CAPÍTULO 32

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A mãozinha de Livie apertou a dele, Simple sorriu. Pelo menos ele estava trazendo-a, agora todos estavam no mesmo país. Era o que ele torcia, pelo menos.
"Você não dormiu." Ela disse esfregando os olhos.
"Não." Ele respondeu.
"Você sempre fala tão pouco?" Ele sorriu e deu um beijinho nos lábios dela, ela fechou os olhos como Violet fazia. Candid tinha arruinado o estereótipo que Simple criou, o calado e inteligente. Agora quando falavam nele diziam que ele tinha crescido e que era falador, piadista e encantador. Simple poderia até fazer uma piada ou outra, mas não como ele.
Mas Livie não se lembrava deles, ela não se lembrava de nada, de ninguém.
Ela se recostou contra ele, inspirando fundo.
"Seu cheiro é como o dele." Ela disse fechando os olhos.
"Você não esteve junto dele, você o viu pela tv, como sabe que meu cheiro é como o dele?" Ela não abriu os olhos.
"Eu não sei, só sei que é." Simple franziu o nariz. Eles e Honor não eram tão parecidos, Honor era mais parecido com os gêmeos, mesmo tendo aqueles olhos esquisitos. Ainda que todos tivessem o cabelo igual e o sorriso da mãe deles, menos Pride, é claro, os cabelos dele eram mais escuros. Simple sentiu saudade da mãe, de todos os seus irmãos até de Daisy. Ele sorriu. Novas Espécies não foram feitos para viverem longe de sua família.
"Ainda demora muito?" Ela perguntou ele assentiu.
"Durma." Ela fechou os olhos, ele suspirou. Se o que Honest contou sobre o tal Adriel fosse verdade, eles estavam em maus lençóis. Livie não era blindada contra sugestão, quase ninguém era.
A aeromoça sorriu para ele, oferecendo uma bebida, se abaixando mais que o necessário para que o vale entre seus seios ficasse a mostra.
"Não quero nada, obrigado." Ele disse. Não havia ninguém ali para saber que ele tinha se negado ao convite dela, coisa que se fosse o verdadeiro Candid, ele não faria. Ele provavelmente passaria todo o tempo do vôo no banheiro, fodendo quantas passageiras ou aeromoças conseguisse. Simple sentiu falta de seu irmãozinho do meio. Honest era sério demais, sempre foi.
Ele fechou os olhos, revivendo tudo o que tinha acontecido desde que McKay ligou reclamando de Honor mais uma vez. Simple tinha suspirado e dito que eles sabiam no que estavam se metendo. Honor não era um lutador, talvez nunca seria e isso era o diferencial dele, ele era especial. Qualquer Nova Espécie poderia ser selvagem e violento, isso estava no sangue deles, era um lugar comum. Mas Honor era doce e puro. Sempre foi o melhor deles. E ele estava preso por Livie. Ele fez tudo sozinho, ele contatou McKay, ele fez o acordo. Simple e seus irmãos descobriram tudo depois, quando Livie foi para a Escócia.
Nessa ligação, McKay tinha contado que não conseguiu muita coisa com as drogas de aprimoramento, as de Samantha eram melhores, ele estava muito atrás, já que Honor matou sete aprimorados sem lutar, sem nenhum esforço, na verdade. McKay estava possesso. Simple não disse que Honor era quase indestrutível e que mesmo Novas Espécies de verdade não conseguiriam matá-lo, dependendo de quem fosse. Então ele disse que queria um filhote. Simple se lembrava do ditado que Dusky, ou Blue, ele não lembrava, tinha dito a eles: que quando se alimentava uma cobra, assim que ela estivesse satisfeita, picaria seu provedor. Era exatamente isso que McKay estava fazendo. Mas filhotes de Novas Espécies estavam sempre aparecendo de um lugar ou outro, se McKay tivesse sucesso, eles saberiam onde o filhote estaria. E não era como se não pudessem tomar o filhote dele. McKay tinha contatos e dinheiro, mas ainda não havia um exército que pudesse fazer frente a força tarefa dos Novas Espécies.
