Convencer os meus pais... Bem, na verdade convencer a minha mãe, era uma das coisas que eu considerava como quase impossíveis, claro que o plano era convencer o meu pai primeiro e depois de convencido ele convenceria ela. Não era impossível, e com esse plano as chances podiam ser ainda maiores. Mas eu ainda precisava refinar o projeto, e isso com certeza levaria tempo, o lado bom, era que como ele já estava praticamente completo, não demoraria muito pra estar pronto.
Talvez eu conseguisse apresentá-lo em dois meses, até lá eu precisava ter calma, e muita... muita, muita paciência.
(Félix): Uau, isso com certeza criaria uma nova era pra empresa.
—Essa era a ideia, como a tecnologia já se faz presente em tudo, eu pensei que eles aceitariam de primeira, principalmente pelo fato de alcançarmos patamares muito mais altos do que eles pensaram quando começaram. Mas disseram que era arriscado demais, sabe como são... Eu até tentei explicar que empreender e investir é totalmente arriscado, é sempre oito ou oitenta, ou explode e cresce mundialmente, ou não vai á lugar algum.
(Félix): E mesmo assim não aceitaram... Se tivessem aceitado é certeza de que a empresa estaria bem mais avançada que agora.
—É... Nem sempre as pessoas tomam as melhores decisões, e eu consigo entender. O medo de perder tudo é sempre maior do que a coragem pra fazer algo novo com o que já tem.
(Félix): Ainda quer tentar?
—Claro, essa é a minha única esperança.
(Félix): Então vamos.
Passamos a tarde toda revendo a proposta, analisando cada um dos pontos propostos, e calculando o que podia dar errado, o que precisava melhorar, ou o que não estaria de jeito nenhum nesse investimento. Eu não sabia mais quantas canecas de café esvaziei enquanto estava sentada ali, só me dei conta da hora quando a minha cabeça já doía o suficiente pra que me tirasse o foco.
—Vamos parar por hoje. —Digo fechando o notebook.
(Félix): Boa ideia. —Diz suspirando.
—Acho que eu devia ter colocado um despertador pra pararmos á três horas atrás.
(Félix): É. —Ri. —Acho que nos empolgamos demais.
—Eu tenho certeza de que sim.
(Félix): Ok... Vamos embora, você precisa comer alguma coisa e dormir por pelo menos umas dez horas seguidas. —Diz fechando o notebook e se levantando da cadeira.
—Isso soa tão bem. —Sorri.
(Félix): Vem.
Ele estendeu sua mão e me ajudou a levantar, saímos da minha sala e fomos pro elevador, passamos uma hora a mais do expediente, mesmo que não precisássemos ficar durante todo o expediente.
—O Lino sabe que ficamos.
(Félix): Isso explica o jeito que ele me olhou.
—Como exatamente? —Pergunto rindo.
(Félix): Como se quisesse me matar, foi a primeira vez que eu pensei que um dos meus melhores amigos me mataria.
—Mas e quando o Changbin nos apresentou?
(Félix): Ah, é... Aquela foi a primeira. —Ri.
—Ele sabia... Ele sempre soube.
(Félix): Acho que somos previsíveis demais.
—Talvez.
O elevador chegou e nós entramos.
(Félix): Já planejou o que vai fazer, independente de qual seja a resposta?
—Você já sabe essa resposta.
(Félix): Sei... Então como vai ser?
—Se sim... Vou marcar uma reunião com ambas as partes contratantes, apresentar a proposta de quebra de contrato, mas claro, de uma forma que não tenham más consequências. Se não... A primeira opção é tentar manter a imagem, e continuar a minha vida normalmente, a segunda é sumir de uma vez.
(Félix): Sumir pra onde?
—Paris. Estudar o que eu sempre quis, talvez eu mude completamente.
(Félix): Vai me levar com você, não vai?
—Deixaria tudo aqui? Assim do nada?
(Félix): Você diz como se eu tivesse uma vida pronta aqui.
—E não tem? Seus pais, seus amigos, sua empresa, seus restaurantes favoritos...
(Félix): Tá mas, com quem eu ia andar de skate de madrugada se você ir embora?
—Changbin?
(Félix): Não é você. Com quem eu ia passar horas no celular?
—Ahn...
(Félix): E quem ia me animar quando eu errasse o ponto de algum prato?
—Já entendi...
(Félix): Acaba que esse "tudo que eu tenho aqui", eu só tenho se você está aqui.
—Nos apegamos demais. —Digo sentindo meus olhos se encherem de água.
(Félix): Passamos anos juntos, brigados ou não, rindo ou não, inspirados ou não. Claro que nos apegaríamos mais do que queríamos.
—Como resolvemos isso?
(Félix): Lembra quando disse sobre investir? —Eu concordei e então ele continuou. —Oito ou oitenta, continuamos juntos, ou não nos vemos mais.
Mesmo que eu dissesse sobre sumir, eu sabia que não importava onde eu estivesse, mesmo que estivesse do outro lado do mundo, até mesmo em outra galáxia, a minha mãe não me deixaria em paz. Então, continuarmos juntos significava fingir ter um casamento feliz com o Hwang, e eu faria de tudo pra continuarmos juntos... Mas e se em algum momento, eu acabasse estragando tudo? E se estivesse atrasando a vida dele? Ele é o meu melhor amigo desde... Sempre, e eu sempre soube que ele merecia tudo que desejasse.
Ele merecia alguém que fosse só dele, que não estivesse a maior parte do tempo ocupada com outra vida, e isso doía tanto.
—Você é a pessoa mais importante pra mim. —Digo abraçando ele. —E eu te amo... Tanto que até dói, mas... Você merece alguém melhor do que eu.
Eu não podia chorar, pelo menos não naquela hora, tudo que eu mais queria era estar com ele... Mas não podia. As portas do elevador se abriram e eu soltei ele, saímos do elevador e eu não conseguia dar mais nenhum passo. Sair dali significava que não ia mais vê-lo, não teria um "até amanhã".
Por que não assumimos isso antes?!
(Félix): Eu também te amo pequena.
Senti seus braços me envolverem, junto à falsa sensação de estar tudo bem.
(Félix): Olha pra mim... —Sussurrou ao meu ouvido.
Levantei meus olhos até que eles encontrassem os dele, seus olhos brilhavam tanto, como sempre, meu peito se apertava por saber que seria a última vez. Sentir sua respiração quente junto á minha, assim que nossas testas estavam coladas uma na outra, um último, desesperado e maravilhoso beijo. Isso me destruiu.
Assim que nos separamos ele deixou um selar na minha testa e saiu.
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Contrato
FanfictionRelaxa... Esse não é o clichê o qual você já sabe o que acontece e como acontece.