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"Aquele definitivamente não era o dia de Magnus. Primeiro, se deixou vencer pela cara de gato de botas de Catarina e aceitou ir para uma festa ridícula, e em um lugar mais longe do que o inferno.

Depois aceitou o carro do pai emprestado, em vez de encher o tanque do seu, e agora estava no meio do deserto, com um carro velho e quebrado, sem perspectivas de sair dali tão cedo.

E, para piorar, sujou toda a sua camisa branca, quando tentou dar um jeito na mangueira quebrada daquele ferro-velho.

Estava perdido no meio do nada, sem sinal de celular e ainda era capaz de seus amigos sequer acreditarem em sua história, porque as coisas ruins aconteciam com ele e todos só riam e diziam que eram ideias mirabolantes da sua cabeça ou pura teoria da conspiração.

Mas, a verdade era que nos últimos anos, a vida vinha fazendo testes quase diários, o massacrando e não deixando que nenhum de seus planos fossem para frente.

Sua carreira como dançarino estava estagnada e restava dar aulas de balé moderno para um monte de crianças. Não era como se não gostasse do emprego, mas não havia feito tantos anos de balé clássico, jazz e dança moderna para isso.

Via o sol se arrumar entre duas montanhas ao longe, quando jogou a camisa imunda no banco de trás do carro e vestiu apenas a jaqueta de couro, a deixando aberta, porque, para completar, fazia um calor infernal. Em poucos minutos seria noite e já se imaginava sozinho ali, entre uivos de lobos e coiotes. Não era isso que havia em desertos, afinal?

Precisava repensar sua vida. Tudo havia degringolando depois que se apaixonou por Imasu, aquele bailarino da Broadway, que mais tarde o acusou de estar com ele para ficar famoso. Se arrependimento matasse, lá estaria Magnus de mãos unidas sobre o peito.

Talvez nunca mais devesse se envolver com homens, refletiu. Mas sua experiência com mulheres também não era tão incrível. Que o diga Camille, que o abandonou para ficar com seu colega de quarto, na faculdade, alegando que ele estudava muito e não dava a atenção devida a ela. Enfim, não duvidava que sua falta de sorte fosse praga dos dois. Saindo do carro, que havia deixado no acostamento, recostou-se na lataria e suspirou, no aguardo de um milagre.

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Alec já estava enfadado das festas milenares que Rafael e Simon inventavam em lugares estranhos. Sabia bem que a ideia era que as raves acontecessem em espaços amplos, mas que não chamassem atenção, por isso o deserto e tal. Rolava muita coisa que devia ficar longe dos olhos da polícia. Os amigos não usavam, mas ganhavam muito dinheiro com isso, quando inventavam de fazer as tais festas, que para ele eram mais como orgias.

Infelizmente não estava com espírito festeiro naquele dia. Ou, talvez tivesse, mas só imaginar que poderia encontrar metade dos caras com quem já havia ficado em uma noite de balada, combinando de ligar depois (e não ligou, claro!), já o deixava um pouco desanimado.

Detestava aquele papo de saudade, convites para outra transa e encheção de saco. Não gostava de repetir homens, não gostava de dividir a cama e não gostava de dar satisfações. Era assim há muito mais tempo do que se lembrava e vinha dando tão certo. Tinha uma vida confortável e um trabalho incrível, no qual conseguia resolver tudo pelo celular ou com alguns cliques no computador. Sua equipe era afiadíssima e tudo corria às mil maravilhas.

Tinha o cara que quisesse na cama em apenas um estalar de dedos. Era bom na arte de seduzir. Uma batida de cílios, um biquinho e pronto, os babacas estavam no papo. Gostava de vê-los babar por uma boa trepada. Era bom nessa arte também.

Os cara com quem já havia transado, até ali, costumavam dizer que ele era inebriante. Alec queria se sentir inebriado também, mas nunca tinha rolado. A verdade era que não sentia nada que os caras diziam, mas era bom em satisfazer e isso lhe bastava. Ou não… talvez fosse por isso que fizesse tanto sexo. Não havia encontrado satisfação…Vinha se sentindo continuamente insatisfeito, mas tentava não se incomodar com isso.

Por AcasoOnde histórias criam vida. Descubra agora