BESTIAL

CAPÍTULO 2

Bestial entrou em seu quarto no hotel da Reserva e suspirou. Como tudo deu tão errado? Quando passou pela recepção, Hope lhe disse que Heather tinha pedido para que ele entrasse em contato urgente. Entrar em contato! Como se ela quisesse falar sobre algum negócio! Heather queria saber por que ele a chamou para sair num dia e no outro ela via na tv que ele era acasalado. Droga!
Ele ligou para ela, não ia postergar mais isso.
"Alô." Ela disse seca.
"Heather. Sou eu. Eu gostaria de que conversássemos, você teria um tempo hoje?" Ele disse.
"Conversar sobre o quê? Sobre a sua esposa?" Ela perguntou. Bestial pensou que a conhecia muito pouco, talvez não devesse dizer nada.
"Eu só queria pedir desculpas." Ele não tinha mais o que dizer. Iriam aparecer num programa, se ele dissesse a verdade a Heather, ela poderia contar, poderia fazer um escândalo. Ela era humana no fim das contas.
"Tudo bem, eu não quero mais ver você." Ela disse, ele se despediu e desligou. Ele e Heather estavam se conhecendo, não era uma perda muito grande, mas ele a magoou e aquilo incomodava. Heather era simpática, inteligente e bonita, ele se sentiu atraído, mas não apaixonado.
Bestial se lembrou de Marlena. Se Enrico não tivesse resistido a eles ficarem juntos poderiam estar juntos até hoje. Mas ela preferiu Thorment e a cara fechada dele, a Bestial e sua...
Sua o quê? Bestial já foi violento, já foi sanguinário. Agora, ele tinha resolvido viver de forma civilizada. Ele era um macho comum, um macho que estava envolvido em fazer o melhor que pudesse pelo seu povo. E não era lutando, trucidando os inimigos que ele conseguiria isso. Era com diplomacia, com tato, retórica e carisma. E Bestial, nesses mais de vinte anos de liberdade aprendeu a usar essas armas como ninguém. Justice era o líder, mas não podia atuar em todas as frentes. Bestial então sacrificou a sua veia violenta, a sua brutalidade, a sua ferocidade em troca de ajudar a navegar nas águas da política. Não como os humanos, de maneira falsa e dissimulada, mas com integridade e justiça. Os Novas Espécies dependiam do governo. Eles eram autosufientes em algumas coisas, mas não em tudo. Eles tinham soberania de país, mas estavam dentro dos Estados Unidos, não podiam romper totalmente com o governo, por que isso poderia fazer com que o governo quisesse escravizá-los. Eles eram fortes e ágeis, mas eram poucos. Viver em paz ainda era o melhor. Se para isso, ele tivesse que aparecer na televisão, que fosse.
"Divagando sobre o fim de sua vida de macho solteiro?" Jaded entrou no quarto dele e se sentou na cama.
"Não. Em como eu paralizei e não consegui dizer nada que desmentisse aquela filhote minúscula. Pensei que eu era um dos melhores oradores entre nós, mas ela me venceu com um sorriso e um par de mentiras." Jewel. Bestial a viu poucas vezes, quando ela era uma coisinha muito pequena e gorda. Como em tão pouco tempo ela podia ter virado aquela diabinha?
"Filhotes, meu caro. É o que eu digo, não tenho vontade nenhuma de ter. Nunca!" Jaded disse.
"Você não está falando sério. Somos o que somos e nosso instinto nos leva a fazer filhotes. Veja Valiant, você não inveja ele?"
"Você está mal, meu amigo. Eu? Invejar Valiant? De onde saiu isso?" Jaded riu. Riu com gosto fazendo Bestial o encarar, olhar no fundo das pupilas verdes dele pra ter certeza de que ele estava sendo sincero.
"Você está falando sério." Bestial afirmou surpreso. Ele nunca ia pensar isso de Jaded.
"É claro. Veja bem, Bestial, você sai com quantas humanas por mês? E se vinculou? É claro que não. É como eu digo, o vínculo não é pra qualquer um. Acho que não é pra nós dois pelo menos." Ele disse, Bestial ficou em silêncio. Ele não procurava se vincular. Mas ele esperava que acontecesse.
Bestial balançou a cabeça e resolveu fazer sua mala, já estava de tarde, ele planejava jantar com sua nova 'companheira'.
"Vai mesmo levar isso adiante?" Bestial sorriu.
"E foi por isso que você veio aqui." Bestial disse, Jaded sorriu.
"Wanda ficou preocupada. Esse dinheiro ajudaria a tirá-los do buraco. Sabe que isso é importante." Ele disse.
