinha trabalhado em um restaurante antes, mas eu era boa em cozinhar o jantar para a minha mãe quando eu estava no colégio. Imaginei que não deveria ser tão difícil anotar alguns pedidos e carregar comida. Eu não tinha que cozinhar nada, só entregá-las aos clientes. As coisas no Paris 6 eram um pouco mais complicadas do que isso, infelizmente. Meu longo treino de uma semana foi um abridor de olhos enorme. Eu precisava ter o menu memorizado, bem como ter conhecimentos gerais da carta de vinhos. Eu precisava saber qual vinho combinava com tal item do menu e ser capaz de descrever a forma como cada prato era preparado. Era completamente incompreensível. Então havia as regras para servir. Eu não tinha ideia de que havia regras sobre o lado que você deveria servir a uma pessoa, ou sobre permitir a alguém provar o vinho antes de servir uma taça inteira. Senti isso extremamente fora do meu alcance, mas estava determinada a ser uma aprendiz rápida. Estava além das minhas expectativas. Eu não gostava de falhar em nada.

O Paris 6 também não era o tipo de restaurante em que eu comeria por dois motivos. Um, eu não conseguiria nem comprar uma sobremesa com o meu orçamento. Dois, elas serviam coisas que eu nunca tinha sequer ouvido falar, coisas como foie gras* e algo chamado de ricota e milho agnolotti em uma trufa consummé deverão. Eu era mais o tipo de garota para hambúrguer vegetariano e batatas fritas. Ultimamente, a marca da lanchonete mac-n-cheese estava me mantendo viva. As pessoas que frequentavam o Paris 6 eram ricas, muito ricas. Tínhamos a elite jantando com a gente o tempo todo. Às vezes era algum atleta de grande nome ou algum político pretensioso. Os homens e mulheres de negócios poderosos em trajes de gala enchiam o restaurante diariamente.

*Foie gras: termo em francês que significa 'fígado gordo'; é o fígado de um pato, ou ganso, que foi super alimentado. É considerado uma das maiores iguarias da culinária francesa. Possui consistência amanteigada e sabor mais suave em relação ao fígado normal de pato ou ganso.

"A Sra. Kalimann reserva a sala de jantar no andar de cima toda sexta-feira ao meio-dia." Marcela explicou enquanto me levou para a escada que levava à sala de jantar privada.

Sextas-feiras - RabiaOnde histórias criam vida. Descubra agora