Mônica abriu os olhos e se descobriu no hospital. É claro, a batida na cabeça foi muito forte. Ela se sentou e viu que Bestial estava dormindo com a cabeça na cama, sobre os braços, sentado numa cadeira. Ela olhou para a janela, mas as cortinas fechadas não deixavam nada a vista. As luzes apagadas no entanto indicavam que era noite.
Ele ergueu a cabeça e a olhou um pouco desorientado, piscando os bonitos olhos azuis, ela suspirou.
"Quanto tempo estou aqui?" Mônica perguntou.
Ele olhou no relógio.
"Já é madrugada. Você foi sedada, no entanto, por precaução. Florest ficou preocupado com a pancada e te colocou pra dormir. Fizeram uma tomografia e está tudo bem. Sua cabeça é bem dura." Ela sorriu, ele não.
"E Rebbeca?" Ela queria saber o que fizeram, embora pudesse adivinhar, ela estaria sedada.
"Ela está bem, volte a dormir, mais tarde iremos pra casa." Ele disse, 'iremos pra casa' querendo dizer, mais tarde conversamos. Mônica não ia conversar. Não era da conta de ninguém o que ela decidia mostrar de seu corpo ou não.
"Eu quero ver Rebbeca." Ela viu que estava apenas com um acesso, ela mesma o retirou e se levantou da cama. Ele a observou com aquele jeito calmo dele. Quando se firmou nos pés, uma tontura a tomou, ela teve de se segurar na cama. Bestial deu a volta na cama e a segurou pelo braço.
"Quer ir no banheiro?" Ela queria, mas queria também ver Rebbeca.
"Sim, mas eu quero ver Rebbeca."
"Vamos no banheiro primeiro." Ele decidiu, ela, porém soltou o braço da mão dele.
"Eu posso ir sozinha, obrigada." Ele não fez movimento algum, Mônica foi andando devagar até entrar no banheiro, fazer xixi, lavar as mãos e o rosto. Ela sentiu o olhar dele queimando as costas dela. Ela suspirou.
Bestial queria ser companheiro dela e isso não era pouco. Ele a ajudou com Rebbeca, ele segurou Rebbeca, ela o machucou e ele não revidou, ele estava se tornando muito importante, não só para ela, mas para a família dela. Agora, porém mais uma vez, Mônica foi pêga mentindo.
E eles abominavam mentiras, Bestial resolveu ser companheiro dela para não ter de mentir. Ela não sabia o que dizer. Não havia explicação, a não ser que revivesse todo horror que ela viveu, toda a dor, o medo, o sentimento de ter aquele apêndice feio ligado ao corpo dela. Mônica se encheu de coragem. Ele não merecia que ela fosse grosseira, como ela pensou no início, de que ela diria o que quisesse, e ele que aceitasse.
Ela voltou para perto da cama, mas não queria se deitar ali, ela queria ver Rebbeca. Todavia, pelo cheiro, Mônica percebeu que Rebbeca não estava ali, onde ela poderia estar?
"Onde está Rebbeca?" Ela estava se sentindo menos tonta, sua cabeça não estava mais tão pesada. Ela iria onde Rebbeca estava, mesmo que tivesse de ir com aquela camisola aberta nas costas. Afinal, agora não havia mais nada a esconder.
"Rebbeca está bem, Mônica. Você precisa dormir, descansar." Ele se aproximou, Mônica o olhou nos olhos. Ele estava cansado.
"Eu só quero saber onde ela está."
"Numa cabana, dormindo. Deixe-a descansar." O cio dela durava dois dias. Se ela entrou no cio no dia anterior, ela ainda teria todo esse dia ainda sentindo os efeitos.
"Eu quero vê-la." Ela exigiu.
"Não agora. Você vai descansar, ela vai descansar. Deite-se." Ele estava perto, bem perto, usando seu tamanho para empurrá-la para a cama. Ela se deitou.
"Bestial, eu sei que você quer conversar. Eu num primeiro momento não queria, mas eu vou te contar..."
"Não. Não precisa me contar nada. Você tem de descansar. Não acho que precisa explicar, meus olhos estão vendo." Ele se sentou na cadeira se recostando, procurando um jeito de se ajeitar.
"É madrugada, Mônica. Durma, mais tarde iremos pra casa."
"E Bernie?" Ela perguntou. Bestial sorriu, um sorriso orgulhoso.
"Depois de morder todo mundo que tentou acalmá-lo, ele dormiu. Está na casa de Leo. Jocelyn levou os quatro para lá. Eu fiquei com ele até ele e Fred dormirem. Leo está com um enorme curativo no braço, Fred é bem pior que Bernie. Já tentaram aparar as garrinhas dele?"