"Para a causa ambiental ou para Wanda?" Bestial perguntou.
"Sabe que os dois estão relacionados, Bestial. Wanda é uma fêmea humana de valor, sua fundação realmente atua do jeito certo, o sonho dela é fazer do nosso planeta um lugar melhor. Mas o governo não ajuda fundações com intensões altruístas, eles querem fundações de fachada para propinas, superfaturamento e lavagem de dinheiro. Uma fundação como a de Wanda, sobrevive a margem, sem incentivo, muitas das vezes com dinheiro particular. Mas uma doação desse porte, põe ela no topo das fundações mais conhecidas, traz marketing, desperta interesse. Precisamos desse dinheiro." Ele disse.
"Tudo bem então se eu me declarar acasalado para todo o mundo e mostrar isso para todos durante duas semanas. Sabe o que isso significa pra mim? Nada de fêmeas. Por que eu estaria acasalado. Isso é pra sempre." Bestial não tirava isso da cabeça.
"Ela é linda!" Jaded disse e sorriu.
Era. Linda demais, o rosto delicado, as sobrancelhas finas arqueadas loiras, os lábios carnudos. E inteligente. Alta, atlética, nada de fraqueza com ela.
"Isso não faz um acasalamento, J. O vínculo faz." Ele disse.
"E a calda? Acha que na hora do..." Bestial arregalou os olhos.
"J.! A calda! Mônica não tem calda!" Bestial se lembrou de quando ela saiu da sala, seguindo os dois filhotes, sem calda. Só uma bunda redonda, generosa, colada no jeans que ela vestia.
"Quem é Mônica?" Jaded perguntou.
"A doutora Mônica Bishop. Ela não tem calda." Jaded olhou para Bestial como se ele estivesse com algum problema na cabeça.
"O que a doutora Bishop tem a ver com isso?" Ele perguntou.
"A doutora Mônica é irmã de Rebbeca." Jaded o encarou.
"Não." Ele disse. Bestial viu que ele não sabia.
"Quando foi a última vez que passou no hospital?" Bestial perguntou, Jaded rosnou.
"Quando Vengeance quebrou o meu maxilar, aquele filho da puta." Jaded fechou a cara.
"E conheceu a doutora Mônica lá?" Jaded ergueu as sobrancelhas, ainda não entendendo onde Bestial queria chegar.
"Sim. Ela é magra ao extremo, morena com sobrancelhas de macho, muito grossas e escuras. Tem um maxilar meio... Bom, ela não é uma fêmea bonita. Ainda que inteligente e até com algum sendo de humor. Muito correta e apegada às regras." Jaded contou.
"Você não ficou sabendo nada dela? Sério?" Bestial não acreditava nisso.
Jaded se acomodou na cama.
"Meu Deus! É mesmo! Ela estava disfarçada! Ela é Nova Espécie, não é? Foi implantada mais tarde e criada por um cientista que morreu. Eu me lembro da história. É que eu estava fora. Kit me ligou contando. Quando eu cheguei a novidade já tinha esfriado, e como eu não tive motivos para ir ao hospital..." Ele disse.
"Ela e Rebbeca são irmãs e muito parecidas." Bestial informou de novo. Jaded continuava com a testa franzida, provavelmente tentando lembrar se tinha visto Mônica sem seu disfarce.
"Sim. Mas ela não tem calda?" Jaded perguntou e Bestial fez que não com a cabeça.
"E qual o problema?" Jaded perguntou, e Bestial o olhou decidindo se contava ou não. O zoológico era como outra cidade. Durante o programa, talvez eles fossem sair da casa deles poucas vezes. Não, Jaded poderia ajudar.
"Eu resolvi dizer que acasalei com Mônica e não Rebbeca. Teremos de inventar alguma coisa."
"Mas por que? Não foi Rebbeca que apareceu na entrevista?" Jaded perguntou.
"Rebbeca não fala direito. Ela tem uma mente um pouco atrasada. Ela caça, anda nua e luta por qualquer coisa, segundo me contaram. Acha que isso ficaria legal num reality show? Eu correndo atrás dela, ela nua, para que ela se sentasse a mesa na hora do jantar? Até segunda, vou pensar em alguma coisa." Jaded riu, Bestial não.
"Ah, seria engraçado! Daria a maior audiência!" Jaded continuou rindo.