Simple então disse que queria observar a interação de seu irmão com a humana escolhida por McKay. Quando este aceitou, Simple achou estranho a prontidão com que ele tinha aceitado e esperou a data marcada, em seu quarto na faculdade, confortavelmente instalado em sua cama, de olho no laptop.
Ver seu irmão barbudo, e com um olhar distante no rosto preocupou Simple. Ele até parecia maior, mais forte.
A tela se dividiu e ele viu Livie num quarto batendo na parede, querendo sair. Simple suspirou. McKay estava brincando com fogo. O faro de Honor não era como o deles, mas era bom, muito bom. Se ele soubesse que Livie estava naquele castelo, ele derrubaria as paredes, demoliria o lugar.
Durante a filmagem, Simple se surpreendeu. Honor não sentiu tesão pela fêmea, seu pau não subiu. A fêmea insistiu e ele pareceu querer sentir alguma coisa e até segurou a cabeça dela, mas soltou. Até que Livie matou a fêmea humana. Simple tinha ficado estarrecido por um momento. O que aconteceu com Livie? Ela não era daquele jeito! Ele conversou com ela e descobriu que tanto ela quanto Honor estavam vinculados e isso era uma novidade. Não era impossível e já tinha acontecido, mas não com essa intensidade toda, afinal Livie estava sem memória.
Simple foi dormir com a imagem da pobre fêmea humana morrendo e com Honor comendo na cama, calmo enquanto o corpo da fêmea jazia no chão, como se não fosse nada.
No dia seguinte, Simple se lembrava da sensação ruim que sentiu quando todas as implicações do que tinha acontecido lhe vieram a mente. Livie matando, Honor insensível. Eles tinham de fazer alguma coisa.
A semana passou, Honest e Candid foram atrás de Dom Vickers e o inesperado aconteceu, Candid...
Foi por pouco, muito pouco mesmo! Honest praticamente sangrou Candid até quase não restar uma gota de sangue no corpo dele. Simple tinha ido ficar com eles naquela cidade distante, mas quando chegou, Candid estava em coma e Honest desesperado. Toda a culpa era dele, unicamente dele. Simple jurou nunca mais deixar eles sozinhos, nunca mais deixá-los ir na esquina sem ele.
Livie se virou e Simple a acomodou melhor. Ela era tão bonita! Simple rogou para que Honor estivesse bem, que tudo desse certo.
"Candid? Eu dormi por muito tempo?" Ela perguntou. Simple sorriu, a mente dela ainda era forte. Mas ele não queria conversar.
"Durma." Ela amoleceu nos braços dele. Pride tinha dito que ela tinha resistido a sugestão dele quando eles compartilharam sexo pela primeira vez, quando ele ordenou que ela fechasse os olhos. Talvez ela devesse treinar blindar sua mente. Embora talvez já fosse tarde demais.
Não. Nunca era tarde demais para eles, eles não desistiam. Ele não desistiria de Honor.
Candid saiu do coma dois dias depois de Simple ter chegado onde estavam, mas a alegria deles durou muito pouco. Mckay ligou arrancando os cabelos, gritando que o castelo tinha sido invadido, só ele, Sete, no caso, tinha sobrado e tinham levado Honor.
Simple não contou para seus irmãos logo de cara, Sete lhe disse umas coisas assustadoras, ele precisava pensar.
Candid estava animado, queria sair naquele dia mesmo, ir 'caçar' como ele mesmo disse, mas Simple tinha outros planos.
"Ah, que porra, Sim! Do que adianta meu pau estar duro como uma rocha por causa das drogas se eu não aproveitar isso?" Ele tinha dito, tinha tirado as calças e mostrado o pau.
"Acha que pode ter crescido mais?" Ele perguntou se acariciando. Honest rosnou.
"Cara, nunca imaginei que você pudesse ser mais idiota que você já era! Pare com essa porra!" Honest tinha rosnado, com cara de mal, mas Simple via nos olhos dele o alívio por Candid estar ali. Candid jogou a calça na cara dele e foi para o banheiro.
"Não aceito um 'não' como resposta. Se não vierem comigo, vou sozinho." Ele dissera ligando o chuveiro.