"Sim, mas elas crescem muito rápido. E ele esperneia tanto, que tem de ser sedado." Ela sorriu se lembrando de Honest e Candid tentando aparar as garras de Fred. Foi um dia muito divertido.
"O que foi?" Ele perguntou.
"Honest e Candid, uma vez apararam as garras de Fred. Eles ficaram muito arranhados, Fred sempre dá um jeito, ele se contorce e acaba arranhando a gente." Ele sorriu.
"Sim." Ele mostrou o braço. Um arranhão comprido estava ali, avermelhado.
Ela se ajeitou no travesseiro.
"Eu quero sua palavra de honra de que Rebbeca está bem." Mônica exigiu.
"Você a tem." Ele disse. Mônica se recostou na cama e fechou os olhos. Ela não dormiu de pronto, mas ainda estava sentindo o efeito dos sedativos, o sono veio.
Quando acordou, as cortinas estavam recolhidas, o sol brilhava. Bestial continuava no mesmo lugar. Ela sorriu, ele se levantou.
"Bom dia." Ela disse.
"Boa tarde." Florest a corrigiu sorrindo entrando no quarto.
"Como está se sentindo?" Ele perguntou, Mônica tocou no ferimento em sua cabeça, estava bem melhor.
"Bem. Sem tonteiras, sem inchaço." Ele acenou, mas virou a cabeça dela e tocou nos pontos, já estava quase cicatrizado.
"E quem tirou o seu acesso?" Florest perguntou bem humorado. Mônica fez cara de culpada.
"É contra as regras um paciente tirar o seu acesso, senhorita Bishop." Ela sorriu.
"Vou lembrá-lo disso, caso acabe um dia no meu lugar." Ele olhou o fundo dos olhos dela, mediu sua pressão, auscultou seu coração, tudo sem necessidade. Mônica suspirou.
"Isso é uma vingança?" Ele sorriu.
"Encomendada por Honest. Você entende que tenho que ganhar quantos pontos eu puder com meus cunhados, não é?" Ela riu.
Olhou para Bestial ele mantida uma expressão fria, ainda que calma.
"Como Honest ficou sabendo?" Ela perguntou, Bestial lhe deu as costas e foi até a janela.
"Eles sabem de tudo que acontece aqui. Violet é uma das que liga para eles a qualquer novidade." Ele disse.
"Ele quis vir, mas não pôde, está fazendo provas, mas no final de semana estará aqui. Esse é o número dele." Ela pegou o papel e memorizou o número. Bestial rosnou.
"Está liberada." Florest saiu do quarto.
"Honest? Não sabia que eram tão amigos. Ele sabe?" Ele perguntou ainda de costas. Ela sabia muito bem o que ele perguntou se Honest sabia. Mas não ia ir por aí.
"Nós nos aproximamos muito quando eles vieram de férias. Eles agem como se o zoológico fosse a casa deles." Ele balançou a cabeça ainda de costas.
"E Rebbeca?" Ela perguntou se levantando. Ele se virou, parecia com raiva de alguma coisa.
"Precisa de ajuda para se vestir?" Ele perguntou, ela queria que ele esperasse lá fora.
"Não. Pode me esperar lá fora." Ele a olhou. Bestial era controlado, passivo. Ele acenou e saiu.
Mônica olhou a roupa que havia na cadeira, era um conjunto de moletom. Ela mexeu nas gavetas do criado mudo ao lado da cama e achou esparadrapo lá. Havia também uma pequena tesoura.
Cortar a calça, ou fazer o de sempre? O esparadrapo a olhava, a tesoura também. Mônica suspirou. Não queria falar sobre isso, tinha de ver como Rebbeca estava. Ela escolheu o esparadrapo. Se arrumou, se vestiu e saiu do quarto. Bestial a esperava, ela parou em frente a ele.
"Quero ver Rebbeca." Ele acenou.
Eles saíram para o estacionamento, ele a ajudou a subir num jipe, ela se sentou, ele subiu também e começou a dirigir. Eles fizeram todo o trajeto em silêncio, ela se recostou no banco.
Chegaram na casa dela, Mônica não sentiu o cheiro de Rebbeca, nem de ninguém.
Mas ela entrou, ela e Bestial podiam conversar, era importante.
"Onde estão os filhotes?" Ela perguntou indo para seu quarto.
Ele entrou e cruzou os braços, Mônica se sentou na cama.