"Ela topou, eu senti que ela se sentiu responsável por essa história. E será só alguns dias, duas semanas, eu acho." Bestial se lembrou de Rebbeca toda arrumada para a entrevista, o vestido azul claro, chique que destacou os olhos dela, o corpo bonito, a calda que balançava e que ficou perto da mão de Bestial no banco. Mas sua mente se fixava no rosto da irmã, ela tinha uma aparência meio cansada, tinha até umas olheiras. Não devia ser fácil cuidar de Rebbeca e das crianças. Bestial viu os filhotinhos no berço. Eram tão bonitinhos. Deviam ser espertos e inteligentes como ela.
"Bestial?" Jaded o chamou.
"Vai dar certo. Wanda vai ficar imensamente agradecida, a fundação vai decolar e você vai..." Ele parou de falar
"Eu vou..." Bestial era o único que não ganhava nada com aquela história.
"Fazer o bem? Pode compartilhar sexo com ela se ela estiver disposta. Ela é mesmo parecida com a Rebbeca da entrevista? Eu me lembro dela, morena, esquisita, como pode?"
"Ela estava disfarçada de humana quando você a viu. Ela é tão parecida com Rebbeca que eu as confundi." Bestial se lembrou de dar uns passos na direção dela e ela se afastar, não como uma presa, com medo, mas como estratégia. Mônica não era uma fêmea frágil, isso despertou de alguma forma seu lado predador.
"Bom, aproveite, então. E obrigado." Jaded saiu do quarto. Bestial olhou sua mala, mas as roupas que estavam lá não eram roupas de se usar em casa, ele precisava fazer compras. As cidades do entorno provavelmente não teriam o tipo de roupa que ele gostava de usar, mas teriam de servir.
Mesmo assim ele arrumou sua mala e com isso pronto desceu para a recepção. Da recepção foi ao complexo e procurou Jinx. Não o encontrando ali, foi perguntar onde ele estaria na sala de Slade.
"Então, você é o nosso mais novo macho acasalado? Quando foi isso? E logo com Rebbeca? Sabe do cio dela né?" Ele perguntou, Brass que também estava na sala o olhou interessado.
"Foi ontem de manhã. E sim, eu sei do vínculo. Mas não me acasalei com Rebbeca, foi com a irmã dela. Foi por isso a minha cara de surpresa na entrevista." Mentiras e mais mentiras. Para seus irmãos. Será que o fato de ser por uma boa causa valia mesmo isso? Mas ele contaria tudo, assim que o maldito programa acabasse.
"Como assim?" Brass o encarou. Brass morou em Homeland durante muitos anos, ele e Bestial eram amigos. E mesmo que fossem apenas conhecidos, ele não era um macho comum, ele era muito inteligente.
"Não era para contar, ainda não assinamos os papéis. Mas Jewel queria contar, queria aparecer, vocês conhecem ela melhor que eu. Mônica não ficaria a frente das câmeras, Rebbeca não entendeu muito bem o que estava acontecendo, mas sorriu e adorou se arrumar." Bestial se lembrou de Jewel e Rebbeca saindo correndo e Rebbeca arrancando seu vestido ao longe.
"A doutora Mônica é uma pessoa muito boa. Eu conheci o pai dela, ele era um ótimo macho. Espero que tudo dê certo para vocês. Se precisar de ajuda, conte comigo." Brass disse olhando nos olhos de Bestial. Isso era o pior de mentir, enganar alguém bom como Brass. Ele estava quase gritando que era tudo mentira!
"E a conheceu nas gravações?" Slade perguntou. Bestial acenou e Slade deu um pulo. Bestial olhou assustado para ele.
"Passa a grana, idiota! Só podia ser nas gravações!" Ele disse rindo.
Eles apostavam em tudo, mas tudo mesmo.
Slade chamou Jinx pelo rádio, Bestial foi encontrá-lo na sessão do muro que ele patrulhava. Ficar entre os outros machos o fazia ter de mentir. Isso estava sufocando Bestial. Mentir era indigno, nojento. Ele achava que talvez não fosse conseguir.
Ele saltou para cima do muro, Jinx sorriu.
"Ainda em forma, Bestial, quem diria?" Bestial ignorou.
"Eu vim cobrar o que você me deve." Jinx parou de sorrir.
"E o que um macho recém acasalado iria precisar que o fizesse cobrar um favor?" Ele disse, irônico. Bestial achou melhor não dizer nada.
"Você sabia que Rebbeca está próxima do cio?" Bestial perguntou. Jinx deu de ombros.
"E daí, vocês são acasalados, o que eu tenho a ver com isso?" Ele perguntou.
"Tem que você vai passar os dois dias do cio com ela e vai... Ajudar." Jinx o olhou com a boca aberta, surpreso.
"Você está louco? Por que eu tocaria em sua fêmea?"