"O que foi? Você está preocupado, eu sei." Honest tinha se sentado ao lado dele na cama, Simple passou um braço pelos ombros dele e o cheirou, fechando os olhos. Seu irmãozinho, seu herói.
"Você parece sempre cheirar antisséptico pra mim." Simple tinha dito, Honest, porém não riu.
"O que aconteceu, Sim?"
"Samantha pegou Honor." Ele se levantara da cama com um salto. Candid saiu do banheiro todo ensaboado e muito puto. As drogas ajudaram a fúria aflorar.
"Como isso aconteceu? E por que você está aqui, como se nada tivesse acontecido? Que porra!" Ele rosnou.
"Eu vou para a Escócia, Livie está desprotegida, mas antes..." Candid rugiu.
"Livie que se foda! Honor se deu para aqueles clones depravados por ela, agora foi capturado. Por mim, ela que se exploda!" Candid pegou uma toalha e enrolou na cintura.
"Calma, nós precisamos conversar." Simple tinha dito, mas Candid estava muito nervoso.
"Conversem vocês dois. Eu vou agir!" Candid abriu o guarda roupa e tirou uma calça e uma camisa de lá, ironicamente uma camisa azul. Simple o olhou se vestir com impaciência, colocando os botões nas casas erradas.
"Vai agir como, idiota? Vai pegar um avião para a Escócia? Sem saber dos detalhes?" Honest tinha dito, Candid tirou a camisa e a jogou na cara de Simple.
"Fale." Simple suspirou.
"Os clones o levaram." Ele tinha contado. Candid fez que não com a cabeça. Ele gostava demais de Adam e Noah para acreditar nisso.
"Mentira." Ele se sentou numa cadeira e olhou para as mãos.
"Sete sobreviveu por que não estava lá. Todos no castelo morreram." Honest se aproximou e colocou a mão no ombro de Candid.
"O que há para conversar? Vamos falar com a força tarefa, usaremos um helicóptero, chegaremos lá e..." Ele parou, Candid sabia que estava falando coisas inúteis.
"Já sabemos que foram eles, nesse momento, provavelmente já saíram de lá. Eu vou buscar Livie e sondar o lugar, vocês ficam aqui." Simple tinha dito, contrariando sua própria resolução de não deixa-los sozinhos.
"Não. Você não iria para lá só pra buscar Livie. Você tem outros planos. Fale, Sim. Fale, ou você não sai daqui com as pernas inteiras." Simple tinha imaginado que ele tentaria algo do tipo.
"Eu vou, mas não como eu." Quando ele disse isso, Candid tinha rugido. Honest olhou para a porta, se continuassem fazendo esses barulhos alguém iria acabar batendo na porta deles.
"Não. A Unidade acabou." Candid tinha dito com as narinas abertas. Seus olhos já calculavam o perímetro do quarto, os ossos de Simple tiniram.
Droga!
"Sabe que tem de ser você a ir pra lá, mas também sabe que não fará o que deve ser feito." Simple disse, se esticando. Ia doer, ia doer muito, era só o que sua mente registrava.
"Eu farei o que deve ser feito, apenas vou tentar não ter de fazer o pior." Candid tinha dito, Simple tinha negado com a cabeça.
"Eles são o tio V., não dá pra hesitar. E você hesitaria." Simple disse.
"Eu acho que estão se precipitando. Eles devem ter trazido Honor pra cá. Vamos procurar, vamos usar o FBI, ou o governo, a força tarefa, sei lá! Não vamos fazer isso sozinhos." Honest tinha ponderado, mas nem Candid, nem Simple tinham lhe dado atenção.
Honest não entendia de fato sobre o que eles falavam.
"Adam saberia que não sou eu." Candid dissera, Simple sorriu.
"Se me matarem, terá a sua vez, mas eu vou primeiro." Candid se aproximou.
"Você não é páreo pra mim. E você foi quem fez o acordo, foi quem nos convenceu a deixar Honor lá, eu vou quebrar suas duas pernas." Ele dissera, seus olhos duros e frios o fizeram ficar muito diferente do Candid que todos conheciam, brincalhão e gentil.