"Ainda na casa do Leo. Vou ligar para lá e vão trazê-los." Ela acenou, sentia falta de Bernie. Dos outros também, mas mais dele.
"E onde Rebbeca está?" Ele suspirou.
"Você não vai descansar até que a veja, não é?" Ela acenou.
"Mas eu gostaria de saber uma coisa." Ela acenou.
"Tem vergonha de ser Nova Espécie?" Ele perguntou se sentando perto dela.
Mônica olhou para as mãos em seu colo.
"Não. Não hoje, mas já tive. E você viu..." Ela disse.
"Eu não vi nada demais." Ele disse pegando uma das mãos dela. Mônica apertou a mão dele, ele entrelaçou os dedos deles.
"Você alguma vez olhou para mim quando eu estava disfarçada? Se lembra de quantas vezes conversamos?"
Ele olhou para cima.
"Conversar? Acho que conversar mesmo, não, não conversamos, ou não me lembro." Ela assentiu.
"Duas vezes." Você precisava de camisinhas, mas das que vocês usam, e estava com pressa, se lembra?" Ela o encarou, ele sorriu.
"Ah, sim, mas não foi uma conversa. Foi só..."
"Entendeu agora?" Será que se a minha aparência fosse a atual, você se lembraria?" Ela perguntou.
"Onde quer chegar?" Ela suspirou, cansada.
"Eu escondi a minha calda a vida inteira, pois eu convivi com humanos desde muito nova. Quando fui para Homeland, eu queria voltar a viver com Dean. Eu disse que iria, descobriria sobre meu pai, mas voltaria. Então, um namorado antigo dele, maquiador, me fez aquela maquiagem, colocou aquelas coisas no meu rosto, eu não queria que soubessem que eu era Nova Espécie, por que Dean, bom, ele é um chato, mas ele é como um irmão pra mim, eu tinha resolvido voltar." Ela não queria viver com os Novas Espécies por que ela acreditava que teriam pena dela, ou pior: não sentiriam desejo por ela, ela terminaria seus dias tão sozinha quanto ela já era no mundo dos humanos.
"Mas não achei nada e Dean ajudou Evan, ele pegou Harrison. Eu não concordei com isso, então, eu fiquei em Homeland, até tomar coragem para contar a verdade. Eu via que me achavam feia, talvez não tenha sido isso, eu não era muito amigável quando cheguei lá, mas ninguém se aproximou de mim. A doutora Alli, Destiny, Paul, o pessoal do hospital, sempre foram bons pra mim, mas não éramos amigos. Quando eu conversei com você, você nem me olhou nos olhos." Ela disse.
"Eu estava com pressa, foi só uma conversa a toa." Ela entendia.
"Eu fui me envolvendo em uma teia de mentiras, e depois ficou difícil me livrar. Mas a calda... Bom, você viu."
Bestial a encarou.
"Você acha então que não fez amizades, ou não compartilhou sexo com ninguém por que estava feia. E que mesmo você sendo linda, a sua calda iria afastar os machos." Ele resumiu.
"Não. Não totalmente. Eu sei que você precisa sentir atração por outra pessoa para fazer sexo, não os culpo por não se sentirem atraídos por mim, é só que agora, que me acham bonita, até o tratamento mudou. Eu continuo a mesma Mônica, Bestial, eu não sou boa em fazer amigos, eu acho que nem tenho senso de humor! Mas agora, mesmo eu sendo uma chata, basta eu estalar os dedos que apareceria alguém disposto a dormir comigo." Ele acenou.
"Estale os dedos." Ele disse, ela sorriu.
"O que eu quero dizer é que quando eu não era atraente, eu fui tratada de uma forma, e tudo bem, mas a minha calda! Você a viu!" Ela não conseguia falar sobre sua calda, isso era um fato.
"Eu não quero que me olhem com pena. Eu não quero nem mesmo ter de explicar, eu não quero!" Ela disse.
"Então assim será." Ela balançou a cabeça.
"Mais uma mentira, em que sou pega, Bestial. Eu me fingi de humana, depois eu disse que era de primeira geração, que eu fui implantada mais tarde. Depois eu confessei que eu era de segunda geração e que estava aqui atrás do meu pai, mas só por que Honest me chantageou, e eu fui meio que obrigada a contar, eu não podia ficar a mercê dele." Bestial rosnou.
"Honest te chantageou?" Ele a olhou com os olhos duros. Mônica nunca imaginou que ele não gostasse de Honest, todos amavam Honest.