"Eu acasalei com a irmã dela, não com ela. E o cio de Rebbeca começa daqui a três dias. Vou arrumar uma acomodação para vocês." Jinx balançou a cabeça e deu um passo para trás, quase caindo do muro.
"Não. Timber foi 'ajudar' como você diz, ela quebrou o braço dele. Não, peça outra coisa. Eu te carrego nas costas e vou a pé daqui até Homeland, mas não vou fazer isso." Jinx disse.
"Sim, você vai. Se for um macho honrado, você vai." Jinx baixou a cabeça.
"Sim, eu vou. Mas nunca mais me peça nada. Nunca mais." Ele disse.
"Desde que entenda que daqui a dois meses irá 'ajudar' de novo, e depois e depois, até completar seis vezes, tudo bem." Bestial cruzou os braços.
"Você não está falando sério!" Jinx disse, seus olhos eram duas balas, prontas a atirar, ele estava puto.
"Sim, eu estou." Bestial o fitou, mostrando que não aceitaria uma recusa.
"Cara! Isso é injusto demais!" Ele disse.
"Suas palavras exatas foram: 'O que precisar, Bestial, o que precisar, fale e eu farei.' Estava brincando?" O macho se endireitou.
"Não. Será feito." Ele disse.
"Seis vezes." Bestial precisava resolver isso.
"Seis malditas vezes." Ele repetiu.
Bestial saltou, a cara de Jinx iria o perseguir por um tempo. Ele estava fazendo muita coisa que não gostava, estava se tornando uma outra pessoa, e uma pessoa horrível. Mas essas duas semanas passariam logo, isso era a única coisa boa nisso tudo.
Ele pegou um jipe, pronto para a última missão da noite, jantar com sua nova família.
Na administração, ele entrou e viu que a sala estava vazia, o cheiro deles indicava que estavam do lado de fora.
Ele passou por um corredor, mas uma porta estava aberta e o cheiro de Mônica indicava que ela estava ali.
Ele entrou, Mônica se virou e ele deu um passo para trás. Ela estava sem camisa. Os seios cheios e empinados livres. Bestial sentiu seu corpo aquecer e o pau dar sinal de vida. Ela cobriu os seios, mas um dos filhotinhos, subiu pelo corpo dela e disse:
"Peito, mamãe!" ela destampou um dos seios para ele sugar.
"Eu... Estou lá fora, com os outros." Bestial se virou e respirou fundo. Ele era um pervertido! Ele olhou para os seios de uma fêmea que amamentava seu filhote com tesão! Quanto mais ele desceria em direção ao fundo do poço da vergonha eterna?
Lá fora, um macho loiro como Mônica e Rebbeca estava sentado com a filhotinha loira, Missy, no colo. Ele lia uma história num livro para ela, ela sorria. O outro filhote, o mais velho, comia sentado a mesa, também interessado na história. Rebbeca estava também à mesa, amamentando o outro filhotinho. Quem seria o pai do filhotinho de Mônica? Ou ela tinha leite e amamentava o sobrinho para ajudar a irmã? Os dois eram muito parecidos e tinham o mesmo tamanho. Teriam o mesmo pai? Bestial tentou se lembrar de como eles vieram para a Reserva. Foram resgatados, Rebbeca, Isaac e quatro filhotes. Por que então, o filhotinho chamou Mônica de mamãe? Tudo era muito estranho.
O macho se levantou e sorriu para Bestial. Ele era muito parecido com as irmãs.
"Oi, Bestial! Mônica me explicou a confusão e a traquinagem de Rebbeca. Deve ter sido um susto e tanto." Ele disse, Rebbeca rosnou.
"Olha, Beck, ele é da Mônica! Não é seu. Eu já falei com Oaks. Ele vem aqui amanhã." Isaac disse, Rebbeca mostrou os dentes para ele.
"Oaks, não!" Ela disse. Será que era para o problema do cio? Bestial resolveu arriscar:
"E Jinx? O conhece?" Rebbeca o olhou. Ela não era burra ou retardada, isso era fácil de se ver ao olhar nos olhos dela. Talvez ela tivesse uma alma simples e fosse dominada demais pelos instintos e impulsos animais advindos dos genes animais que eles tinham.
Ela olhou para Isaac.
"Jinx?" Ela perguntou. Isaac o olhou, Bestial acenou.
"Jinx é um dos oficiais. Eles trabalham para nos manter seguros. Ele tem muito bom humor, Beck." Ele disse com um sorriso. Ela sorriu.
"Jinx." E olhou para o filhotinho preso ao seio. Ele tirou a boca do seio e disse:
"Jinx!" Todos riram, a gargalhada do bebê, foi o som mais fofo que Bestial ouviu em muito tempo.