"Então estamos de acordo?" Simple sorriu, ele sorriu de volta. Não se conter, lutar pra valer, era tudo que a violência dentro deles precisava.
"Não. Nada de luta. Não vou remendar os dois idiotas! Vickers está no necrotério, temos de tirá-lo de lá, antes que ele seja cremado." Honest tinha entrado no meio dos dois.
"Saia, Hon. Está tudo bem." Simple tinha dito, Honest estava tentando protegê-lo. Simple nunca foi o maior lutador deles.
Honest suspirara se afastando, Simple respirou fundo. Ele deu o primeiro golpe, com muita força, deslocando o maxilar de Candid. Mas seu irmão sorriu e colocou o maxilar no lugar, cuspindo sangue na direção de Simple.
"Daisy faz melhor que isso." Simple lhe acertou de novo, dessa vez na barriga, uma duas vezes, Candid riu.
"Quer me vencer me fazendo cócegas?" Ele empurrou Simple, Simple voltou a carga lhe dando um chute de lado. Candid aproveitou a proximidade e deu um murro bem no meio da cara de Simple, quebrando seu nariz. Simple nunca tinha sentido tanta dor no rosto, ele piscou a tempo de levar outro soco na cara, dessa vez, seu maxilar quebrou. Ele saltou para trás, para pegar fôlego. Candid sorriu.
"E é assim que se acerta um maxilar!" Ele brincou. Simple entendia o por quê dele estar brincando, ele era mais forte, muito mais. Mas uma luta se vence com estratégia. Simple sempre soube que não era páreo para ele. Só que Candid era arrogante e havia uma regra na luta deles que ele tinha esquecido.
Candid saltou sobre ele Simple conseguiu emendar um bom cruzado de direita bem no olho dele, Candid perdeu a paciência e a vontade de brincar. Agarrou Simple pelo pescoço. Simple travou os olhos nos dele e tentou soltar as mãos de Candid de seu pescoço.
"Desista." Candid disse. Simple conseguiu erguer um canto de sua boca. E nesse momento, Candid viu a estratégia dele. Ele apertou o pescoço de Simple com mais força, Simple continuou com os olhos nos dele.
"Cam! Vai matá-lo!" Honest se desesperou. Candid apertou mais, Simple continuou com os olhos fixos nele.
"Sim, pare com isso, Por favor, desista, porra!" Honest implorou. Simple continuou a segurar os braços de Candid, suas garras cravaram na pele, o sangue escorria.
Era uma regra simples: se um deles não desistisse, mesmo que desmaiasse, era o vencedor. Simple só tinha que fazer Candid desmaiá-lo. Se Candid soltasse, era como se ele tivesse desistido. Eles eram muito novos quando estabeleceram as regras, mas ainda valiam. Essa regra foi para evitar que se estrangulassem no calor da luta. Não fazia muito sentido agora, mas era a regra.
Candid ainda podia jogar Simple longe e atacá-lo, mas não era tão fácil com Simple agarrado em seus braços.
"Desista!" Candid rosnou. Simple cravou suas garras mais fundo nos braços dele. Não havia como jogá-lo.
"Desgraçado." Candid o soltou, Simple ainda usou suas garras presas nos braços dele para lhe dar uma cabeçada.
"Parem! Simple venceu." Honest correu para Candid, examinou o braços dele, mas as feridas já estavam fechando.
"Essa regra não faz sentido." Candid rosnou.
"Mas ainda vale. Ou você não tem honra?" Honest tinha falado, Simple estava com a garganta esmagada. Honest lhe aplicou alguma coisa no pescoço, a dor começou a diminuir.
"Não vai matá-los." Candid tinha dito saindo só de calça, segurando uma camisa. Simple o chamara, tirou o elástico de seu cabelo e jogou para ele.
"Não, não vou ser você, você é um lixo." Ele jogou o elástico para Honest e trançou os cabelos.
"Penteado ridículo." Ele sussurrou quando finalmente tinha saído.
Honest amarrou o cabelo com o elástico, mas de forma desanimada.
"Por que tem de ser Candid?" Ele perguntou, Simple tinha sorrido.
"Por que Noah gosta dele."

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