"Sim, ele queria que eu seduzisse Thorment. Eu não consegui, é claro. Na verdade, eu acho que ele usou alguma coisa em mim, eu quase cheguei a fazer sexo com Thorment." Rebbeca se lembrou dela, tocando em Thorment. Foi tão estranho, ela ficou meio louca!
"E você e ele são amigos a ponto dele querer largar as provas e vir pra cá vê-la?" Ele aumentou o tom de voz. Mônica se assustou.
"Ele me contou quem era o meu pai! Ninguém conseguiu isso, ele sabia desde o início. Ele me levou no túmulo dele, ele foi..." Mônica se lembrou de Honest. O Honest que a levou no túmulo de seu pai, Hills, e o Honest que passou o último inverno no zoológico. Totalmente diferentes.
Bestial inspirou fundo, parecia estar tentando se acalmar.
"Certo. Thorment estava vinculado a Marlena, não iria querer você e foi por isso que sua sedução não deve ter dado certo." Ele disse, quase que para si mesmo.
"Eu não sei seduzir." Ela disse.
"Você não precisa saber, basta respirar o ar perto de um macho, ele vai se excitar. Você é..."
"Linda? Isso está prestes a mudar." Todos iriam saber, na verdade já deveriam saber.
"Não. Eu disse a Florest e a Chimes que não contassem. Eles não vão contar, concordaram que se você quisesse que soubessem não esconderia, e não é como se fosse da conta deles." Ele disse.
Mônica ficou em dúvida.
"Você contaria?" Bestial vendo a dúvida no rosto dela, perguntou.
"Não, mas eu sou médica. Existe o sigilo médico paciente." Florest também era médico. Chimes era enfermeira. Os dois tinham ética, ela os conhecia.
"A única pessoa que decide se mostra a sua calda ou não é você." Ele disse os olhos intensos. Mônica sentiu vontade de chorar. Bestial a pegou fazendo algo que ele desprezava, mas não a julgou, pelo contrário, se certificou de que ela tivesse uma escolha.
"Obrigada." Ela disse. Ela se achegou a ele e o beijou na boca de leve, ele rosnou.
"Desculpa, eu só..." Ele sorriu.
"Não, é que se você soubesse o quanto estou..." Ele não terminou.
"Eu sei. Eu fui indigna, mas eu posso explicar." Mônica respirou fundo.
"Sobre o que está falando?" Ele perguntou.
Mônica se levantou. Talvez fosse melhor mostrar. Ela tirou a calça de moletom, a camiseta era grande, terminava no meio de suas coxas. Ele se levantou.
Ela começou por baixo. Esparadrapo não era o ideal, uma faixa de gase era o indicado, mas ela só queria sair do hospital.
Ela se sentou, de lado, e foi puxando o esparadrapo, doeu, tinha uma fixação muito forte. Bestial se abaixou a frente dela e foi puxando. Ela deixou.
Ele fez com cuidado, mas doeu. Quando terminou de tirar o esparadrapo de sua panturrilha, ele beijou sua perna, onde a cola do esparadrapo machucou. Ele chegou a coxa, e continuou, Mônica sabia que ele estaria sentindo o cheiro de excitação dela, mas ele parecia concentrado em tirar todo o esparadrapo, sem machucá-la. E ele chegou em sua bunda, retirou o último e se afastou.
Mônica o encarou, ele não parecia enojado, isso era uma coisa boa.
"Por que é diferente da de Rebbeca? Ficou assim por que você a prendeu?" Ele perguntou. Mônica fechou os olhos.
"Está quebrada." Ela disse baixinho.
Ele ergueu o rosto dela, ela abriu os olhos.
"Eu não gosto de ter calda, e ainda mais assim. Eu sinto tanta vergonha, só de pensar em que estariam me olhando, vendo o quanto é feio!"
Ele não disse nada. Ao invés, a beijou.
Como ela o tinha beijado, de leve, saboreando os lábios dela, devagar. Mônica fechou os olhos, ele retirou a camiseta pela cabeça dela, ela até ergueu os braços. Ela ficou nua, ali, a frente dele, ele se aproximou, colou os corpos, a abraçou e disse, a boca na dela:
"Se fosse algo tão feio, ou tão nojento, eu estaria assim?" Ele perguntou e colocou a mão dela sobre o pênis dele.
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BESTIAL
FanfictionO que de errado poderia acontecer em duas semanas? Foi o que Bestial pensou ao ter de ficar no zoológico da Reserva por causa de uma reportagem. Era por uma boa causa, não tinha nada a ver com os lindos olhos azuis de uma determinada fêmea. Bestial...